O universo compartilhado de INVOCAÇÃO DO MAL está caminhando para ser uma Marvel dos filmes de terror. Ao todo já tivemos sete filmes e temos aqui agora o oitavo. Terceiro filme da franquia principal, que caiu num nível tão baixo, que é até triste dizer, mas é verdade, INVOCAÇÃO DO MAL 3 é horrível, chega mais que te conto tudo.

Ed e Lorraine Warren, o casal demonologista, estão trabalhando num novo caso que envolve a possessão de uma criança. Esse caso tem se mostrado muito complicado e violento, um exorcismo é feito, porém tudo dá errado. Mas mesmo assim, as coisas parecem ter se normalizado, porém um assassinato é cometido por um rapaz que estava presente para ajudar no exorcismo. O crime violento choca a população e o rapaz está a um passo de ser condenado à morte pela justiça americana. Agora cabe ao casal Warren ajudar o acusado, provando em tribunal uma possessão demoníaca que levou o rapaz a cometer esse crime bárbaro.

Como de praxe, o filme já se inicia falando que a trama é baseada num caso real e vende a ideia de que a história que acompanharemos é o pior caso que os Warren já se envolveram. Quando eu disse que a franquia está se encaminhando para ser a Marvel do horror, eu não estava exagerando, esse terceiro filme já se inicia com uma sequência mirabolante de possessão. Com direito a muita coisa voando para todos os lados, um vento infernal que empurra os personagens, efeitos visuais em cada esquina, gritaria e confusão. Real ou não, a cena transmite um ar extremamente genérico e apelativo, do mesmo cacife daqueles filmes de ação que precisam se iniciar com uma cena grande porque depois não vai ter mais nada de muito interessante.

Claro que não tem nenhum problema em se iniciar o filme com um circo como esse, desde que o palhaço, no caso o diretor, consiga conduzir o show para algo bom, o que não acontece aqui. A direção ficou a cargo de Michael Chaves, e o interessante a se dizer sobre ele, é que o mesmo nos entregou, há uns anos atrás, a bomba A MALDIÇÃO DA CHORONA, um terror desse mesmo universo, recheado de clichês e redundâncias, que culminaram num dos piores filmes de 2019, fracasso em quase todos os quesitos. E mesmo assim lhe deram o comando do terceiro filme da franquia Invocação do Mal, que tinha um legado fortíssimo comandado pelo grande James Wan, o mesmo de JOGOS MORTAIS e SOBRENATURAL. James Wan se foi e, infelizmente, a mediocridade chegou na saga principal, quem perdeu foi o público.

O desenvolvimento de personagem que sempre foi um dos grandes trunfos da franquia, foi deixado de lado. Antes a gente passava boa parte do tempo com a família ou a vítima da vez, o afeto entre personagem e espectador era muito palpável. As estrelas do filme, o casal Warren, tinham o seu destaque, mas a trama dava importância para o tormento da vítima e a sua dor, aqui isso ficou de lado. Graças a diálogos de quinta e cenas pavorosas, o filme conseguiu reduzir esse bizarro caso em um clichê repetitivo e cansativo. Já dá pra saber para onde o filme vai, tudo é reciclado e mal organizado, descobrir algo nesse filme é algo bem difícil.

Parecia que o longa iria se encaminhar para ser algo parecido como o excelente O EXORCISTA DE EMILY ROSE, que foi um poderoso terror que precisava se provar no tribunal. Mas o filme esquece disso e se foca quase que exclusivamente no casal Warren indo descobrir quem fez essa maldição que possuiu o rapaz e o fez cometer aquele assassinato. Claro que isso também é interessante, mas não tem equilíbrio, o filme pende completamente para o lado chamativo que é essa caça às bruxas, mas a vítima que é o centro de tudo, está completamente jogada de lado. E para deixar o clichê ainda mais concentrado, o filme perde tempo com vários flahsbacks gratuitos sobre o início o relacionamento de Ed com Lorraine. Tais passagens não ficam bem no filme e são muito aleatórias. O amor do casal é algo que ninguém questiona, eles são a força do filme e sem eles esse show nem se sustentaria, então pra quê o filme precisa se focar numa montanha poderosa, falando pro espectador, olha como essa montanha é poderosa, acontece que todo mundo já sabe disso.

Nesse ponto o filme já está quase que completamente perdido, se não fosse o grande carisma do casal Warren, vividos pelos maravilhosos Patrick Wilson e Vera Farmiga. A força dos atores salva o filme de uma catástrofe apoteótica, pois ambos os filmes anteriores da franquia principal eram primeiramente excelentes dramas humanos que abordavam o trauma e o medo de maneira muito talentosa. Eram aquele tipo de filme que é assustador, mas que também dá pra sorrir e até mesmo chorar. Nesse terceiro filme, tudo foi tão desvirtuado, o espectador nem tem tempo pra chorar de ódio, pois o tédio é o que prevalece no final.

No final o que temos é um filme extremamente mal dirigido, que aposta nos piores clichês do seu gênero, achando que tudo vai dar certo. Afinal é uma grande franquia, com excelentes atores, um importante estúdio e rios de dinheiro para jogar fora com futilidades. Um comando tão ruim que tira o pior dessa boa equipe. Esquecível, uma mancha negativa nesse legado que põe em cheque tudo o que foi feito até agora, será que depois desse lixo, a franquia tem salvação? O sentimento de desgaste nunca esteve tão forte.


DIREÇÃO: Michael CHAVES
DISTRIBUIÇÃO: Warner
DURAÇÃO: 1 hora e 52 minutos