Tudo o que Yeine sabia sobre Céu eram as histórias aterrorizantes, mas logo ela percebe que a realidade é ainda pior. A jovem Yeine é convocada para a majestosa cidade Céu, onde, para sua surpresa, é nomeada herdeira do rei Dekarta Arameri, o avô que jamais conheceu. Antes de seu nascimento, sua mãe abandonou a realeza para viver um grande amor, deixando para trás também a família, o sobrenome, o legado e, principalmente, as intrigas envolvendo a família Arameri. Deserdada e distante, ela não preparou Yeine para a vida no palácio, que além de abrigar a família mais poderosa dos cem mil reinos, serve de prisão para deuses de verdade.

Yeine não esperava cruzar com os deuses nos corredores do palácio e muito menos que eles tivessem que satisfazer as vontades e caprichos de seus parentes (e rivais) mais poderosos. O trono dos cem mil reinos não é fácil de ser conquistado e Yeine precisa sobreviver em meio a segredos, traições, magia e o interesse dos deuses por ela. Em especial, o mais perigoso de todos, Nahadoth, também conhecido como Senhor da Noite, o primeiro ser vivente do universo.

OS CEM MIL REINOS pode parecer ter um enredo clichê de fantasia, mas a construção do mundo e a atenção da autora para os detalhes, transformam a história em algo mais do que apenas mais uma fantasia. Após muito tempo da guerra de deuses, os deuses perdedores foram escravizados pelos mortais. A narrativa segue a relação de Yeine com esses deuses subjugados, enquanto ela precisa lidar com tramas políticas e investigar o passado da própria família, envolta em segredos.

Vale destacar um outro ponto, bastante importante até, sobre uma construção bem diferente da maioria das fantasias para adolescentes. Yeine tem a pele marrom, ela não se considera bonita e nem dá importância para a aparência, além de que o gênero e a sexualidade dos personagens são fluídos, dando destaque para a diversidade. Yeine faz parte de uma sociedade bárbara matriarcal que, historicamente, trata os homens da mesma forma que as mulheres são tratadas na nossa realidade. Esse paralelo, e algumas partes em específico, podem surpreender.

Com relação à trama, ela segue uma sequência não convencional. A autora insere segmentos e diálogos, além de mudança de perspectivas, que em princípio não fazem muito sentido, até que o leitor avança na leitura e, conforme os eventos se revelam, as coisas começam a se encaixar. Muitos trechos são escritos com a finalidade de confundir o leitor, criando uma tensão que aumenta com o virar das páginas. No final, você sentirá que leu uma fantasia diferente, forte, com uma história que consegue se destacar no meio de um gênero que eu já pensava estar esgotado. Boa leitura!


AUTORA: N.K. JEMISIN
TRADUÇÃO: Ana Cristina RODRIGUES
EDITORA: Galera
PUBLICAÇÃO: 2021
PÁGINAS: 378


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