Um filme que com certeza irá marcar presença nas premiações no final de 2020 e começo de 2021, é OS 7 DE CHICAGO, novo drama da Netflix que irá nos mostrar um dos mais famosos e infames julgamentos da história americana. Sete homens, ou oito, que estão sendo julgados juntos, acusados de serem responsáveis pelo caos e, consequentemente, pelo massacre que aconteceu durante uma manifestação que pedia a paz e o fim do envolvimento americano na guerra do Vietnam. Além de te ensinar muita coisa, o longa é uma excelente aposta para um entretenimento reflexivo, vamos conhecer mais?

A Guerra do Vietnam foi, talvez, o primeiro conflito armado visto pela TV de forma simultânea pela população. Os horrores gráficos estavam sendo exibidos em imagens e fotos, foi uma guerra que, para muitos, era desnecessária. Os Estados Unidos estavam de um lado e os Soviéticos do outro, usando um instável Vietnam como bode expiatório durante a Guerra Fria.

O conflito foi imposto à força na população americana, que não estava mais conseguindo aceitar as pesadas convocações de homens. Grandes manifestações pela paz e pelo o fim da guerra arrastaram multidões em grandes cidades nos Estados Unidos. Uma dessas cidades era Chicago, onde um violento conflito entre policiais e manifestantes derramou muito sangue. Os líderes de vários grupos, que participaram da manifestação, foram acusados de incitar o caos e agora serão julgados. Sete líderes de grupos diferentes, que não se conheciam e nem coordenaram seus atos. Então, como todos estão sendo julgados juntos? OS 7 DE CHICAGO vai relembrar um dos julgamentos mais famosos da história americana, ao mesmo tempo em que vai nos mostrar como foi a luta pela paz, que parece nunca ser prioridade para os poderosos.

Escrito e dirigido por Aaron Sorkin, premiado roteirista que ganhou um Oscar pelo seu trabalho no texto de A REDE SOCIAL, sensacional drama sobre a criação do Facebook. Em OS 7 DE CHICAGO, temos o seu segundo trabalho na direção e o mesmo consegue construir um filme muito palpável para qualquer público. Esse julgamento é muito emblemático e famoso nos Estados Unidos, mas o filme tem um cuidado especial de apresentar os fatos para todos, principalmente aqueles que não tem conhecimento prévio. Temos também uma boa apresentação da época em que o filme se passa, porque sem ela, é impossível entender como isso tudo aconteceu e que era, basicamente, uma tragédia anunciada.

Temos muitos personagens e todos tem seu espaço para apresentação e desenvolvimento. O destaque vai para a dupla de hippies, que arrastaram seus apoiadores para a manifestação, que foi planejada desde o início para ser pacífica. Ela iria acontecer, não era possível ninguém impedir eles de se expressarem, mas os excessos da policia, que já aconteciam há muito tempo, espalharam o caos e agora os poderosos queriam apenas alguém fora do sistema para culpar e fazer de exemplo, então por que não malucos hippies que ninguém leva a sério? Costumados a serem feitos de chacota, esses homens são os que mais recebem destaque entre os sete julgados e as suas personalidades movem o ritmo do filme para um lado mais cômico. É uma situação absurda, onde eles estão sendo feitos de alvo, então por que não satirizar um pouco? Os homens fazem piada de tudo, não se abalam e estão nem aí para o que pode acontecer, pois eles conhecem o sistema e sabem como ele é sujo e manipulado.

Dentre os outros julgados, temos líderes estudantis, outro grupo que sempre é pioneiro nas lutas pela paz e liberdade. Eles seguem uma metodologia diferente, mas que também conseguem resultados concretos desestabilizando esse julgamento fajuto. A questão racial também tem espaço na trama, já que entre os sete, existe um homem negro que está lá apenas para que o juiz racista possa condenar um homem negro e seus ideais. Martin Luther King tinha sido assassinado há pouco tempo, a luta pelos diretos civis ainda estava acontecendo e os Panteras Negras, grupo de militantes, estava no seu auge, logo era impossível a população negra não ser acuada de nada.

Precedendo esse julgamento, tinha um juiz que já sabia o veredito antes mesmo do julgamento começar. Ele queria condenar todos, não era imparcial e não estava aberto a ouvir os dois lados. Logo o julgamento vira um caos, um autêntico circo, onde absurdos acontecem a toda hora. Toda essa odisseia leva para o espectador um sentimento de que algo não está certo, que a justiça nunca irá se concretizar nesse julgamento.

Tecnicamente, o longa reconstrói com excelência um Estados Unidos dos anos 70, o ritmo é muito agradável, visto que o longa tem mais de duas horas e o espectador fica tão imerso nessa confusão, que nem vê o tempo passar. A fotografia e a edição também merecem destaque, principalmente nos momentos onde as cenas de arquivo, cenas reais dos eventos mostrados, se misturam com as cenas de ficção.

O elenco é monstruoso e tem grandes atores por todos os lados. O destaque vai para Sacha Baron Cohen, famoso pelo seu personagem Borat, que virou um polêmico filme. O comediante irreverente e da crítica está presente do seu personagem, um dos líderes do movimento hippie. Sarcasmo e incomodo são boas definições do que seu personagem transmite para as pessoas presentes no filme. Um excelente desempenho, firme e dedicado que merece ser lembrado nas premiações. Destaque também para Jeremy Strong, que vive o outro hippie em julgamento, e mesmo que esteja usando uma caracterização pesada, seu personagem se destaca, quebra a calmaria, marcando presença.

O ganhador do Oscar, Eddie Redmayne, protagonista da série de filmes ANIMAIS FANTÁSTICOS, também apresenta um desempenho firme e focado. Como um dos líderes do movimento estudantil, ele entrega não uma e nem duas, mas várias cenas excelentes, destaque para o ato final onde ele simplesmente quebra com tudo. O veterano Frank Langella vive o juiz injusto e imparcial e seu desempenho causa muita ira do espectador, impossível não querer dar um murro nesse personagem, que na vida real, era ainda pior. Joseph Gordon-Levitt, de 500 DIAS COM ELA, vive um dos promotores e seu personagem parece estar transitando sempre de um lado para o outro, mas ainda sim marca presença e merece destaque.

O único problema que o filme carrega é justamente no seu encerramento, que nada mais é do que um falso final, onde ficam muitas coisas em aberto e a gente só sabe o que aconteceu, graças às informações complementares que o longa trás antes dos seus créditos subirem. No cinema sempre é bom mostrar mais e falar menos, a cena final é boa, mas esses personagens mereciam um pouco mais de tempo para encerrarem suas jornadas atrás da liberdade. Ainda assim, o longa vale muito a pena e é uma opção muito acima da média dos longas originais que a Netflix vem lançando nos últimos messes. Trama poderosa, bem apresentada, bonita visualmente e com um elenco espetacular. Merece ser apreciado.


DIREÇÃO: Aaron SORKIN
DISTRIBUIÇÃO: Netflix
DURAÇÃO: 2 horas e 10 minutos
ELENCO: Sacha Baron COHEN, Eddie REDMAYNE, Joseph GORDON-LEVITT, Frank LANGELLA, Michael KEATON