O maior tesouro moderno da Disney e um dos melhores filmes animados da história, O REI LEÃO está de volta aos cinemas. Dessa vez numa roupagem nova conhecida como “live action“, e ele já chega sendo um avanço sem igual tecnicamente e também uma catástrofe dramática. Vamos descobrir o porquê disso!

A trama nada mais é do que uma adaptação da peça HAMLET, de Shakespeare, que basicamente conta a história de um tio que tinha inveja do seu irmão rei e que planeja uma catástrofe que culmine na morte do seu irmão, o afastamento de seu sobrinho, o herdeiro, e o trono todo para si. Em O REI LEÃO, Simba foge depois da morte de seu pai e seu tranquilo exílio é quebrado quando notícias perturbadoras chegam de seu antigo lar. Mas vencer a vergonha e suportar o peso da verdade será um desafio para Simba, já que o pequeno leão acha que ele foi o culpado pela morte do seu pai, o antigo rei. Aqui no clássico da Disney, esse conto é um musical, lançado originalmente em 1994, moldou os pilares de tudo o que veio depois dele. E agora, em 2019, nós temos o “live action”, que basicamente também é uma animação, só que dessa vez em ultra realidade.

Trazer esse filme para as telonas, dessa vez num visual realista, nem parecia uma tarefa difícil. O diretor é o mesmo que fez MOGLI – O MENINO LOBO, que em 2016 encantou a todos com um filme agradável e tecnicamente impecável. Tanto que até Oscar o filme levou. Em O REI LEÃO, o nível técnico é ampliado de uma maneira surreal. O nível de realismo é ridículo de tão deslumbrante, parecem realmente animais de verdade cantando e dançando. Não é exagero dizer que tecnicamente esse filme é tão impactante e inovador, numa comparação direta com AVATAR. Mas ao lado disso, o filme sacrificou toda a emoção em troca de realismo, logo num filme onde o lado dramático familiar moldava o que ele tinha de mais especial.

O lado cartunesco, que nada mais é do que imprimir atos e emoções humanas em coisas que não tem isso por natureza, era o grande diferencial, e nesta nova versão, isso não existe. Os animais não têm expressões, não conseguem passar para o espectador nem uma mísera migalha de emoção. Outro problema sério que esse ultrarrealismo trouxe, foi que a sincronização vocal ficou extremamente desconfortável. Ouvimos na dublagem muita emoção, vários tipos de tons vocais e os animais só mexem a boca da maneira mais mecânica possível. Por isso que o traço cartoon era tão necessário, porque na animação original, ele faz tudo dar certo, tire isso do filme e o que temos é belíssimas imagens de animais maravilhosos, numa trama que amamos sem um pingo da carga dramática que fez esse filme marcar época.

A alma do filme é sua trilha sonora que, felizmente, retorna com todas as maravilhosas canções originais e também algumas novas que apresentam bastante qualidade. Eu assisti ao filme dublado e, infelizmente, a nossa versão brasileira não está boa. Todas as músicas originais estão em tons diferentes, com novos arranjos e cantores extremamente fracos. A potência que a música “Ciclo da Vida” tinha na animação original, arrepiava o público logo na primeira cena do filme, aqui ela é performada num vocal bem inferior. Ainda sobre a dublagem, no original temos a Beyonce num dos papeis principais, aqui no Brasil temos a cantora Iza que é maravilhosa, mas como dubladora, a mesma se prova extremamente mal escalada. Sua voz passa longe da personagem, e o dublador que dá vida ao Simba, tanto criança, como adulto, é muito fraco. Infelizmente não tivemos nenhuma voz da animação original retornando e isso se provou um tiro no pé.

A trama que amamos está aqui, as músicas também, mas o peso dramático passou longe. Vai ser difícil alguém conseguir se conectar com o filme, já que o próprio reconhece que a emoção está só no original. Temos diversas cenas de diálogos onde os animais são filmados de longe ou de costas, tudo para o rosto robótico deles não atrapalharem a trama, mas não dá para esconder isso durante o filme todo. Era uma tragédia anunciada, pelos trailers já dava para perceber a falta de vida, e fica muito difícil compreender porque a Disney deixou o filme assim. Em MOGLI, eles fizeram tudo certo, tinha realismo, tinha emoção, drama, um pouco do lado cartunesco e o resultado era um excelente filme, porque não repetiram essa façanha aqui?

A verdade é que o “live action” de O REI LEÃO é um filme descartável que, com o passar do tempo, vai envelhecer mal, pois quem quiser visitar mais uma vez essa história belíssima, vai escolher a animação original. Ele é inferior a absolutamente tudo em comparação com a animação. Deslumbrante visualmente, porém um desastre total em matéria de emoção.


AVALIAÇAO:


DIREÇAO: Jon FAVREAU
DISTRIBUIÇAO: Disney
DURAÇAO: 1 hora e 58 minutos
ELENCO: Donald GLOVER, Beyoncé, Seth ROGEN e Chiwetel EJIOFOR