Billy Summers é um assassino de aluguel. Ele é conhecido por três características distintas: nunca falha na missão; desaparece sem deixar rastros; e só mata pessoas ruins. Ele é um homem acima dos 40 anos, ex-fuzileiro que lutou no Iraque, atirador de elite, muito inteligente e perspicaz. Entretanto, para quem o contrata, ele se mostra um homem ignorante, pouco inteligente, infantil, que lê quadrinhos de crianças, com algum grau do espectro autista. Essa é sua forma de se proteger e surpreender. Agora ele quer se aposentar e decide aceitar um último serviço.

A missão é matar um outro assassino. O homem foi capturado e será levado a julgamento. Billy precisa estourar a cabeça do homem antes que ele entre no tribunal. Só que não existe um prazo para o julgamento, então os contratantes do serviço criam um disfarce para Billy: ele será o novo morador da pequena cidade, um escritor em busca de inspiração para terminar seu primeiro livro, que já foi vendido e tem um prazo curto. Assim, Billy conseguirá se manter sem muitas perguntas, enquanto aguarda pela hora em que entrará em ação.

Billy é um homem que mata pessoas ruins. Isso é bem definido já no início. Ele tem boas intenções, e seu passado na guerra, apagou o remorso de matar essas pessoas. Para Billy, elas são a encarnação do mal e não farão falta. Tirando isso, ele é um homem comum, que consegue demonstrar afeto e criar amizades. É o que acontece conforme ele conhece os vizinhos da casa em que foi morar, e também os vizinhos do escritório onde supostamente trabalha na escrita do livro. Mas Billy tem consciência de que essa empatia, esses laços pessoais, serão quebrados e esquecidos assim que ele realizar seu verdadeiro serviço.

Entretanto, como disse acima, Billy é um homem inteligente, ao contrário do que seus contratantes pensam. E Billy percebe que existe algo de errado nesse serviço. Ele só não sabe o que é, ainda. Enquanto investiga e cria uma forma de escapar ileso ao serviço e a uma possível traição, ele resolve escrever de verdade, escrever suas memórias. Para manter seu disfarce, uma vez que ele acha que o computador que usa tem algum hacker de espionagem, ele começa a escrita de forma infantil e cheia de erros. Aos poucos, como se fosse aprendendo, a narrativa se torna mais complexa e bem escrita. Assim, nós acompanhamos duas histórias em uma: a narrativa em terceira pessoa do presente; e o passado de Billy, contato por ele mesmo enquanto escreve.

BILLY SUMMERS faz parte dos poucos livros de Stephen King que não são de terror. É a história de um homem, de um assassino com consciência, que deseja realizar um último serviço, se aposentar e aproveitar seus últimos dias em paz. Obviamente, as coisas não saem como desejado. Na metade do livro, após Billy realizar o serviço, tudo muda. Entra em cena uma nova personagem que dá a Billy uma visão diferente do que realmente é importante e faz com que ele jogue tudo para o alto e decida fazer o que é certo, enquanto se vinga de quem o traiu.

BILLY SUMMERS me conquistou, se tornou um dos meus livros preferidos de King. Não exatamente pela história, mas mais por Billy e por essa outra personagem que aparece a partir da metade da história. A história é bastante óbvia, com exceção da vida de Billy, ou seja, do livro que ele escreve. Isso adiciona uma camada de drama que é muito bem-vinda, mas não consegue salvar a fragilidade do enredo principal. Existem furos e existem partes que deixam a sensação de que King foi construindo a história conforme escrevia.

Posso citar, por exemplo, essa personagem que surge na segunda parte. Ela é apaixonante, cheia de força, e transmite uma mensagem importante e cheia de sensibilidade. Entretanto, se removermos ela da história, nada muda. Ela não acrescenta ou modifica absolutamente nada, a não ser no coração de Billy. Que mesmo com um novo sentimento, não o faz mudar nenhuma das decisões que iria tomar. Ou seja, com essa personagem ou sem essa personagem, a conclusão do livro e o destino de Billy seria o mesmo.

Aliás, o destino de Billy é outro ponto fraco do clímax. Dá para adivinhar o que vai acontecer com ele, mas a forma como King escolhe, quem ele escolhe para realizar esses desfecho, é forçado e meio descabido. Não há um sentido ou uma mensagem na decisão. Parece apenas que King desejou inovar, tentar fugir do óbvio, mas com um subterfúgio sem qualquer lógica ou mesmo com alguma credibilidade.

Assim, o que eu senti lendo, é que King chegou na metade da história, quando Billy parte para uma missão de vingança, e achou que seria pouco. Então inseriu uma nova personagem para criar uma conclusão emotiva, sem qualquer necessidade. E olha que eu me apaixonei pela personagem. Mas em uma análise objetiva, ela foi criada apenas para encher páginas e criar lágrimas no leitor.

De qualquer forma, BILLY SUMMERS passou a fazer parte dos meus livros preferidos. Tem defeitos, sim, mas isso não o desqualifica e nem diminui as muitas qualidades. Para gostarmos de algo, esse algo não precisa ser perfeito. E embora BILLY SUMMERS tenha seus pontos fracos, os pontos fortes são suficientes para valer a leitura, e muito!


AUTOR: Stephen KING
TRADUÇÃO: Regiane WINARSKI
EDITORA: Suma
PUBLICAÇÃO: 2021
PÁGINAS: 472


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