Todo o ano tem que ter um filme de destruição, de preferência com monstros gigantes. Em 2017 tivemos KONG – A ILHA DA CAVEIRA; em 2018, RAMPAGE – DESTRUIÇÃO TOTAL; e em 2019 já está entre nós, GODZILLA 2 – REI DOS MONSTROS, mega-produção que prometeu resolver tudo o que tinha dado de errado no primeiro filme. Bom, eles não conseguiram, bora descobrir o porquê?

Cinco anos se passaram desde a última vez que o gigante Godzilla foi visto pela última vez. Depois de sua batalha épica com outro monstrengo, a cidade de São Francisco, nos Estados Unidos, foi reduzida a cinzas e as autoridades querem a qualquer custo ter o total controle de todas as feras que estão espalhadas pelo mundo. Grande parte das feras estão em hibernação e não oferecem riscos, porém as autoridades das nações querem as feras mortas. A empresa terceirizada que cuida dessas feras recusa toda e qualquer ordem que leve à morte, pois para eles, elas podem ser usadas em favor da raça humana. As coisas complicam quando uma cientista desenvolve um método de comunicação com as feras, induzindo as mesmas a agirem de certa forma. Mas essa cientista é sequestrada por um grupo terrorista e logo todas as feras que estavam dormindo, despertam, e por onde passam, a destruição é garantida. O exército, forças especiais e qualquer tipo de arma desenvolvida pelo homem parece não fazer efeito, agora resta apenas achar aquele que no passado nos defendeu com uma força implacável, o grande Godzilla, mas será que ele será páreo para uma luta com diversas feras ao mesmo tempo?

O primeiro filme foi lançado em 2014 e foi duramente criticado por focar muito em humanos e pouco no próprio Godzilla, com o mesmo só aparecendo em mais de 50 minutos de duração. Eles tentaram resolver isso aqui, os monstros realmente aparecem mais, têm mais destaque e até um pseudo-desenvolvimento, mas os humanos ainda estão aos montes e, novamente, eles estragam o filme. O roteiro da produção é uma atrocidade, a trama base não faz sentido, é apresentada com muita rapidez e tudo no final faz parte de um grande plano extremamente imbecil. Sempre tem que ter uma família disfuncional né; um pai ausente, uma filha rebelde e etc. O arco dessa família é uma das coisas mais clichês que você já viu na vida e parece até uma cópia do enredo do filme anterior. Nem para desenvolver algo novo eles conseguiram. A dinâmica dos humanos também é desinteressante, com vários grupos em partes diferentes do mundo, mas o destaque negativo fica para essa trupe de terroristas, que realmente só podem ser comparados a palhaços de circo, pois o plano deles é uma palhaçada e esse arco caminha para ir a lugar nenhum, um desperdício de tempo.

O povo queria mais luta de monstrengos e isso nós realmente ganhamos, porém nem tudo são flores e até isso eles conseguem estragar. A direção é muito confusa e parece totalmente perdida, as cenas de ação apelam para ângulos tortos, câmera tremida e uma fotografia tão escura que parece até um filtro borrado e exagerado do Instagram. A geografia da batalha é muito confusa e em grande parte da ação, você não faz ideia sobre o que está acontecendo e o que está em jogo. União de roteiro ruim, direção medíocre e efeitos visuais que variam entre aceitável e “não estou vendo nada“. Mas sendo justo, existem dois momentos que são impressionantes: um envolve uma luta entre o Godzilla e um monstrengo de três cabeças que se passa no gelo; e a outra envolve uma fera de fogo que voa. O bicho devasta uma cidade só com as asas e suga várias crianças para um furacão, meu Deus, que agonia, cadê o conselho tutelar? Ambas, cenas incríveis, pena que são só suas cenas, de 10 minutos, num filme de duas horas e vinte.

Para conseguir assistir Godzilla 2, a suspensão da descrença é mais que necessária. O espectador precisa aceitar qualquer ladainha que os personagens falem, mesmo que elas não façam sentido, que sejam idiotas ou que ofendam a nossa inteligência. Mesmo que tudo seja uma ficção, com coisas bizarras e etc, tem um limite do que eu posso fazer e taxar como aceitável. Uma aeronave pousar dentro de uma aeronave, sem fazer vítimas, é demais. Uma bomba atômica explodir quase na cara de uma galera e todo esse povo sair totalmente ileso? Sem ninguém falar dos perigos da radiação? Aí fica realmente difícil de entender. Esses são só dois exemplos, você vai encontrar vários outros. Claro que é um filme de monstro caindo na porrada com outros monstros, mas esses absurdos tiram o espectador do filme e a imersão se torna cada vez mais difícil.

Já comentei que tem bastante humano né? Infelizmente essa raça toda errada aparece demais no filme e o elenco é grande, cheio de estrelas, gente talentosa, e todos foram reduzidos a personagens patéticos de tão mal escritos. Se eu fosse o ator, morreria de vergonha das minhas falas, mas o importante é o dinheiro na conta né? Estão a cada dia mais riquíssimos, aí dá para aguentar a humilhação. Dentre os pobres coitados, temos Vera Farmiga, estrela dos filmes INVOCAÇÃO DO MAL e Millie Bobby Brown, a eterna Eleven de STRANGER THINGS, que infelizmente, até hoje, ainda está neste papel, será que um dia ela vai conseguir fazer algo diferente?

E como tudo ainda pode piorar, o filme insere um humor forçado que fica até desconfortável quando é jogado na cara do espectador. Piadas bobas, a nível de crianças da quarta série, isso tudo enquanto vários monstros estão devastando a Terra. Visualmente tem seus méritos, mas a produção entrega um filme inchado, mal editado e sem fluidez. O espectador não sente a trama avançando, nem se importa para onde ela vai, foi tudo tão mal feito que a gente só observa uma destruição gratuita. Parecia até um Transformers da vida, principalmente o pavoroso último filme da série. Um filme que tinha tudo para ser interessante, mas que afundou na própria cobiça. A direção e o roteiro foram assumidos por uma equipe diferente e é perceptível a decadência entre um trabalho e o outro. Um dos filmes mais cansativos do ano, experiência tosca.

OBS: O filme conta com uma cena pós-créditos.


AVALIAÇAO:


DIREÇAO: Michael DOUGHERTY
DISTRIBUIÇAO: Warner
DURAÇAO: 2 horas e 12 minutos
ELENCO: Vera FARMIGA, Millie Bobby BROWN