Segundo o Guiness Book, Drácula é o personagem fictício que apareceu mais vezes, de forma direta ou indireta, em filmes, séries, livros, quadrinhos, games, em quase tudo o que existe. Criado por Bram Stoker, no ano de 1897, em seu romance homônimo (resenha aqui), ele é inspirado em Vlad III, príncipe e governante do território que hoje é a Romênia, e que ficou conhecido pela barbaridade com que tratava seus inimigos. Drácula também é um dos personagens que mais sofreu adaptações, e a nova série da BBC e Netflix, DRÁCULA, traz mais uma.

Com apenas três episódios, e sem perspectiva de uma nova temporada, principalmente por seu final, esta nova versão tem o ator Claes Bang como Drácula e a atriz Dolly Wells como sua antagonista, uma freira com um sobrenome bem conhecido, Van Helsing. A história começa de forma bem similar ao livro de Stoker, com o advogado Jonathan Harker chegando ao castelo de Drácula para concluir uma transação imobiliária, que é a aquisição de uma casa em Londres pelo conde. Várias cenas são cópias do filme de Francis Ford Coppola, que tinha Gary Oldman e Keanu Reeves nos principais papéis. Mas isso até é bom, uma vez que elas existem na obra original.

Aos poucos, Harker se descobre preso pelo conde, à beira da morte, sem qualquer perspectiva de salvação. E é nesse ponto que a narrativa começa a mudar de direção. O primeiro episódio começa com Harker em um convento, após a fuga, totalmente debilitado fisicamente, e vai contando para a Irmã Agatha tudo o que aconteceu no castelo e como ele conseguiu escapar das garras de Drácula. Diferentemente do livro, a forma como Harker escapa é bem diferente. E as consequências disso, também.

O clímax do episódio é quando Drácula chega ao convento atrás de Harker, conhece a Irmã Agatha e os dois tem um embate verbal. Vampiros não podem entrar em locais sem serem convidados, então ele não pode entrar no convento. Dessa forma, Agatha mantém esse diálogo a apenas um passo de distância do conde, e essa situação até consegue causar uma certa ansiedade e transmitir um senso enorme de perigo. Não digo que o primeiro episódio seja perfeito, mas ele consegue ser muito bom e criar uma enorme expectativa para os dois seguintes.

No segundo episódio, acontece um pulo de tempo e Drácula já está em um navio a caminho de Londres. Então a narrativa se concentra nos tripulantes e nos passageiros e a convivência desses com um vampiro a bordo. Há novos embates através de diálogos, por vezes inspirados, mas muitas partes são forçadas, contém furos e não mantém a qualidade do primeiro episódio. É nesse que o tom de deboche que Claes Bang emprega em seu Drácula começa a ganhar mais destaque. Ele constrói um Dráculo que não está nem aí para quem o rodeia ou ameaça. Ele é seguro de si, sabe que é imortal, e embora alguns conheçam formas de o matar, ele não perde o controle da situação e sempre tem um plano para enganar e manipular quem deseja e escapar de qualquer tentativa de o derrotar. O ator é perfeito no papel.

Inclusive, quando chegamos ao famigerado terceiro episódio, quando Drácula aparece nos dias atuais, a única coisa que mantém o interesse em assistir até o final, é a atuação de Claes Bang. Ele atinge o limite do sarcasmo, o que cria uma semelhança enorme com outro personagem, o Lúcifer do seriado homônimo. O comportamento de ambos diante do perigo é quase idêntico, com a diferença de que Drácula realmente é mau e mata qualquer um para saciar sua sede.

Todo o terceiro episódio é péssimo, com uma trama sem sentido, a inserção de personagens que não possuem qualquer função no desenvolvimento da história, ou sequer a capacidade de conquistar qualquer empatia de quem assiste. Foi difícil aguentar mais de uma hora para chegar à conclusão, e então descobrir que essa conclusão é totalmente ridícula, ilógica, que transforma Drácula em um personagem burro e manipulável. O que é uma pena, porque se a série tivesse mantido o mesmo tom de terror do primeiro episódio, seria sensacional. O que sobra é apenas a sensação de desperdício.


CANAL: Netflix
TEMPORADAS: 1
EPISÓDIOS: 3
GÊNERO: Terror
DURAÇÃO: 90 minutos
ANO LANÇAMENTO: 2020