Harry não é mais um garoto. Aos 15 anos, continua sofrendo a rejeição dos Dursdley, sua estranha família no mundo dos “trouxas”. Também continua contando com Rony Weasley e Hermione Granger, seus melhores amigos em Hogwarts, para levar adiante suas investigações e aventuras. Mas o bruxinho começa a sentir e descobrir coisas novas, como o primeiro amor e a sexualidade.

Neste quinto livro da saga, o protagonista, numa crise típica da adolescência, tem ataques de mau humor com a perseguição da imprensa, que o segue por todos os lugares e chega a inventar declarações que nunca deu. Harry vai enfrentar as investidas de Voldemort sem a proteção de Dumbledore, já que o diretor de Hogwarts é afastado da escola. E vai ser sem a ajuda de seu protetor que o jovem herói enfrentará descobertas sobre a personalidade controversa de seu pai, Tiago Potter, e a morte de alguém muito próximo.

No quinto livro de Harry Potter, a história começa como as outras, com Harry tendo problemas durante as férias em casa de seus tios, que não são bruxos. Como sempre, há brigas com a família Dursley. Logo depois, algo acontece para levar Harry de volta ao mundo da magia. Desta vez, o início é marcado por um ataque inesperado de dementadores a Harry, o que é estranho, pois eles normalmente ficam em Azkaban cuidando dos prisioneiros e não atacam bruxos sem um motivo claro. Isso indica que alguém pode estar mandando os dementadores, e apesar do mistério, não é tão difícil de adivinhar quem está por trás disso.

Harry é tirado da casa dos seus tios para ficar seguro e, assim, ele descobre a Ordem da Fênix. Esse grupo, criado por Albus Dumbledore, tem como missão principal combater Lord Voldemort e seus aliados, os Comensais da Morte. A Ordem foi formada muito tempo antes, quando Voldemort começou a ganhar força.

Os integrantes desse grupo se esforçam para defender o mundo dos bruxos das ameaças e ataques de Voldemort, arriscando suas vidas no processo. Eles também se dedicam a alertar e educar os outros bruxos sobre os perigos causados por Voldemort e seus seguidores, e lutam contra as falsas informações e o medo que Voldemort espalha.

Pessoas importantes como Sirius Black e Remus Lupin fazem parte da Ordem, que também contou com os pais de Harry, James e Lily Potter, no passado. A Ordem da Fênix age às escondidas, enfrentando não só os perigos vindos de Voldemort, mas também lidando com a negação do Ministério da Magia sobre o retorno de Voldemort. Eles se encontram na antiga casa da família Black, que é usada como base secreta para o grupo.

Como sempre acontece nos livros de Harry Potter, há uma nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas em Hogwarts, chamada Dolores Umbridge. Ela vem do Ministério da Magia e se apresenta com um visual doce, vestindo-se frequentemente em tons de rosa e com laços, mas seu jeito de ser é completamente diferente do que sua aparência sugere.

Umbridge é muito rígida, malvada e adora impor regras. Ela usa sua posição para estabelecer um controle severo sobre os estudantes e professores de Hogwarts. Depois, ela ganha mais poder ao ser nomeada Alta Inquisidora, aumentando sua capacidade de mexer nas regras da escola.
Ela é fiel ao Ministério da Magia e atua como uma aliada do Ministro Cornelius Fudge, que teme o retorno de Voldemort e considera Dumbledore um problema. Umbridge faz de tudo para negar que Voldemort voltou e tenta desacreditar tanto Harry quanto Dumbledore. Sua crueldade e as punições que aplica tornam-na uma figura notoriamente detestada por estudantes e leitores.

Neste volume, os três amigos principais experimentam mudanças no modo de agir. Harry está tentando superar o trauma de ter visto Cedrico Diggory morrer e é atormentado por visões que têm a ver com Voldemort. Ele se sente isolado porque muitos no mundo dos bruxos não acreditam que ele viu Voldemort retornar. Além disso, Harry estranha o fato de Dumbledore, o diretor, parecer evitar contato com ele.

Harry, que tem 15 anos, começa a sentir sua primeira paixão, enfrentando uma mistura de sentimentos e emoções novas. Ele também passa por momentos de frustração e raiva quando as coisas não acontecem como ele quer ou quando as pessoas à sua volta não agem conforme ele acha que deveriam. Essas experiências são típicas para alguém na adolescência.

Hermione fica muito chateada ao ver Hogwarts se tornar um lugar rígido e controlador. Ela toma a frente para formar a Armada de Dumbledore, um grupo secreto que desafia as regras do Ministério da Magia. Eles se reúnem para aprender Defesa Contra as Artes das Trevas, uma matéria que foi retirada do currículo da escola nesse período. Hermione mantém seu destaque por seu jeito inteligente e corajoso de enfrentar situações injustas.

Ron vira monitor em Hogwarts, e isso gera várias confusões e problemas, especialmente com Harry, que se sente um pouco deixado de lado. Neste livro, na minha opinião, Ron está menos irritante e mais fácil de gostar do que nos livros anteriores. No livro anterior, ele foi um dos personagens mais chatos da série.

Alguns personagens que já conhecemos continuam aparecendo, como Sirius Black, o padrinho de Harry que faz parte da Ordem da Fênix. Dumbledore também está presente, embora fique afastado de Harry por boa parte da história. Snape enfrenta o desafio de ensinar Oclumência a Harry para proteger sua mente das invasões de Voldemort.

No entanto, personagens que antes tinham papéis menores agora ganham mais atenção. Luna Lovegood, da Corvinal, é uma das primeiras a acreditar em Harry. Ela se envolve na Armada de Dumbledore e se torna uma amiga fiel, desempenhando um papel crucial na luta que acontece no final do livro. Gina Weasley, a irmã mais nova de Ron, também se destaca mais nesta história. Ela se mostra mais madura, corajosa e habilidosa com a magia, tendo um papel ativo nos momentos decisivos do livro.

HARRY POTTER E A ORDEM DA FÊNIX traz mensagens importantes, mas mostra problemas na construção da história, onde a autora às vezes não mantém uma trama consistente. Como nos livros anteriores, especialmente no terceiro e quarto, existem muitos momentos convenientes e situações sem explicação. Além disso, há comportamentos dos personagens que não fazem muito sentido, parecendo existir só para mover a história adiante. Muitos desses problemas poderiam ser resolvidos facilmente na vida real, até mesmo com uma conversa simples.

A história do Ministério da Magia ignorando Harry e Dumbledore sobre o retorno de Voldemort continua assim porque a autora decidiu dessa forma. Não existe uma justificativa clara para essa negação, para a birra com Dumbledore ou para a rejeição das palavras de Harry. Antes, Harry era visto como um grande herói, mas agora, de repente, sua palavra é desacreditada para servir à trama do livro.

A escolha de Dumbledore de ficar longe de Harry parece ser apenas para mover a história. Não faz muito sentido. Quando Dumbledore finalmente conversa com Harry no fim do livro, explicando tudo em detalhes, a situação parece sem sentido, até embaraçosa. O segredo que o fez se afastar não é algo discutido nos livros anteriores, sugerindo que foi uma ideia colocada de repente neste livro, não uma parte bem pensada da história desde o começo. Isso dá a impressão de que a explicação foi feita às pressas, sem considerar uma maneira mais sólida e respeitosa de envolver o leitor.

A tentativa de mostrar as dificuldades da adolescência nos personagens se foca demais em Harry. Os demais personagens parecem continuar sem muitas alterações significativas. Essa ênfase excessiva em Harry pode torná-lo difícil de aguentar neste livro, pois ele frequentemente tem ataques de raiva, duvida sem motivo da lealdade dos seus amigos e até do seu mentor, Dumbledore. Parece que a autora não distribuiu esses traços de desenvolvimento e desafios de forma equilibrada entre os personagens, o que poderia tornar a história mais realista e fácil de se relacionar.

A falta de cuidado na construção da história é evidente na morte que ocorre no final do livro. Essa morte parece repentina e não há uma construção adequada para ela. O personagem simplesmente está presente e, no momento seguinte, desaparece, sem uma narrativa convincente que justifique essa perda. É como se um personagem que até então lutava habilmente e vencia vários adversários, de repente, por alguma razão inexplicável, parasse de se defender e fosse derrotado. Parece que essa cena foi criada às pressas, apenas para provocar um impacto emocional e afetar profundamente o Harry, sem uma preocupação real com a lógica ou a progressão natural da história.

Entendo por que a série Harry Potter é tão popular entre os mais jovens. Muitas vezes, crianças e adolescentes não focam tanto em uma narrativa coesa ou lógica; eles se interessam mais pelas aventuras, os confrontos, surpresas e superações dos personagens. Por outro lado, leitores mais experientes podem perceber que a série tem suas falhas, com problemas na construção da trama e inconsistências. Também notam que, embora seja criativa, muitas vezes a série parece reciclar ideias de outras histórias, apresentando-as de um jeito novo.

HARRY POTTER E A ORDEM DA FÊNIX mostra que a autora, já famosa e com muitos fãs, encheu o livro com muitas páginas que não eram essenciais. Isso fez deste volume o maior da série e o mais cansativo. Ela trata de assuntos sérios, como os perigos do autoritarismo e a luta contra ele, mas de forma um tanto descuidada. Um exemplo é a tortura que Harry sofre nas mãos de Dolores Umbridge, onde a pele da sua mão é cortada ao escrever frases punitivas, algo extremamente grave. De forma pouco realista, Harry não conta a ninguém sobre esse abuso, e mesmo havendo suspeitas, os professores parecem ignorar, o que não parece fazer sentido.

HARRY POTTER E A ORDEM DA FÊNIX trata de como as pessoas lidam com o controle excessivo, a opressão e a luta pela liberdade. Os personagens enfrentam desafios injustos vindos do Ministério da Magia e também a crescente ameaça de Voldemort. Criar a Armada de Dumbledore é como uma forma de protesto, mostrando a importância de aprender por si mesmo, ter coragem e valorizar a amizade.

O livro fala sobre amadurecer, superar medos e a força que vem da união e das crenças firmes. Os personagens passam por provações que testam o que eles acreditam e a quem são leais. Além disso, a história prepara o cenário para os grandes embates que virão nos próximos livros da série. Infelizmente, tudo parece feito sem muito cuidado, com situações que não fazem sentido e que parecem acontecer só por conveniência. Isso mostra como a autora parece se perder em sua própria história.

As resenhas dos setes livros de Harry Potter se devem ao compromisso que tenho com o blog de apresentar obras literárias, sejam elas escritas por quem forem. Há resenhas de livros antigos de autores consagrados, como Mark Twain e Monteiro Lobato, por exemplo, que são carregadas de preconceito, machismo, racismo, homofobia, entre outros profundos problemas. Não penso que seja possível separar a obra do autor, pelo menos a nível de entretenimento. Mas penso que é necessário fazer isso a nível profissional, para estudar o que foi escrito e explicar o que há de errado para os tempos atuais.

J. K. Rowling publicou diversos comentários sobre identidade de gênero e direitos trans. Em vários tweets e um ensaio subsequente, ela expressou preocupações sobre o reconhecimento legal da autodeclaração de gênero e o impacto que isso poderia ter nas mulheres. Suas palavras são trans-excludentes e transfóbicas. Como resultado, Rowling é criticada por muitos fãs, ativistas e até mesmo alguns atores dos filmes de Harry Potter.

Rowling também não soube criar uma representação respeitosa e verídica dos povos indígenas norte-americanos em textos relacionados ao universo de Animais Fantásticos. Ela fez apropriação cultural e retratou incorretamente tradições e crenças indígenas. Aliás, os livros da série de Harry Potter possuem uma enorme falta de diversidade, de personagens LGBTQIA+, e excesso de estereótipos em alguns de seus personagens.

Rowling, após o final da série, tentou abrandar as críticas alegando que sempre imaginou Albus Dumbledore como gay, mas qual o motivo de não existir o menor indício disso nos livros? Parece apenas uma tentativa de inclusão retroativa. Além de que não existem personagens negros de real importância na série, apenas alguns secundários que pouco aparecem.

Devido a esses, entre outros problemas, não me sinto confortável em recomendar a leitura dos livros. A presente resenha é o resultado do compromisso em escrever sobre todos os livros. Diante do exposto acima, a escolha de leitura é sua. Minha leitura se fez com a edição em capa dura lançada em 2017.


AVALIAÇÃO:


AUTORA: J.K. Rowling
TRADUÇÃO: Lia Wyler
EDITORA: Rocco
PUBLICAÇÃO: 2017
PÁGINAS: 640
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