Há dois séculos, três irmãs foram condenadas à morte por, supostamente, cometer bruxaria. Pedras foram amarradas em seus tornozelos, e elas morreram afogadas nas águas profundas que margeiam a cidade. Agora, por um breve período de tempo – a cada dia primeiro de junho até o solstício de verão –, diz a lenda que as irmãs retornam, roubando os corpos de três meninas para que, por meio deles, possam buscar sua vingança, seduzindo e afogando meninos até a morte.

Como muitos habitantes locais, Penny Talbot conhece a lenda de cor. Mas, neste ano, quando a cidade se prepara para o anual retorno das irmãs, um rapaz desconhecido, Bo Carter, chega à cidade buscando suas próprias respostas. E Penny o acolhe.

A narrativa de A MALDIÇÃO DO MAR é em primeira pessoa, feita por Penny, com alguns capítulos alternados em terceira pessoa, quando os eventos do passado sobre as três irmãs são contados aos poucos.

Penny e a mãe moram em uma pequena ilha, perto da costa, onde mantêm um farol em funcionamento. O pai de Penny desapareceu poucos anos atrás, sem deixar qualquer pista do motivo. A mãe de Penny fica com o psicológico abalado e passa os dias andando pela pequena ilha, apenas esperando pelo marido, que nunca retorna. Ela parece ter uma conexão com o local, algo que não é possível explicar racionalmente.

Penny passa os dias na ilha do farol e só vai ao continente, usando seu pequeno barco, para frequentar a escola ou se encontrar com sua melhor amiga, Rose. Logo no início da história, Penny conhece Bo, que acabou de chegar na cidade e procura emprego. Penny havia anunciado uma vaga de ajudante para cuidar do farol, mas fica receosa em aceitar um completo estranho. Mas muda de ideia, quando na festa na praia, que marca o início do período da lenda sobre as irmãs Swan que retornam para levar garotos, Bo a salva de um garoto bêbado que queria forçar Penny a entrar no mar.

Bo afirma que chegou à cidade sem qualquer motivo, apenas porque era o ponto final do ônibus onde viajava. É bastante óbvio que isso não é inteiramente verdade, que ele tem um objetivo para estar na cidade e justamente na época das irmãs Swan. Mas a autora não tem a intenção de disfarçar essa obviedade, ela é intencional para aguçar a curiosidade do leitor.

Da mesma maneira, é óbvio que Penny esconde algo em sua narrativa, e ela vai soltando pequenas pistas no decorrer dos capítulos. Uma palavra ali, outra aqui, que parecem estranhas ou fora do lugar, mas que farão muito sentido até o final da história. Bem como também a relação que ela mantém com a mãe, algo que mistura estranheza com conformismo, mas sem um motivo evidente.

Rose e Heath, seu namorado, são os outros dois personagens mais constantes da história, entretanto eles apenas servem como ponto de apoio ou ligação entre fatos. Não possuem qualquer desenvolvimento, mas como estão quase sempre presentes, por um motivo ou por outro, acabam sendo inseridos de forma orgânica e, sinceramente, não senti necessidade de saber mais do que era informado.

Po e Penny, claro, durante os eventos que acontecem no período das irmãs Swan, as mortes de garotos e a investigação sobre quem são as culpadas, acabam se envolvendo romanticamente. Ao contrário de muitos livros que forçam essa situação entre dois personagens principais, muitas vezes sem uma real necessidade, em A MALDIÇÃO DO MAR existe, sim, um enorme e importante motivo. Diria que é até essencial que eles se apaixonem, porque a resolução final para o mistério e a culpabilidade das assassinas, depende desse amor entre o casal.

Até o final da história, o leitor descobre quem são as garotas possuídas pelas irmãs Swan, descobrem tudo o que realmente aconteceu duzentos anos atrás, descobrem o passado de Bo e o motivo dele ter ido à cidade, fica sabendo o que aconteceu com o pai de Penny, bem como quais são os segredos que envolvem Penny e sua mãe. Acontecem sacrifícios, decisões que apertam o coração, com uma conclusão justa, verdadeira, que deixa um gosto amargo na boca, mas a certeza de que teria que ser dessa forma.

A MALDIÇÃO DO MAR surpreende com uma história simples sobre preconceito, ciúme, amor e vingança, mas com todos esses ingredientes bem divididos, embora totalmente conectados, em doses que emocionam e que permitem conquistar o leitor. A mensagem que fica é a de que, por maior que seja o desejo de vingança, o ódio, um amor verdadeiro, puro, pode mudar uma pessoa. Depois de terminar a leitura da última página, pelo menos para mim, Bo, Penny e mais uma personagem surpresa, entraram para a memória dos personagens inesquecíveis de todos os livros que já li. Espero que você sinta o mesmo.


AVALIAÇÃO:


AUTORA: Shea Ernshaw
TRADUÇÃO: Octavia Alves
EDITORA: Galera
PUBLICAÇÃO: 2021
PÁGINAS: 320