Hoje, Kai-Fu Lee é CEO da Sinovation Ventures, uma das líderes globais do mercado de investimentos na área de tecnologia, que tem como principal objetivo desenvolver a próxima geração de empresas chinesas no campo da inovação. Nascido em 1961, antes ele foi executivo da Apple e da Microsoft, além de ter sido o presidente da Google China. Lee chegou a ser disputado judicialmente, em 2005, pela Google e pela Microsoft. Isso porque suas pesquisas e desenvolvimentos em I.A. (Inteligência Artificial) são referências para o mundo todo.

Em seu livro, INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, Lee discursa sobre tudo o que realizou nesse campo, principalmente na China e na disputa tecnológica com os Estados Unidos. Sua narrativa começa na década de 1950, no uso da IA para desenvolver sistemas de Xadrez que conseguissem vencer os maiores jogadores do mundo, superando o raciocínio humano, mas sem ser linear. Ele faz pulos temporais, sempre que precisa desenvolver uma explicação ou uma ideia. Como por exemplo, quando explica como foi o desenvolvimento dos computadores no passado, incluindo as viagens espaciais dos EUA e Rússia, ele pula para explicar como a Uber, uma das mais valiosas startups do mundo, mesmo distribuindo 75% do dinheiro recebido por cada viagem para o motorista, poderia se beneficiar se fosse capaz de substituir cada motorista humano por um carro autômato movido a IA. Ou se os bancos pudessem substituir todos os seus funcionários na área de hipotecas por algoritmos que emitissem empréstimos mais inteligentes.

Sim, eu até sei o que você pensou sobre o final do parágrafo acima. A frieza do cálculo sobre a necessidade das pessoas por trabalho para se sustentarem e manterem suas famílias. Já aviso, este é um livro de ciências exatas, sem peso na consciência pelos atos necessários para o avanço da tecnologia no campo da IA. Mas não pense que não há espaço nele para a compaixão. Isso acontece mais para a frente, explico um pouco abaixo.

Um dos capítulos mais curiosos é o que trata de como a China copia tudo, de como quando Lee foi presidente da Google China, não conseguia reproduzir os mesmo resultados, uma vez que não usavam os mesmos mecanismos de pesquisa da Google mundial. Como a China copiou tudo o que podia do ocidente, desde a Disney até o Facebook e o Twitter, e de como tudo isso ficou aquém do esperado, mas muito próximo. Mas tudo isso se deveu ao fato de que as grandes empresas norte-americanas não terem conseguido conquistar o mercado chinês, como o eBay, Uber, LInkedIn, Amazon e o próprio Google. Essas empresas não entendiam que a China tem um público totalmente diferente, que necessita de investimento alto, paciência na espera dos resultados.

Outro capítulo muito interessante é quando Lee trata da disputa sobre a pesquisa de IA entre os sete gigantes mundiais: Google, Facebook, Amazon, Microsoft, Baidu, Alibaba e Tencent. Claramente, a empresa que está no topo é o Google, e Lee é claro nisso, quando afirma que a batalha é do Google contra o resto, uma vez que a empresa se destaca de forma absurda nesse campo em relação aos outros. Em termos de financiamento, o Google supera até seu próprio governo.

Um capítulo em especial, pode sanar algumas dúvidas dos brasileiros com relação ao que aconteceu nas eleições de 2018, e que perdura até os dias de hoje, que são as fake news. Sim, a maioria são produzidas por sistemas de IA. Elas vasculham a rede em busca de notícias falsas e as reproduzem em velocidade gigantesca. Lee explica detalhadamente como funciona esse sistema e de como ele consegue gerar lucros absurdos.

Como disse lá em cima, a narrativa não é totalmente fria com relação à presença humana. No caso de Lee, o destino se pronunciou. Em setembro de 2013, ele foi diagnosticado com câncer, linfoma em estágio quatro. Seu mundo de algoritmos, de ciência exata, desabou. Nenhum de seus sistemas, nenhuma de suas descobertas, nenhuma IA poderia salvá-lo. Tudo era inútil diante da inevitabilidade da morte. Nesse momento, Lee se deu conta do que realmente importa na vida: o amor de sua família.

A primeira memória de Lee após descobrir seu câncer, voltou anos, volto ao nascimento de sua primeira filha, em 1991, quando precisou decidir se acompanhava o parto ou participava de uma apresentação para o CEO da Apple, um dos homens mais poderosos do mundo da tecnologia. Diante desse “problema”, a mente bem treinada de engenheiro girava em alta velocidade. Mas ele não precisou se decidir, a cesariana foi adiantada e ele conseguiu estar presente, com tempo de comparecer à reunião.

Lee confessa que, olhando para trás, o que vem à sua mente não são os sucessos, mas a cena no quarto do hospital. Se ele tivesse sido obrigado a decidir, ele provavelmente teria escolhido comparecer na apresentação para a Apple. O câncer abriu seus olhos para todos os momentos em que ele não esteve presente para sua família. Por isso, ele passou a administrar seu tempo não como tendo como principal meta seu trabalho, mas as pessoas que ama.

Claro que em um livro com esse tema, muita coisa sequer mencionei aqui. É uma leitura para ser estudada e, principalmente, compreendia. A IA é uma realidade presente no nosso dia-a-dia, nos automóveis que calculam, pela forma de dirigir do motorista, o consumo e a melhor estratégia para economizar combustível; nos celulares, que recolhem dados de tudo o que fazemos e oferecem opções diante de nossas preferências; quando navegamos pela Internet, nas nossas compras, nos elevadores, nos aviões, em praticamente todos os lugares. E como Lee termina seu livro, escrevendo: “Vamos escolher deixar que as máquinas sejam máquinas e deixar que os humanos sejam humanos. Vamos escolher simplesmente usar nossas máquinas e, mais importante, amar uns aos outros.”. Essa é a mensagem principal, saber distinguir o que queremos do que precisamos, do que criamos e de quem somos.


AUTOR: Kai-Fu LEE
TRADUÇÃO: Marcelo BARBÃO
EDITORA: Globo Livros
PUBLICAÇÃO: 2019
PÁGINAS: 292


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