Todo leitor, em algum momento, passa por aquele livro que o deixa profundamente impactado, que gera aquele “trauma” que o fará se lembrar da história pelo resto da vida. São poucos os livros que conseguem isso. Abaixo faço uma relação de cinco deles. Espero que gostem e, se tiverem a oportunidade, leiam!

BEM-VINDOS AO PARAÍSO: Em um resort opulento em Montego Bay, Margot se esforça para manter Thandi, sua irmã mais nova, na escola. Ensinada na infância a usar a sexualidade para sobreviver, Margot está determinada a proteger Thandi do mesmo destino. Quando os planos de um novo hotel ameaçam sua vila, Margot vê além da oportunidade de independência financeira; vê também a chance de admitir um segredo chocante: seu amor proibido por outra mulher. Encarando a destruição iminente da comunidade, essas mulheres precisam enfrentar suas cicatrizes escondidas ― enquanto equilibram seus fardos e a liberdade que almejam. Capturando os ritmos peculiares da vida e idioma jamaicanos, Nicole Dennis-Benn escreve um hino sensível ao mundo escondido entre as intocadas praias jamaicanas, a vasta extensão do mar turquesa e o olhar enviesado dos turistas que o vê apenas como um paraíso. – É um drama intenso, com personagens no limite do abismo, consumidos pelo preconceito e pelo racismo de onde vivem, com atos de ambição que destroem as pessoas, inclusive as que amam. Uma obra impactante, dolorosa, com um final realista, com a mensagem de que, às vezes, os objetivos deixam a pessoa cega e sem aquilo pelo qual ela achou que lutava. E quando a pessoa consegue enxergar, já é tarde demais. Ou não se importa mais. O final, quando Margot finalmente compreende que independentemente do que faça, nunca será valorizada pela irmã e toma uma decisão fria com relação ao destino da mesma, é absurdamente traumático! Tem resenha aqui.

O MENINO DO PIJAMA LISTRADO: Bruno tem nove anos e não sabe nada sobre o Holocausto e a Solução Final contra os judeus. Também não faz idéia que seu país está em guerra com boa parte da Europa, e muito menos que sua família está envolvida no conflito. Na verdade, Bruno sabe apenas que foi obrigado a abandonar a espaçosa casa em que vivia em Berlim e a mudar-se para uma região desolada, onde ele não tem ninguém para brincar nem nada para fazer. Da janela do quarto, Bruno pode ver uma cerca, e para além dela centenas de pessoas de pijama, que sempre o deixam com frio na barriga. Em uma de suas andanças Bruno conhece Shmuel, um garoto do outro lado da cerca que curiosamente nasceu no mesmo dia que ele. Conforme a amizade dos dois se intensifica, Bruno vai aos poucos tentando elucidar o mistério que ronda as atividades de seu pai. O menino do pijama listrado é uma fábula sobre amizade em tempos de guerra, e sobre o que acontece quando a inocência é colocada diante de um monstro terrível e inimaginável. – Apesar da intensidade da história, a real vítima, Shmuel é relegado a segundo plano e o autor dá mais evidência a Bruno. Por conta desse equívoco, existe o trauma da conclusão da história com o destino óbvio de Shmuel, e o fato de que esse destino é jogado de lado para descrever a tristeza de Bruno.

TERRA FAMINTA: Quando o filho de cinco anos de Juliette e Richard morre de repente após cometer uma série de atos inexplicáveis de violência ― instigado, segundo ele, por uma voz misteriosa ―, o mundo dos dois desmorona. Seis meses depois, Juliette se recusa a sair de casa e passa os dias fazendo gravações no quarto do filho, esperando conseguir provas de que ele continua lá. Enquanto isso, Richard tenta ao máximo não pensar no menino e volta a atenção para o terreno do outro lado da rua, o qual escava pacientemente, em busca de fragmentos de um carvalho lendário. Assombrados por um presente doloroso e uma expectativa interrompida de futuro, os dois são confrontados pela estranheza e pela solidão de um lugar agora tomado pelo sofrimento. De um lado, o luto deixa cada vez mais clara a distância que os separa; de outro, eles buscam desesperadamente uma ponta de esperança ― apenas para desenterrar um profundo terror. – Esse é daqueles livros de terror onde não existem monstros, espíritos horrendos, portas abrindo, objetos caíndo, e qualquer outro clichê do gênero. O terror é totalmente psicológico, as ações dos personagens é que metem medo, e o leitor nunca sabe se é devido à loucura dos mesmos, ou se realmente existe uma entidade por trás de tudo. Até o final. Nada prepara o leitor para a conclusão dessa história, quando a personagem principal está sentada em uma cadeira fazendo algo que arrepia só de lembrar. Tem resenha aqui.

LONEY: Quando os restos mortais de uma criança são descobertos durante uma tempestade de inverno numa extensão da sombria costa da Inglaterra conhecida como Loney, Smith é obrigado a confrontar acontecimentos terríveis e misteriosos ocorridos quarenta anos antes, quando ainda era criança e visitou o lugar.À época, a mãe de Smith arrastou a família para aquela região numa peregrinação de Páscoa com o padre Bernard, cujo antecessor, Wilfred, morrera pouco tempo antes. Cabia ao jovem sacerdote liderar a comunidade até um antigo santuário, onde a obstinada sra. Smith crê que irá encontrar a cura para o filho mais velho, um garoto mudo e com problemas de aprendizagem. O grupo se instala na Moorings, uma casa fria e antiga, repleta de segredos. O clima é hostil, os moradores do lugar, ameaçadores, e uma aura de mistério cerca os desconhecidos ocupantes de Coldbarrow, uma faixa de terra pouco acessível, diariamente alagada na alta da maré. A vida dos irmãos acaba se entrelaçando à dos excêntricos vizinhos com intensidade e complexidade tão imperativas quanto a fé que os levou ao Loney, e o que acontece a partir daí se torna um fardo que Smith carrega pelo resto da vida, a verdade que ele vai sustentar a qualquer preço. – Outro terror totalmente psicológico e o segundo de Andrew Michael Hurley nesta lista. A narrativa é lenta, minuciosa, mas feita com uma intensidade tão grande, que o leitor sente, parágrafo a parágrafo, que algo está errado, algo está prestes a acontecer. E realmente acontece, quando menos se espera. A conclusão é assustadora, marcante, um soco no estômago. Tem resenha aqui.

A CACHORRA: Desde muito cedo, a vida de Damaris é marcada por tragédias e, apesar da companhia de Rogelio, carrega uma solidão que talvez tivesse sido aplacada pelo filho que nunca conseguiu ter. Cuidar da casa de veraneio há muito abandonada pela família Reyes ocupa seus dias, alivia sua consciência pelo que sente ter sido omissão sua no passado, mas nada disso lhe traz conforto. Quando, num rompante, decide adotar a cachorra da ninhada de uma vizinha, Damaris tem a chance de desviar um pouco o foco das tentativas frustradas de engravidar. A fêmea que agora circula pela casa modesta faz aflorar instintos protetores e violentos, emoções díspares e profundas que supostamente só poderiam ser despertadas pela maternidade. A força e a intensidade dessa relação alteram tão drasticamente as dinâmicas de sua existência que Damaris já não sabe se a simples presença da cachorra fez sua vida ganhar ou perder, de uma vez por todas, o rumo. – Pilar Quintana, de forma hábil, constrói uma Damaris que o leitor se compadece pelo sofrimento que a acompanha desde a infância. Com a chegada da cachorra, Pilar Quintana começa a desconstruir Damaris, demonstrando como uma pessoa, totalmente fragilizada, pode ser levada ao extremo e se transformar em um monstro. Até o ponto em que o monstro olha no espelho e enxerga no que se transformou. Mas pode ser tarde demais. É uma leitura angustiante, de um horror que incomoda, que faz pensar, que demonstra como o ser humano é imperfeito, frágil, e de como é facilmente levado para um lado de pura crueldade. E de como, quando confrontado com isso, o remorso pode ser mortal. Uma leitura incrível e inesquecível! Tem resenha aqui.