Emily é uma menina de 13 anos e poderia pular de prédios muito altos, se estivesse a fim. É mais provável que esteja cochilando ao lado de seus quatro gatos pretos; ou montando rapidamente um acelerador de partículas com fios de algodão, lentilhas e alfinetes de segurança; ou tocando bateria/guitarra/saxofone/cítara; ou pintando um mural furioso no esgoto; ou forçando alguém a dizer “três tigres tristes” treze vezes e bem rápido… Para poder apontar na cara desse alguém e rir.

Lá em 2014, eu estava na Livraria Leitura, e enquanto esperava o vendedor buscar um livro que queria comprar, fiquei olhando as prateleiras. Meus olhos bateram na edição caprichada de EMILY THE STRANGE – OS DIAS PERDIDOS e foi paixão à primeira vista. Não apenas pela linda capa, e sim por seu conteúdo que me convenceu a arriscar. Ele é cheio de listas de pistas, desenhos, pontos de interrogação e mais uma série de características que remetem a histórias de bruxas e magia. Para um apreciador desse gênero, a curiosidade foi imensa. Já adianto que não me arrependi da compra. Tanto que comprei o segundo livro, EMILY THE STRANGE – DUAS VEZES ESTRANHA, logo após finalizar a leitura do primeiro.

Emily é uma garota de 13 anos que acorda em uma pequena cidade chamada Blackrock, com um caderno em branco com 11 páginas arrancadas, sem saber seu nome, quem é, de onde vem, por que está ali ou o motivo de não se lembrar de nenhuma dessas informações. E na cidade, ninguém conhece Emily. Assim, ela começa uma busca pelas pistas que podem resgatar sua memória e explicar toda aquela confusão.

A primeira coisa que me veio à mente durante a leitura, foi a similaridade com os extintos jogos do estilo adventure para computador. Nesses jogos, nós controlávamos um personagem, que precisava reunir pistas, através da procura e confecção de objetos e ações, para conseguir avançar no jogo e na história, até chegar ao final. E é exatamente isso que o autor Rob Reger faz: ele permite ao leitor acompanhar Emily na busca dessas pistas e itens, e descobrir, junto da personagem, o que aconteceu. O mais contagiante no livro é exatamente essa cumplicidade entre a personagem e o leitor. Ela não é mais inteligente do que quem lê, e todas as descobertas e ideias são feitas em parceria com o leitor. Em certo ponto, senti-me parte da história e totalmente satisfeito por pensar nas soluções no mesmo momento em que lia que Emily pensava igual.

Vale um destaque para essas pistas e soluções, tão mirabolantes, divertidas e criativas quanto os jogos de computador. Todas remetendo a magia e tecnologia baseada em magia. Temos de tudo: vestidos com bolsos onde cabem todos os objetos encontrados, robôs, máquinas do esquecimento, gatos misteriosos, veículos equipados com equipamentos fantásticos, materiais que concedem poderes, leitura e pensamentos, desafios e batalhas de poder.

Mas tudo isso poderia ser perdido se a personagem principal não agradasse. Acontece que Emily é extremamente cativante. As indagações que ela faz no diário, como se estivesse perguntando e desabafando com o leitor, cria uma empatia automática. Suas tiradas cômicas fazem rir na medida certa, e os apuros em que se mete, obrigam o leitor a quase querer entrar na história para participar.

No segundo volume, DUAS VEZES ESTRANHA, Emily muda de cidade com sua mãe a contragosto. Para sair do ostracismo, ela inventa uma máquina capaz de duplicar objetos. Depois de um acidente com um espelho, a máquina duplica a própria Emily. De início, ela adora ter uma cópia de si mesma, é uma forma de conseguir lidar com a mãe e criar traquinagens pela cidade, além de dividir tarefas chatas que estragam a diversão do dia. Mas a Outra Emily se mostra diferente do esperado, mais estranha ainda, com atitudes suspeitas. E, aos poucos, Emily desconfia que a Outra Emily esteja planejando se tornar a Única Emily.

Essa continuação é tão boa quanto o primeiro volume. Emily se mete em uma enrascada ainda pior, e a narrativa tem a criatividade de criar peças no leitor, quando mistura os trechos do diário de Emily com o do diário da Outra Emily, deixando a dúvida de quem está escrevendo e qual a veracidade do que é contado. Muito bom!

EMILY THE STRANGE foi uma agradável descoberta. Um livro escondido nas prateleiras das livrarias, em um edição de luxo, com capa dura, jacket e folhas de gramatura alta, cores e desenhos, uma pequena maravilha que gritou para que eu a encontrasse. Viva à magia!


AUTORA: Rob REGER
TRADUÇÃO: Santiago NAZARIAN
EDITORA: Galera
PUBLICAÇÃO: 2011
PÁGINAS: 278


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