A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER é um romance filosófico, publicado em 1984, que fez grande sucesso, tornando-se um best seller e ganhando uma adaptação cinematográfica, em 1987, pelo diretor Philip Kaufman.

Tudo se passa no final dos anos 60, em Praga, com protagonistas que vivenciam diversos conflitos pessoais, principalmente quanto a amor e sexo, passando por momentos bem delicados em seus relacionamentos. No período da história, a República Tcheca passava por diversos conflitos históricos, estando sob domínio da União Soviética após a Segunda Guerra Mundial. Assim, o contexto é bastante intricado e merece atenção, levando em conta a perda de identidade daquele povo. Aconselho que, antes da leitura, realizem uma pesquisa histórica sobre as guerras da época e a Primavera de Praga (período de liberalização política na Tchecoslováquia).

Inicialmente, conhecemos Tomas, um médico rico que vive diversos romances sem compromisso, até que conhece Tereza, garçonete num restaurante, na Boêmia, e eles se envolvem intensamente. Aos poucos, ela começa a despertar sentimentos no coração de Tomas, levando ambos a um relacionamento estável. No entanto, diferente do que esperamos, Tomas mantém encontros íntimos com sua amiga Sabina, uma artista plástica moderna e bem resolvida, inventando viagens a trabalho para a esposa a fim de encontrar a amante. Em determinado ponto da narrativa, conhecemos Frank, um homem casado que se relaciona com Sabina e se apaixona perdidamente por ela, chegando a considerar pedir o divórcio. No entanto, ela não aceita a situação e foge.

Confesso que Teresa me pareceu insignificante nos primeiros capítulos, mas foi quem mais me chocou com suas atitudes, particularmente com os casos extraconjugais de Tomas; e ainda sua dependência emocional e a forma como se submeteu a situações tão infames é assustadora. Sua história traz um passado turbulento, com grande carga psicológica, principalmente, quanto aos conflitos com a mãe, que entendemos um pouco a partir dos pontos de vista da personagem. Aos poucos, vamos percebendo o quanto o relacionamento entre Teresa e Tomas é pesado, o que entra na reflexão do autor no início do livro.

Não existe meio de verificar qual é a decisão acertada, pois não existe termo de comparação. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida?

A obra não possui um enredo bem delineado e com cronologia; na verdade, é uma narrativa não-linear, feita por diferentes pontos de vista, que gira em torno de questões existenciais dos personagens. Em dados momentos, a mesma história se repete na visão de outra pessoa, o que é utilizado pelo autor para a construção dos indivíduos, que evidenciam seus pensamentos e atitudes no momento em questão. Os relações interpessoais desenvolvidas por Kundera me causaram aflição e certo choque também, pois fogem muito do que esperamos da convenção da época, havendo muitas atitudes desrespeitosas entre os casais e certa violência, além de traições e cenas eróticas. Por esses motivos, não recomendo a leitura para menores de 18 anos.

A escrita do autor é hipnótica, impactante. Ele propõe muitas discussões sobre temas conflitantes, como: leveza x peso, verdade x mentira, liberdade… O título do livro leva à principal ideia do autor: o que é ser leve e o que é ser pesado? Será que a leveza do ser está naquela pessoa que não se importa com nada nem ninguém? Será que a pessoa responsável e preocupada não vive de modo leve? Ser leve é sinônimo de felicidade? Qual o sentido da vida? Segundo Milan Kundera, a leveza do ser é insustentável! Nós vamos entendendo isso com o passar das páginas…

Quanto mais pesado é o fardo, mais próxima da terra está nossa vida, e mais real e verdadeira ela é. Em compensação, a ausência total de fardo leva o ser humano a se tornar mais leve do que o ar, leva-o a voar, a se distanciar da terra, do ser terrestre, a se tornar semirreal, e leva seus movimentos a ser tão livres como insignificantes. O que escolher então? O peso ou a leveza?

Este livro desperta sentimentos opostos nas pessoas: há quem ame e há quem odeie, o que se deve às peculiaridades da escrita do autor e complexidade da obra. A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER me conquistou desde o primeiro capítulo, sempre com reflexões filosóficas interessantíssimas que nos colocam para pensar. Além disso, o autor faz uma construção psicológica fantástica dos personagens, evidenciando o quanto somos seres únicos, cada um com suas opiniões e ideias sobre a vida e o universo. É o tipo de leitura que transforma, enriquece seu leitor.


AVALIAÇAO:


AUTOR: Milan KUNDERA nasceu em Brno, na República Tcheca, em 1929, e emigrou para a França em 1975, onde vive como cidadão francês. É romancista e pensador de renome internacional, tendo escrito diversas obras famosas no mundo todo, como “O livro do riso e do esquecimento” e “A ignorância”.
TRADUÇAO: Tereza Bulhões Carvalho da FONSECA
EDITORA: Companhia das Letras
PUBLICAÇAO: 2017
PÁGINAS: 344


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