Em uma paisagem destruída e hostil, em um futuro ao qual poucos tiveram o azar de sobreviver, uma comunidade resiste, confinada em um gigantesco silo subterrâneo. Lá dentro, mulheres e homens vivem enclausurados, sob regulamentos estritos, cercados por segredos e mentiras. Para continuar ali, eles precisam seguir as regras, mas há quem se recuse a fazer isso. Essas pessoas são as que ousam sonhar e ter esperança, e que contagiam os outros com seu otimismo. Um crime cuja punição é simples e mortal. Elas são levadas para o lado de fora. Juliette é uma dessas pessoas. E talvez seja a última.

SILO é uma distopia que leva o leitor para um mundo pós-apocalíptico sombrio e claustrofóbico. A narrativa é envolvente e a atmosfera é intensa, recheada de mistérios, com uma sequência de revelações surpreendentes que ajudam a manter o interesse na leitura sequencial dos capítulos.

A história se desenrola em um futuro distante, onde a humanidade é forçada a viver em um enorme silo subterrâneo, com centenas de níveis, devido a um mundo devastado por condições tóxicas. A vida no silo é governada por regras rigorosas e uma sociedade estratificada, onde cada nível tem sua função específica. O acesso ao mundo exterior é impossível pela incapacidade de sobrevivência. E a expulsão do silo é a maior das punições.

Embora seja impossível a sobrevivência fora do silo, é dada às pessoas a liberdade de escolherem. Basta a pessoa pedir para sair, que é imediatamente atendida. Uma vez do lado de fora, é pedido que a pessoa limpe as lentes das câmeras para que as imagens transmitidas dentro do silo permaneçam com qualidade. Todas que saem, ou porque pedem, ou por punição, desempenham essa limpeza, para logo depois morrerem.

A protagonista, Juliette, é uma mecânica encarregada de manter as engrenagens mecânicas do silo funcionando. Essas engrenagens proveem energia para tudo dentro do silo, inclusive ar limpo. Quando um importante membro da comunidade morre em circunstâncias suspeitas, Juliette se vê envolvida em uma trama de segredos e conspirações que podem abalar as bases do silo. Conforme ela desvenda os mistérios por trás do funcionamento do mundo em que vive, sua vida passa a correr perigo, bem como daqueles que a ajudam.

Além de Juliette, também acompanhamos Bernard, o prefeito, o antagonista dúbio de Juliette. Ele carrega o peso das responsabilidades de liderança e é um defensor incondicional das regras que governam o silo. Tem uma personalidade autoritária e toma decisões controversas em nome do bem-estar da comunidade. É a representação da pessoa que sucumbe diante do poder e perde a noção do certo e errado, além das consequências morais e éticas.

Troy, o chefe da segurança, é um personagem intimidador e enigmático. Ele é o executor das punições do silo e, à primeira vista, parece ser um homem implacável e frio. No entanto, à medida que a história se desenrola, sua motivação e a complexidade de suas ações são reveladas, desafiando a visão inicial que o leitor pode ter dele.

Outro personagem que vale destacar é Lukas, um dos amigos mais próximos de Juliette. Ele é atormentado por um segredo e é através de sua perspectiva que somos apresentados a algumas das camadas mais sombrias do silo. Sua jornada pessoal e sua relação com Juliette trazem um senso de urgência e intensidade adicionais à história.

Uma das maiores qualidades de SILO é a habilidade de Hugh Howey em criar uma atmosfera opressiva e cheia de tensão. A descrição detalhada do ambiente, suas regras e limitações, transmite uma sensação palpável de claustrofobia e desesperança. O autor nos faz sentir a constante pressão psicológica enfrentada pelos personagens, bem como o desejo de descobrir a verdade que se esconde nas profundezas do silo. Verdade essa que é facilmente decifrada pelo leitor, mas sem perder o interesse pela história, principalmente devido à curiosidade de acompanhar o que acontece com Juliette.

SILO é um livro que nos faz questionar o poder, a lealdade e a natureza humana em um mundo onde a sobrevivência é tudo. Com sua trama instigante, personagens envolventes e atmosfera opressiva, Hugh Howey entrega uma distopia que agrada.

E a série?

A série homônima é bastante fiel à narrativa do livro, com pequenas modificações. Rebecca Ferguson (Missão Impossível – Fallout) interpreta Juliette com perfeição. Ela consegue passar para a personagem a dualidade que está no livro, de uma mulher frágil diante da opressão do mundo em que vive, mas extremamente forte nas suas convicções e corajosa para procurar respostas, mesmo colocando sua vida em risco.

Tim Robbins (Um sonho de liberdade) faz um Bernard misterioso e perigoso. O ator consegue transmitir uma expressão doce ao mesmo tempo que usa o olhar para demonstrar sentimentos escondidos, que nem sempre condizem com o que fala ou com o que faz.

A série da Apple TV+ estende alguns dos acontecimentos do livro para conseguir criar mais episódios, e modifica a ordem de outros, mas sem afetar o sentido da história original. O ambiente reproduz com certa fidelidade a claustrofobia descrita no livro, mas mantém uma inconsistência que não é muito bem explicada: a dimensão dos níveis e das escadas do silo. No livro, como na série, para uma pessoa ir de um andar para outro mais distante, poderia levar dias. Mas visualmente na série, isso não fica evidente, uma vez que as escadas são bem curtas e, principalmente na descida, seria possível descer ou subir dezenas e dezenas de níveis em poucos minutos.

Essa dúvida é igual no livro, uma vez que o autor não usa de metragens para conseguir explicar a dimensão do ambiente, dos andares ou das escadas. A sensação que fica é a de que o silo é gigantesco, com uma separação de níveis de quilômetros e não de poucos metros. Essa dimensão cria alguns problemas, uma vez que algo tão gigantesco, seria muito difícil de ser administrado e ter uma locomoção a pé, algo que não acontece na história.

Mas de maneira geral, a série consegue criar um clima de mistério que consegue prender a atenção de quem assiste, embora a maioria dos segredos sejam facilmente desvendados antes de serem apresentados na tela, bem como acontece no livro. É mais uma distopia de suspense, com perseguições e mortes. Vale assistir, mas sem expectativas demais. Da mesma maneira que o livro.


AVALIAÇÃO:


AUTOR: Hugh Howey
TRADUÇÃO: Edmundo Barreiros
EDITORA: Intrínseca
PUBLICAÇÃO: 2019
PÁGINAS: 512