Em um universo extraordinário – de fugir do ordinário mesmo –, composto pelos mais variados tipos de criaturas e magias, o céu e o inferno estão travando uma batalha sangrenta, que poucos compreendem os motivos. Em um espaço neutro, Linra, o reino dos humanos, um rei envia seus melhores mercenários para exterminar o caos e acabar com a guerra.

Baseado em um jogo de RPG, LINRA: 18 ALMAS apresenta a história desses 18 habilidosos guerreiros, arriscando suas vidas e das pessoas que amam para derrotar o Profano e o Abençoada e salvar o mundo.

Em um começo eletrizante e um pouco perdido, posto que não há introduções, somos jogados de imediato em frente à guerra. De início é complicado compreender o que está acontecendo, já que a narrativa, embora tenha várias referências de outros estilos, possui uma mitologia própria.

São nomes demais e histórias demais para pegar rapidamente. Acredito que se tivesse tido um guia com o nome de cada personagem e suas habilidades, igual algumas obras tem, teria diminuído um pouco dessa sensação de confusão. Mesmo agora, após ter lido as 307 páginas e chegado ao final, não me arrisco em pronunciar e falar o nome de todos os guerreiros.

(Nota do editor: a versão impressa do livro foi enviada por mim para um endereço em que a Ayllana não tem acesso no momento, por causa da quarentena. Assim, ela leu em formato e-book. Essa versão eletrônica não possui as fichas dos personagens, ao contrário da versão física. Ela também possui alguns problemas de formatação, inclusive os diálogos não têm travessão ou aspas. Isso não acontece na versão impressa, que está bem produzida.)

LINRA: 18 ALMAS, escrito por Cássio Amorim e publicado pela editora Pendragon, é aquele clássico livro sem respostas, mas que não faz disso um empecilho para a dinâmica da narrativa. Semelhante a um episódio de anime, misturado com o jogo Final Fantasy VII, com direito aos personagens declamando o nome dos seus “especiais” antes de utilizá-los em batalha, em momento algum temos tempo para respirar, são sempre coisas demais acontecendo.

Em certos desdobrares, senti como se toda a história fosse extremamente amarrada, precisando de uma ordem 100% linear para atingir o objetivo final, inclusive acarretando em diálogos falhos entre os personagens. Como forma de explicar um pouco dessa situação, o escritor utiliza do conceito de destino e de uma famosa profecia, que não conhecemos nem mesmo nas últimas páginas.

Logo, mesmo sendo, aparentemente, uma estratégia planejada, sinto que em alguns momentos prejudicou o fluxo da história e o meu interesse em conhecer mais sobre aquele universo. Terminamos a obra com mais perguntas do que respostas, então acredito que o objetivo do escritor é abrir para uma nova saga, apresentando mais daquele universo.

Quanto aos personagens, temos os mais variados tipos de construções e representações, desde uma garota esquilo, representante das forças da natureza, até um vampiro com habilidades de distorcer o tempo. Inquestionavelmente, criatividade e inovação são, ao meu ver, as maiores qualidades da obra.

Sobre a construção dos personagens, nem mesmo em uma história de ficção contemporânea, meu lado militante descansa em paz. Senti que certas atitudes de determinados personagens, mesmo sendo baseados no mais puro amor e heroísmo, revelam um tipo de machismo ainda presente na nossa sociedade: a ideia de que uma mulher quer ou precisa ser defendida por homens.

A personagem Saten – uma das poucas que sei escrever o nome por causa de toda revolta que provocou em mim  ainda que seja a mais forte de todas as guerreiras, é nítido a necessidade que ela tem de ser defendida pelo seu irmão e o namorado. Considerando que é uma das personagens mais fortes e principais da narrativa, não acho que é um tipo de representação que deve existir nos dias de hoje.

Ao mesmo tempo em que temos a figura controvérsia de Saten, existem exorcistas fenomenais, a seraphim renegada, a garota esquilo, entre outras representatividades femininas que amenizam o sentimento ruim que sinto quando encontro obras que ainda reforçam essa visão tão negativa e prejudicial.

Ademais, os personagens masculinos também “passam pano” nesse deslize e conseguem fazer com que esse seja somente um incômodo. Tanto os vilões como os bravos guerreiros são personagens admiráveis.

Por fim, precisamos falar sobre a narrativa em si. Embora tenha todos os problemas que citei acima, LINRA: 18 ALMAS faz parte dos livros que sempre levarei com carinho. Bem diferente do que costumo ler, a obra me prendeu do início ao fim, me envolveu e permitiu que eu imaginasse várias das cenas propostas, coisas que dificilmente consigo fazer.

Recomendo para todos os fãs de aventura e fantasia. Acredito que será uma grande surpresa positiva para vocês.


AUTOR: Cássio AMORIM
EDITORA: Pendragon
PUBLICAÇÃO: 2018
PÁGINAS: 307


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