Em 2015, Clauddine “Dee Dee” Blanchard foi encontrada morta em sua casa, e sua filha, Gypsy Rose, cadeirante com vários problemas de saúde, desaparecida, possivelmente vítima de um sequestro. Mas a verdade é bem diferente. A investigação do assassinato de Blanchard desvendou que Blanchard fabricou na filha uma série de doenças que ela não tinha, para manter a criança dependente de seus cuidados.

Síndrome de Münchhausen é um transtorno factício, ou seja, os indivíduos fingem ou causam a si mesmo,ou a outros, doenças ou traumas psicológicos para chamar atenção ou simpatia ou dependência a eles. Sintomas podem ser induzidos por drogas, toxinas ou objetos para simular uma doença e convencer os profissionais de saúde a fazerem um diagnóstico.

Blanchard havia trocado de nome, uma vez que ela era suspeita de ter assassinado sua madrasta, e começou a levantar suspeitas de seu comportamento devido ao excesso de cuidado que tinha com Rose. A situação mudou, quando Rose começou a suspeitar da mãe após ter conhecido Nicholas Godejohn pela Internet, um jovem que viria a se tornar seu namorado virtual. Os dois descobriram a verdade sobre a condição de Rose e planejaram o assassinato de Blanchard. Hoje, Rose e Godejohn estão presos pelo crime. Rose cumpre uma sentença de 10 anos, enquanto Godejohn foi condenado a prisão perpétua.

Essa história real e bastante conhecida, é a base de O SEGREDO DE ROSE GOLD. Da mesma forma que na vida real, a personagem do livro, Rose Gold, descobriu, aos 17 anos, que as doenças que tinha desde a infância, eram fabricadas pela mãe, Patty Watts, para mantê-la por perto. Rose Gold não mata a mãe, como aconteceu na caso verídico, mas a denuncia à polícia.

Patty Watts recebe uma condenação de cinco anos. Nesse período, Rose Gold reestrutura sua vida, agora saudável, fora do controle dos medicamentos que simulavam suas doenças. Quatro anos depois, Rose, agora mãe de uma criança, tenta se reaproximar da mãe, iniciando uma série de visitas na prisão. E um ano mais tarde, quando Patty Watts cumpre sua sentença e é solta, Rose leva Patty para morar consigo e ajudar na criação do neto. Mas, apesar de toda a demonstração de reconciliação de Rose, Patty desconfia de que existe algum plano por trás do comportamento amigável da filha. Mas Patty também não está sendo totalmente sincera.

Embora O SEGREDO DE ROSE GOLD seja baseado em fatos reais, a narrativa segue uma linha própria de acontecimentos, inclusive em seu desfecho. A forma de conduzir a trama para causar surpresas, é bastante hábil, e a escolha da autora em duas narrativas em primeira pessoa, uma de Patty e outra de Rose, ajudam nessas surpresas e no clima constante de paranóia em que insere o leitor.

O mais surpreendente é a escolha de não criar apenas uma vilã para a história. Quando Rose Gold conhece seu pai biológico, agora já uma mulher, acompanhamos um comportamento que poderia levantar dúvidas sobre a veracidade da culpa de Patty. Se não fosse a narrativa dupla, onde o leitor confirma a culpabilidade de Patty desde a primeira página, seria difícil acreditar plenamente em Rose. E isso acaba se tornando assustador.

O SEGREDO DE ROSE GOLD traz duas personagens doentes. Uma desde sempre, outra o resultado traumático do tratamento que recebeu da primeira. Por conta disso, é difícil criar um julgamento totalmente correto sobre a conclusão da história. Vai dependente inteiramente de cada leitor, e a resposta será diferente de um para o outro. A única certeza, é de que o ser humano é uma criatura muito frágil, cheia de defeitos, e com uma mente que pode se tornar imprevisível e cruel.


AUTORA: Stephanie WROBEL
TRADUÇÃO: Ryta VINAGRE
EDITORA: Verus
PUBLICAÇÃO: 2020
PÁGINAS: 308


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