A pandemia de covid-19 atormenta o mundo desde o final de 2019 e ainda não conseguimos vencer totalmente esse tempo difícil. Aos poucos, a vida vai descobrindo o que é o novo normal e já tivemos filmes feitos durante esse período, dentre tantos tem um título que se destaca. INSIDE é um especial de comédia/musical da Netflix, feito em casa e praticamente por uma pessoa, que sozinha, conseguiu representar em menos de duas horas o que é viver em quarentena. É diferente e vale a pena, vem que te explico tudo!

Todas as funções gerais estão nas mãos de Bo Burnham, um diretor/comediante americano que desenvolveu esse interessante projeto em casa. O especial consiste em pequenos segmentos musicais que representam alguns sentimentos comuns durante esse período em que ficamos praticamente trancados. Tem uma música sobre as chamadas de vídeo com parentes e em como elas podem ser constrangedoras e irritantes. Tem uma música sobre o universo em que quase todos nos jogamos de cabeça, a Internet e com ela vem a obsessão em ser produtivo, motivado ou focado. Além do advento das compras online que explodiram e é claro, não podia faltar, o famoso sexo online. E cada um desses temas tem uma música engraçada que além disso tudo é sarcástica e vem com uma letra muito afiada, impossível não rir com, pelo menos, uma delas. É um humor de fácil compreensão e praticamente universal, todo mundo já passou por alguma coisa dessas ou ouviu falar.

Mas o especial não vive só de humor sarcástico, a critica social também está muito presente, principalmente no sentimento de que a Internet é terra de ninguém, onde tudo que é feito lá, não tem consequências na vida real. Muito pelo contrário, as palavras digitais têm poder e podem levantar ou destruir a pessoa que as está lendo. O mundo real também reflete muito nas canções do especial, problemas sociais como racismo, homofobia, movimentos fascistas e violações da democracia são representadas de maneira ridicularizada, pois se estamos na desgraça, rir dela às vezes ajuda. As vidas vazias e cheias de padrões inalcançáveis que tanto poluem as redes recebem uma música própria, que faz a gente pensar em quanto tempo perdemos desejando ser outras pessoas, que em alguns casos vivem apenas de fachada para uma audiência.

Já deu pra ver que o especial é bem diverso e aborda o dia a dia da vida na quarentena ao mesmo tempo em que faz crítica a problemas sociais importantes. E junto disso, o especial ainda destaca muito a importância da saúde mental. Pois ficar preso em casa, às vezes sem se cuidar, sem conseguir se distrair e exposto online a todo momento a vidas perfeitas, não faz bem a ninguém. O amadurecimento e o envelhecimento recebem uma excelente música própria que com muito humor, tenta tirar dos nossos ombros a ideia de que estamos parados no tempo. Aquele meu colega está desse jeito e eu estou assim, ele tem isso e eu não consegui aquilo, são pensamentos que as vezes não dá para se controlar e o especial entende isso e nem tenta nos dar soluções mágicas para se resolver isso. O que temos é uma análise madura e humorada de como não cultivar esses sentimentos.

Não tem representação melhor sobre como foi e ainda é viver dentro de casa, trancado e com medo do mundo lá fora. O especial usa as canções para alegrar o espectador, mas nada é infantilizado, a linguagem é extremamente engraçada, madura e relevante. Até as canções mais ridículas dizem alguma coisa importante, é todo um trabalho artístico e lírico de cair o queixo. Se trata de um especial de comédia que traz um desfecho bem sensível e reflexivo que aborda como voltar para a vida de antigamente. Como abrir a porta e enfrentar o mundo depois de tanto tempo preso em casa, preso em surtos e paranoias. E novamente aqui o texto do especial não tenta romantizar esse momento, vai ser difícil, horrível e talvez dê errado, mas não dá pra fugir, só dá pra seguir em frente.

Talvez não seja um programa para todos, principalmente para aqueles que não gostam de musicais, mas a intenção aqui é inserir uma reflexão sobre o que é não ter mais a sua vida. Ter que ficar trancado com medo de uma coisa que a gente não vê, mas está lá, solta e podendo nos atingir. O melhor teste para ver se você vai curtir ou não, é dando uma chance para os primeiros cinco minutos de duração que apresentam uma das melhores músicas do especial logo de cara, uma palinha do que vamos encontrar lá. Se você gostar, se prepare ai pra cair de tanto rir, mas se você não gostar, não tem problema, afinal nada agrada a todo mundo, né? Mas o que vale, é tentar.


CANAL: Netflix
GÊNERO: Comécida, Musical
DURAÇÃO: 53 minutos
ANO LANÇAMENTO: 2021