De onde viemos? Para onde vamos? Robert Langdon, o famoso professor de Simbologia de Harvard, chega ao ultramoderno Museu Guggenheim de Bilbao para assistir a uma apresentação sobre uma grande descoberta que promete “mudar para sempre o papel da ciência”.

Em meio a fatos históricos ocultos e extremismo religioso, Robert e Ambra precisam escapar de um inimigo atormentado cujo poder de saber tudo parece emanar do Palácio Real da Espanha. Alguém que não hesitará diante de nada para silenciar o futurólogo. Numa jornada marcada por obras de arte moderna e símbolos enigmáticos, os dois encontram pistas que vão deixá-los cara a cara com a chocante revelação de Kirsch… e com a verdade espantosa que ignoramos durante tanto tempo.

O sucesso de um livro, às vezes, pode ser mais prejudicial do que benéfico. Principalmente quando o sucesso é enorme, como aconteceu com “O Código Da Vinci”, um livro praticamente perfeito dentro do seu estilo. Dan Brown tentou repetir o feito com “O Símbolo Perdido”, que, apesar de interessante, ficou bem abaixo do anterior. Já Inferno, o livro seguinte, mostrou que o autor parecia estar sem boas ideias, já que grande parte da história mais parece um guia turístico, e a trama que sustenta os poucos acontecimentos é fraca.

Então, chegamos a “Origem”, seu lançamento mais recente. Nele, Brown ainda tenta repetir a fórmula que o consagrou, mas, desta vez, parece mais tranquilo, sem tanta pressão, e consegue criar novidades e abordar temas atuais que passam uma sensação de esperança e conseguem emocionar.

Edmond Kirsch, um cientista ateu muito famoso, faz uma descoberta que pode abalar todas as religiões. Robert Langdon acaba se envolvendo na história. Ambra Vidal, noiva do príncipe Julián e futura rainha da Espanha, é a curadora do museu onde a descoberta será revelada. O bispo espanhol Valdespino, junto com um rabino e um erudito muçulmano, se posicionam contra a revelação e se mostram preocupados com as possíveis consequências. Um almirante aposentado é contratado para eliminar Kirsch. Para quem já leu os últimos livros de Brown, o cenário é familiar: mudam apenas os nomes dos personagens.

Mesmo assim, “Origem” consegue trazer um pouco de novidade. O leitor não é mais bombardeado com descrições longas de pontos turísticos, já que a história se passa em poucos lugares.

A Igreja Católica, representada pelo bispo Valdespino, aparece inicialmente como a grande vilã, mas há surpresas no caminho. O trecho final entre o bispo e o rei da Espanha é muito sensível, com um carinho que dá um toque importante à história.

O almirante espanhol também não é simplesmente um vilão. Seus motivos para aceitar a missão levantam reflexões atuais sobre o que vem acontecendo na Europa em relação aos atentados terroristas.

Ambra, a futura rainha, não é retratada como uma mulher frágil. Pelo contrário: é forte, toma suas próprias decisões, mesmo quando vai contra o príncipe, e não fica esperando Langdon salvá-la. Ela mesma age para se proteger e seguir em frente.

Kirsch, o personagem que provoca toda a trama, representa um tipo muito comum hoje: pessoas que alcançam sucesso graças à inteligência e ao trabalho duro.

E então, temos Winston, um personagem que ainda não citei, mas que, até o final do livro, se torna o mais importante. Winston é uma inteligência artificial que conversa e ajuda Langdon durante toda a história. Ele lembra bastante o computador HAL 9000, do livro “2001: Uma Odisseia no Espaço”, mas se comunica de forma mais natural. Muitas das ações que Winston realiza são possíveis hoje em dia, então não estranhe o que vai ler. Mas o papel dele na história vai muito além de apenas ajudar Langdon a resolver problemas.

Só para dar um exemplo: em 2017, a FAIR (Facebook AI Research), uma divisão de pesquisas do Facebook, estava treinando uma inteligência artificial para simular negociações entre dois agentes financeiros fictícios. O programa foi feito para que os agentes conversassem em inglês e chegassem a acordos que fossem bons para os dois lados.

Com o tempo, os agentes começaram a modificar o inglês, criando uma linguagem própria, mais eficiente para eles, mas difícil de entender para nós. Isso não foi algo feito de forma consciente, foi apenas uma adaptação para otimizar as negociações.

Como o objetivo da pesquisa era manter o inglês claro e compreensível, os pesquisadores decidiram encerrar aquele experimento. Não houve perigo ou comportamento fora de controle, apenas uma escolha prática para continuar com o propósito original do estudo.

Sabendo disso, é mais fácil acreditar no que acontece com Winston em “Origem”. A tecnologia está evoluindo rápido, e já estamos perto do momento em que inteligências artificiais serão capazes de tomar decisões por conta própria, mesmo que isso envolva questões éticas ou consequências difíceis.

Eu vejo Dan Brown como um dos autores mais criativos da atualidade. Ele tem uma maneira envolvente de escrever e sabe criar no leitor aquela ansiedade de querer virar mais uma página. Infelizmente, ele parece preso a uma fórmula que limita suas ideias. Como fã, torço para que ele perceba que pode criar novas histórias e mistérios sem precisar seguir sempre o mesmo caminho. “Origem” mostra que ele ainda consegue inovar, mesmo se mantendo preso a um modelo por costume ou receio.

Ah, e quanto à tal revelação bombástica: ela acontece, sim. Mas, ao contrário do que se pode imaginar, não é algo que vá destruir as religiões. Mesmo assim, é uma ideia interessante e atual, que faz o leitor refletir bastante. E, se você ficar em dúvida sobre a seriedade do que é apresentado, basta fazer uma pesquisa rápida no Google sobre o cientista que Kirsch menciona. Você vai encontrar diversos estudos e pesquisas reais sobre o tema.

O mais curioso é que, para quem acha que Brown quer atacar a religião ou a ideia de Deus, o autor, no final, faz Langdon apresentar um raciocínio que complementa a descoberta de Kirsch, reforçando a importância da fé. E isso é realmente muito bom.


AVALIAÇÃO:


AUTOR: Dan Brown
TRADUÇÃO: Alves Calado
EDITORA: Arqueiro
PUBLICAÇÃO: 2017
PÁGINAS: 432
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