Estamos passando por um momento horrível, quase sem precedentes dentro dessa geração, e quero que levante a mão quem ai não deu uma surtada durante esses quase dois anos de pandemia. Sentindo que todo mundo precisa de uma ajuda nesse momento, a HBO resgata um antigo sucesso da sua grade, a série EM TERAPIA, que já teve até versão aqui no Brasil. A original que era estrelada por um homem foi muito aclamada e premiada, mas agora temos a mesma temática comandada por uma mulher negra que assume o posto de terapeuta de três pacientes ao mesmo tempo em que precisa lidar com seus grandes demônios internos. Chega mais que te conto tudo!

O esquema da série é simples, cada episódio é uma sessão com um paciente diferente. Cada episódio tem mais ou menos trinta minutos de duração, que passam voando, e cada personagem tem seis sessões individuais. Além dos três pacientes, a própria terapeuta tem também suas seis sessões para resolver seus próprios problemas que não são poucos. A quarta temporada da série ganhou uma nova protagonista, a premiada Uzo Aduba, estrela da já clássica série da Netflix, ORANGE IS THE NEW BLACK, a icônica Crazy Eyes. Não é preciso ter visto as temporadas anteriores para prestigiar essa nova roupagem que a série ganhou, então não tem desculpas para não ir lá conferir.

Os pacientes são bem diferentes entre si, um deles é um homem branco que já foi muito rico e poderoso, acabou sendo preso por fraude e agora as sessões de terapia são para firmar ou não a sua liberdade que no momento é condicional. O homem é problemático, machista e sem limites, fruto da sua criação e vida que levou. O desmonte emocional que o personagem sofre é muito grande e extremamente bem cronometrado. A segunda paciente é uma jovem negra rica que, segundo a sua avó protetora, está perdida no mundo. A avó acha que os problemas da neta são por ela possivelmente ter uma namorada, a terapia ao seu olhar visa “consertar” esse erro fazendo a jovem deixar de ser louca. Mas conforme as sessões avançam, o espectador entende que claramente tem algo errado nessa história. A terapeuta acaba se envolvendo bastante nesse caso e se vê muito na jovem que tem pesados traumas da infância que lhe atormentam até os dias de hoje.

O terceiro e último paciente é um jovem latino que trabalha como cuidador na casa de pessoas ricas. Ele mora no trabalho, algo que não é nada fácil, e acabou de ser diagnosticado com bipolaridade de uma forma suspeita. Os patrões lhe pagam as sessões de terapia para que o mesmo consiga remédios para controlar suas dificuldades, talvez a maior delas é dormir, algo que o rapaz quase não consegue fazer. Ele é o primeiro paciente, a porta de entrada que o público tem com a série e o mesmo já começa ligando para a terapeuta no meio da madrugada para conversar.

Uma diferente relação entre paciente e terapeuta nasce entre ambos, já que o rapaz desperta em Brooke, a terapeuta, diversos gatilhos. Ele é jovem e está sozinho no mundo, precisa de ajuda para não cair e Brooke quer muito ajudar o rapaz, mas é difícil esquecer dele ao final de cada sessão que fica mais intensa e pesada a cada novo encontro. Brooke tem seu próprio trauma para lidar, que gira em torno da morte recente do seu pai. Isso desperta em Brooke lembranças pesadas, como a sua gravidez na adolescência e a subsequente perda do seu filho recém-nascido que foi para alguma outra família que nem ela sabe o paradeiro. E junto disso ela precisa lidar com seu alcoolismo, algo que ela tem extrema dificuldade em controlar.

No começo é até estranho acompanhar um episódio só sobre a terapeuta, aquela imagem perfeita que o público tem dela acaba dando lugar a realidade de que todos temos problemas para lidar, até mesmo os profissionais em resolver esses tais problemas. As conversas entre terapeuta e paciente evoluem naturalmente e passam por várias camadas, aqui não existe pudor, você pode realmente falar o que está sentindo e quase nunca as coisas acabam bem, pois abrir gavetas do passado cheio de traumas não é nada fácil. Mesmo que nossos problemas não tenha nada a ver com as dores dos personagens, é impossível não se envolver com essas jornadas de vida. Os diálogos são duros, reflexivos e até mesmo ácidos, mas sabemos que para vencer uma correnteza, sempre temos que nos molhar.

Os episódios passam numa torrente onde o espectador precisa saber o final de cada jornada iniciada em cada sessão. Tudo se passa em apenas uma sala e, às vezes, também à distância, já que a série se passa exatamente no momento em que vivemos, pandemia e isolamento social. É um show de diálogos, então se você gosta de texto e de interpretações acima de tudo, essa série é pra você. E no comando disso tudo temos a maravilhosa Uzo Aduba, uma atriz sem igual que comanda a tela com um poder e uma energia tão contagiante que a gente até esquece de que isso tudo é apenas um show. Eu comecei a assistir por essa temporada e me apaixonei tanto pela personagem que sequer consigo imaginar como a série antes era dela. Comecei a assistir por ela e aposto que só de ver o trailer, você também vai se sentir atraído para conhecer a série. Diferente, necessária e com perfeição técnica de cair o queixo, com mulheres no comando da direção e roteiro, merece muito ser descoberta por mais pessoas. A minha parte eu fiz, e você, vai me ajudar a divulgar essa perfeição aqui?


CANAL: HBOMAX
TEMPORADAS: 4
GÊNERO: Drama
DURAÇÃO: 30 minutos