A autora que não sabe o que é férias acata novamente. Cassandra Clare está aqui novamente para enriquecer ainda mais o seu vasto império que gira em torno dos CAÇADORES DE SOMBRAS, os soldados angelicais em sua eterna luta contra demônios. Estamos no meio de uma nova trilogia e O LIVRO BRANCO PERDIDO vem para firmar ainda mais esse universo expandido. Vem que conto tudo!

OBS: O texto pode conter spoliers dos livros anteriores da saga!

A nova trilogia nomeada AS MALDIÇÕES ANCESTRAIS tem foco total no casal Magnus e Alec, um feiticeiro imortal e um mortal caçador de sombras. O primeiro livro se focava no início do romance do casal que precisava resolver enormes problemas no meio de uma viagem romântica. Avançando no tempo, Cassandra entrega dessa vez uma narrativa que se passa depois dos eventos da saga INSTRUMENTOS MORTAIS, a obra que originou tudo. Dessa vez Magnus e Alec vivem bem e estão mais felizes do que nunca criando seu pequeno filho. Mas a calmaria é destroçada quando um amigo desaparecido de Magnus aparece em sua porta, junto com outra feiticeira perigosa para lhe atacar e roubar um poderoso livro de feitiços. Ambos estão estranhos e parecem estarem sendo controlados por alguma força maior. Para Magnus agora lhe resta seguir os passos desses dois para recuperar o livro mágico, entender o que está acontecendo, ao mesmo tempo em que precisa lidar com um estranho machucado em seu peito, fruto da luta entre ele e os feiticeiros possuídos.

Pra quem é fã desse universo, a leitura resolve algumas pontas que ficaram soltas e que de fato eram muito intrigantes. Principalmente por causa do seu prólogo que volta ao meio da saga INSTRUMENTOS MORTAIS e nos detalha tudo o que envolve o desaparecimento de um feiticeiro e a subsequente morte que lhe foi atribuída. Claro que esse primeiro capítulo não está ali sem um propósito, toda a narrativa vai explorar as consequências em volta desse episódio que abre margem para um ápice até mesmo grande demais para esse livro.

Essa nova trilogia que é conhecida pelos fãs como os livros do “Malec”, que é o ship entre os personagens Magnus e Alec, nasceu com o propósito muito legal de serem livros de aventura voltado para jovens com personagens LGBTQ+ como protagonistas. O primeiro volume é tudo isso, o romance, o companheirismo, as vivências e tudo o que ela traz nesse universo que é muita ação e mistérios. Já nesse segundo volume, o conflito interno dos personagens tem pouco destaque, já que dessa vez temos uma trama tão grande e complexa que precisou juntar praticamente todos os personagens famosos das sagas anteriores, e quando se tem tanta gente assim, uma trama tão grande em apenas um pouco mais de trezentas páginas, algumas coisas acabam ficando sem o seu devido destaque necessário.

A volta de praticamente todos os protagonistas da saga INSTRUMENTOS MORTAIS e seus coadjuvantes famosos, tira o foco de Magnus e Alec que se tornam apenas mais uns personagens em meio a tanto que já conhecemos e amamos. Sim, eles ainda são os protagonistas, mas a trama agora gira em torno de uma possibilidade real de desgraça entre o casal, fora a separação entre eles e seu filho pequeno, os personagens precisam lidar com muitas coisas, coisas essas apenas citadas e nunca aprofundadas. Outra coisa que não valoriza a narrativa é a sua trama enorme apocalíptica que parece um remake da saga anterior. Novamente um perigo enorme, com possibilidade de fim de mundo, ida ao inferno, sacrifício, traições, jogo duplo e muito daqueles salvamentos milagrosos onde tudo parecia perdido até aparecer uma solução caída do céu, aterrizando nada suavemente no meio do caos.

Me senti lendo novamente CIDADE DO FOGO CELESTIAL, o livro encerramento da saga INSTRUMENTOS MORTAIS. Esse livro é incrível, mas era o último de uma série de seis volumes que era mesmo para ser grandioso e épico, fora ter mais de quinhentas páginas de extensão. A sensação que fica é que O LIVRO BRANCO PERDIDO tenta emular tudo isso em duzentas páginas a menos com o ponto de vista apenas em outros personagens. Longe de ser ruim, para o fã desse universo, ainda dá pra aproveitar bastante essa aventura aos moldes de tudo o que já vimos e de fato os desdobramentos são legais, mas a proposta dessa nova trilogia parecia ser outra e essa mudança brusca de fato causa um estranhamento.

Um oceano separa o tom do primeiro livro dessa trilogia com esse novo segundo volume que está para análise agora. A autora já domina completamente a sua fórmula e mesmo dividindo a autoria com Wesley Chu, a atmosfera é a mesma, o leitor nunca se sente deslocado. Um pouco de novidade na narrativa cairia muito bem, mas o resultado final é válido. Dessa vez a trama não parece se encerrar de vez e deixa coisas para serem resolvidas no próximo e último capítulo dessa trilogia. Ainda dá pra correr atrás de todas as pendências e deslizes, mas o fã pode ter pelo menos uma certeza de que ele nunca vai ficar muito tempo longe de seus personagens favoritos, pois os mesmos sempre voltam para nos visitar.


AUTORA: Cassandra CLARE e Wesley CHU
TRADUÇÃO: Mariana KOHNERT
EDITORA: Galera
PUBLICAÇÃO: 2021
PÁGINAS: 316


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