Gostaria que PÂNICO tivesse sido mais um livro favoritado da Lauren, mas não foi o que aconteceu. De início já achei a sinopse confusa, afinal, o que deve ter de tão espetacular em um monte de adolescente jogando algo competitivo e disputando um dinheiro arrecadado por alunos? Bem, pra polícia estar envolvida, a história devia ser realmente boa. Resolvi dar uma chance, achando que eu poderia me surpreender, mas só me arrependi.

Em PÂNICO, vamos conhecer alguns jovens que acabaram de se formar no ensino médio. Como tradição, parte deles decide participar do jogo que intitula o livro. Esse jogo dura todo o verão e possui desafios que vão do básico ao extremamente difícil (e estúpido). À medida em que os competidores são eliminados, as provas ficam mais difíceis. A má notícia é que a fama do jogo chama a atenção da polícia, que passa a monitorar tudo e todos, mas a boa é que o vencedor leva uma bolada de 67 mil dólares.

No primeiro desafio, chamado O Salto, os competidores devem pular de uma pedra alta em direção ao mar. Após isso, a participação é validada e o participante está apto a seguir na competição. Alguns dos que pulam são Heather, uma garota normal e que nunca se considerou destemida; Natalie, uma jovem que tem medo de absolutamente tudo e entra no jogo apenas pelo dinheiro; e Dodge, cujo segredo obscuro é usado como combustível para vencer essa edição.

Meu problema com esse livro começou quando Heather, uma das protagonistas, se mostrou extremamente irritante. A garota só sabia pensar no ex, Matt, e em como ele havia partido seu coração. Depois veio Natalie, extremamente fútil e egoísta. Dodge e Bishop foram os que mais gostei, embora também tenham me irritado com toda a sua problematização adolescente.

Depois, quando já estava lá pra metade do livro, percebi que o tal “pânico”, que deveria ser o foco da história, acabou ficando em último plano. A autora se voltou tanto pra vida dos adolescentes, para os romances, as intrigas, quem odiava quem, quem queria se pegar, que esqueceu completamente do jogo. Quero dizer, ela descreveu os desafios, intercalou os momentos “vida-adolescente” com “jogo-mortal-e-disputado”, mas ela se perdeu totalmente na narrativa. Ao invés de deixar o leitor aflito pelo jogo, deixou ele entediado com a rotina dos personagens.

Os desafios do “pânico” se mostraram coisas chatas de jovem com muito tempo livre. Os jurados, pessoas anônimas que coordenam todo o jogo e mandam mensagens no maior estilo Pretty Little Liars, criam desafios tão entediantes que me recuso a acreditar que isso seja uma tradição e que valha tanto dinheiro.

A autora tentou criar uma relação entre o leitor e os personagens ao dar uma vida sofrida pra eles. Isso realmente me chamou a atenção, confesso, mais até do que a proposta inicial. E acho, inclusive, que o livro seria muito mais bem aproveitado se a Lauren tivesse focado nesses problemas e deixado o tal jogo de lado. Mas não, acabou que essas problemáticas, temas que possuem muito pano pra manga, ficaram sem solução. Eles só existem, continuam lá, e a mensagem que recebemos é a de que nada nunca irá mudar.

Outro ponto que me irritou bastante foi a forçação de barra pra criar trechos de reflexão e quotes marcantes. Deu pra ver que aquilo foi pensado apenas pra ser grifado pelo leitor, não foi natural. Como pode uma garota perdida na vida, que mal sabe o que comer no jantar, de autoestima extremamente baixa, ter pensamentos tão filosóficos? Fala sério!

Mas pra não dizer que a leitura foi de toda ruim, tenho alguns pontos positivos pra ressaltar. O primeiro deles é o fato de a autora ter intercalado pontos de vista: ora acompanhamos os acontecimentos pelo ponto de vista de Heather, ora pelo de Dodge. Sempre gosto quando isso acontece porque o leitor pode ter uma visão mais ampla da situação. Isso aconteceu aqui, e ainda bem que aconteceu, porque se fosse pra acompanhar toda a narrativa pelos olhos de Heather…

Dodge e Bishop, como já mencionei, foram os personagens que me cativaram desde o início. Dodge tinha um propósito pra participar do “pânico”, não era só mais um adolescente entediado nas férias de verão. Bishop, embora subestimado pelos colegas, era o mais adulto da situação. Os dois foram o motivo pelo qual eu não larguei a leitura pela metade.

Outro ponto positivo, e acredito que o último, é que a passagem do tempo é bem marcada durante a narrativa. Como o jogo só acontece durante o verão, os dias e meses são mencionados antes de iniciar uma nova página. Isso nos dá uma boa noção de tempo e espaço, proporcionando uma melhor ambientação com relação à duração de certos acontecimentos.

Infelizmente esses pontos positivos não foram suficientes pra mim. Por já ter contato com outras obras da autora (e adorar todas elas), me recuso a aceitar que PÂNICO foi escrito pela mesma mulher. Tenho a impressão de que ela comprou o original de algum autor iniciante e assinou como seu. Talvez eu gostasse desse livro se fosse uma pré-adolescente com emoções à flor da pele, e talvez esse seja o público alvo, mas pra mim, agora, não funcionou.

Apesar de tudo, estou ansiosa para a série que será produzida pela Amazon Prime Video. Acredito que esse seja o tipo de história que fique melhor nas telas do que nas páginas, já que a tensão que deveria envolver os desafios do jogo podem ser mais explorados. Espero que seja melhor, mas se não for… Nada de novo sob o sol.


AUTORA: Lauren OLIVER
TRADUÇÃO: Monique D’ORAZIO
EDITORA: Verus
PUBLICAÇÃO: 2020
PÁGINAS: 336


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