Becca é universitária e está de férias em casa, em Summit Lake, uma pequena cidade nas montanhas, nos EUA. De noite, alguém bate à porta. Ela reconhece a pessoa, abre cordialmente; e logo depois, ela é brutalmente assassinada. Sua garganta é apertada de forma tão forte, que a traquéia é esmagada. Ainda viva, suas roupas são rasgadas e ela é estuprada. Quando o socorro chega, Becca ainda está viva, consegue chegar ao hospital, mas não resiste e morre.

Kelsey é uma repórter famosa, de uma das maiores revistas de notícias do país. Ela acaba de retornar de um longo afastamento, devido a um trauma recente, e seu editor resolve enviá-la para Summit Lake, para escrever uma reportagem sobre o assassinato de Becca, com a ideia de que Kelsey aproveite o lugar belíssimo que é a cidade para descansar mais um pouco, e porque acredita que não passa de um caso banal de assassinato, uma vez que a polícia pensa se tratar de um roubo seguido de morte, nada de misterioso. Mas quando Kelsey chega a Summit e começa a investigar a morte de Becca, descobre a ocultação de diversas informações que indicam que a verdade é muito maior do que a polícia está divulgando.

Para conseguir descobrir a verdade sobre a morte de Becca, Kelsey consegue a ajuda de alguns moradores de Summit Lake. O primeiro, o delegado Ferguson, é um homem perto da aposentadoria, que nunca chegou a lidar com assassinatos na sua cidade, e que se sente de mãos atadas, quando a polícia estadual o afasta do caso, sem qualquer motivo aparente; Rae é a atendente de uma lanchonete na cidade que era amiga de Becca. Ela foi uma das últimas pessoas a conversar com Becca, antes desta morrer, e possui algumas informações essenciais para desvendar o mistério; e Peter, o médico legista que deveria ter assinado a certidão de óbito de Becca, mas que não foi permitido e nem sequer deixaram que visse os detalhes da autópsia. E, juntos, eles terão que enfrentar a própria polícia para conseguir chegar na verdade.

A narrativa de A GAROTA DO LAGO é alternada em capítulos, que contam a investigação de Kelsey e o que aconteceu nos últimos 14 meses antes da morte de Becca. Ou seja, em um capítulo, acompanhamos Kelsey e suas descobertas, enquanto no capítulo seguinte, vamos ao passado e lemos como Becca chegou ao dia de sua morte.

Becca estava na universidade e tinha três melhores amigos, Brad, Gail e Jack. Os quatro eram inseparáveis, cada um deles com seus problemas particulares. Enquanto Becca era de uma família tradicional de advogados, Brad pertencia a uma cópia dessa família, mas bem mais problemática, com um pai violento e autoritário. Becca e Brad eram quase inseparáveis, e isso desperta em Brad uma paixão contida. Ele tem medo de se declarar, não sabe se seria correspondido.

Jack é o melhor amigo de Brad, são os dois rapazes da turma, e acabam se envolvendo no roubo de uma prova, tudo para ajudar Becca em uma matéria que ela enfrenta mais dificuldades. Mas essa prova, ao invés de ficar restrita aos quatro, acaba se espalhando por diversos outros alunos, e, claro, isso acaba por ser descoberto e decide o futuro acadêmico de alguns deles.

Existem outros personagens que entram para lista de suspeitos, como um ex-professor de Becca, que tenta uma aproximação amorosa, mas é afastado por ela. E um ex-namorado bastante ciumento e agressivo. Mas conforme a trama avança, fica evidente que eles não possuem qualquer função, além de despertar uma ou outra dúvida. O mistério fica restrito, na verdade, aos quatro amigos e aos eventos dos últimos 14 meses.

A GAROTA DO LAGO é bom, mas fiquei com a sensação de que poderia ser melhor. O mistério é bastante simples. O assassino pode ser descoberto logo nos primeiros capítulos, e o leitor nem precisa ser muito inteligente e atento às pistas para isso. Como nunca li outro livro de Charlie Donlea, realmente não sei o tamanho de sua habilidade em criar mistérios, então não sei se ele foi preguiçoso neste. A forma que ele encontra para criar um mistério e não deixar o leitor chegar no óbvio, é trapacear. Ele pega o maior suspeito e cria um motivo incontestável para ele deixar de ser. Mas não conta tudo sobre esse motivo. Quando chega o final do livro e o assassino é revelado, então é como se o autor dissesse: “ah é, eu esqueci de mencionar isto aqui, desculpa!”, ou seja, ele omite uma informação para conseguir enganar o leitor.

Eu já li dezenas de thrillers policiais, e em todos, pelo que me lembro, as pistas sobre quem é o criminoso, estão inseridas na trama. Cabe ao leitor, juntar os pontos. Algumas dessas pistas são tão bem disfarçadas que fica difícil descobrir, mas, mesmo assim, elas estão lá, o leitor tem uma chance. Existem até livros que utilizam o mesmo motivo que Charlie Donlea usou para afastar as suspeitas sobre o criminoso, mas todos os personagens desses livros também possuem a informação desse motivo, ou seja, é como se ele realmente tivesse acontecido. Mas em A GAROTA DO LAGO, os personagens sabem que esse motivo não aconteceu, e o leitor só recebe essa informação no fim da leitura. Então, realmente, é uma trapaça, e foi isso que me decepcionou um pouco ao final da leitura.

Também fiquei um pouco incomodado com um ponto em comum entre Becca e Kelsey: as duas foram estupradas. Becca quando foi assassinada; Kelsey como parte do ataque por ela ser mulher. Infelizmente, esse trauma não é aprofundado, não influencia em nenhuma decisão da personagem, e não tem uma real função na trama. Ele é usado para justificar o tempo que Kelsey fica sem trabalhar e o de ser enviada para cobrir um assassinato em uma cidade no meio das montanhas. Fica estranho que as duas mulheres da mesma história, tenham como agressão, estupro. Passa aquela mensagem equivocada de que uma mulher, para ser agredida ou traumatizada, tem que ser estuprada. Mas isso é uma opnião totalmente pessoal, então não vou me estender sobre o assunto.

A GAROTA DO LAGO poderia ter sido uma experiência mais completa, mais surpreendente, pelo menos para mim, por causa do uso da tal trapaça como artifício para ocultar o assassino. Não posso dizer que seja um livro ruim por conta disso. Espero que você, quando ler, aprecie mais do que eu.


AUTOR: Charlie DONLEA
TRADUÇÃO: Carlos SZLAK
EDITORA: Faro Editorial
PUBLICAÇÃO: 2016
PÁGINAS: 296


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