A CANÇÃO DAS ÁGUAS é o primeiro volume da duologia Jornada das Águas, da autora Sarah Tolcser, publicado pela Editora Plataforma 21. Esse é um livro de fantasia Young Adult, que aborda diversos temas interessantes, como o empoderamento feminino e o papel da mulher como um todo, seja dentro de um relacionamento ou em meio a sociedade em que ela está inserida.

Nesse livro, conheceremos a história da Caroline Oresteia, uma jovem de 17 anos que é filha do capitão Nicandros Oresteia. Ela e seu pai trabalham em uma pequena barca e ganham a vida fazendo entregas, seja de produtos lícitos ou até mesmo de contrabandos. Carô cresceu com a certeza que um dia iria receber o chamado do Deus do Rio, que conversa com os marinheiros na linguagem das pequenas coisas. Todavia, anos se passaram e até o momento, ela ainda não recebeu o chamado e está cada vez mais frustrada com isso, pois todas as gerações anteriores de sua família, conversavam com o Deus do Rio – inclusive seu pai – e, aparamente, ela é a única que não foi agraciada com este dom.

Durante uma de suas entregas, Nick atraca no porto Pontal de Hespera, que foi atacado por um cúter que pertence a um grupo pirata denominado Cães Negros. Eles afundaram onze barcas e ali, em meio a toda aquela destruição, Nick recebe uma proposta para transportar uma carga misteriosa – que aparentemente foi a causa de toda aquele massacre – até Valonikos, uma cidade que fica a uma semana de viagem. Todavia, Nick se recusa a transportar a carga e é preso. Agora, cabe a Carô a missão de transportar a carga até seu destino e assim libertar o seu pai da prisão.

Carô parte de Hespera com Fee – que faz parte da raça de homens-sapos, que segundo histórias, nasceu da união do Deus do Rio com a filha de um barqueiro -, uma Carta de Corso e o caixote. Ela recebeu ordens rígidas para não o abrir. Mas essa não será uma jornada fácil, pois existem diversas pessoas interessadas na carga que farão qualquer coisa para colocar as mãos nessa preciosidade.

A CANÇÃO DAS ÁGUAS é um livro intenso que me surpreendeu bastante. Como a trama gira em torno de uma viagem marítima, eu esperava algo bem monótono, no entanto não foi o que eu encontrei. Durante essa viagem, temos aventura, fantasia, mitologia, romance e piratas da pior espécie, sem esquecer, é claro, das intrigas políticas.

Carô é uma personagem bem cativante, eu adorei sua personalidade, ela é forte, independente, aventureira e, acima de tudo, não é cheia de mimimi como vemos em diversos livros do gênero. Mas, apesar de tudo, ela também tem suas inseguranças, o que a torna bem “humana”.

Durante a história, a autora levanta diversos questionamentos sobre o papel da mulher e o seu direito de escolha. Isso foi algo que eu achei bem interessante, principalmente pelo público do livro ser mais jovem. Acho que a autora mostrou, de uma maneira simples e bem clara, que quando uma mulher diz não, é não! Esse direito de escolha não deve ser tirado dela, independente do meio cultural ao qual está inserida.

O romance foi algo que eu gostei bastante. No entanto, senti que tudo aconteceu muito rápido – estou reclamando? Não! –, mas esperava que isso fosse trabalhado um pouco melhor, principalmente pelo fato de que eu não gostei nem um pouco do personagem masculino no começo. Olhando pelo contexto geral, eu achei que o romance levantou diversos questionamentos, tanto para os personagens, quanto para mim como leitora, e acho que ele não estava ali apenas para tornar as coisas mais interessantes e sim para levantar e debater questões importantes como o consentimento.

Os personagens são fortes e decididos, eu adorei a forma como a Sarah trabalhou cada um deles, desde os principais até os antagonistas. A narrativa da autora é extremamente envolvente e fluída; os mistérios são interessantes e me mantiveram presa na história do início ao fim; o cenário político foi bem trabalhado e, apesar de ter ficado um pouco confusa no começo, situei-me relativamente rápido em tudo o que estava acontecendo.

Em relação à parte física do livro, essa capa é linda, o título do livro está em alto-relevo, as folhas são amareladas e a fonte usada facilitou bastante a leitura. A cada novo capítulo, temos um detalhe em forma de onda, que eu particularmente achei bem fofo. A narrativa é feita em primeira pessoa pela Carô. Eu confesso que senti falta de um segundo ponto de vista, gostaria de ter a oportunidade de ver as coisas por outro ângulo, mas, infelizmente, não aconteceu.

A CANÇÃO DAS ÁGUAS é o livro de estreia da Sarah Tolcser e ela cumpriu perfeitamente o seu papel me introduzindo nessa jornada. Eu estou muito ansiosa pelo segundo livro, ele foi publicado dia 05 de junho e tem como título: Whisper of the Tide. Espero que a Editora não demore a lançá-lo aqui.


AVALIAÇÃO:


AUTORA: Sarah TOLCSER vive em Nova Orleans (EUA) com o marido e três gatos, trabalhando com iPads quebrados e computadores defeituosos. Graduou-se em Escrita Criativa e Filosofia na Univerdade St. Lawrence. Escreve romances de fantasia e ficção científica para jovens, e é apaixonada por video games, basquete e livros com protagonistas fortes. Song of The Current é seu romance de estreia
TRADUÇÃO: Edmundo BARREIROS
EDITORA: Plataforma 21
PUBLICAÇÃO: 2018
PÁGINAS: 432


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