Estranho a boneca mais amaldiçoada do cinema, também ser uma das mais queridas. Os dois primeiros filmes dessa capeta foram um sucesso de bilheteria, e agora estamos no terceiro filme da ANNABELLE, aquela boneca horrenda cheia de demônio no cangote, e por incrível que pareça, esse filme não é desnecessário e ainda por cima é bom, não acredita? Chega mais, nem eu acreditei também.

A boneca está apresentando manifestações demoníacas mais uma vez, ela estava em posse de jovens estudantes. Ed e Lorraine Warren, famosos demonologistas, foram chamados para investigar esse caso e comprovaram que a boneca está realmente possuída e que o melhor caminho a seguir é conter o mal, guardar a boneca em isolamento e segurança. O casal acaba mantendo a boneca em sua própria casa, na temida sala de provas, onde são guardados todos os objetos e artefatos que apresentaram atividade demoníaca durante todos os anos em que investigaram casos assim em diversos lugares diferentes. E por bastante tempo o mal foi contido, porém o casal tem uma filha pequena que ficará sozinha durante uma noite com uma babá, uma jovem que também leva a sua amiga, que apresenta muita curiosidade sobre as atividades que o casal Warren faz. E ao fuxicar na sala de provas, essa amiga acaba abrindo o armário sagrado onde Annabelle estava, dando assim carta branca para a boneca não só assombrar as pessoas mais uma vez, como também despertar e dar forças para todas as entidades demoníacas que estavam adormecidas nos objetos presentes naquela sala.

O filme é baseado em eventos reais e de cara parecia um INVOCAÇÃO DO MAL 2.5, já que em teoria, o casal Warren iria protagonizar a produção. Porém eles aparecem pouco, mas em momentos maravilhosos e de muita intensidade, seja no terror ou no drama. A história mesmo gira em torno da filha pequena do casal, que sofre bullying e não tem amigos, graças ao trabalho de seus pais “caçando” demônios. Ela é uma criança solitária que apresenta a mesma habilidade da mãe, visualizar espíritos, e ainda não sabemos se isso é uma coisa boa ou ruim. A menina é muito bem desenvolvida pelo roteiro e o desempenho da atriz Mckenna Grace é fenomenal, passando para o espectador muita tristeza, medo e também inteligência.

Mas o nome do filme é Annabelle, né? Realmente é um trabalho difícil desenvolver tanta história para essa boneca, logo no seu terceiro filme solo e quinta aparição nos cinemas, pelo menos até agora. A boneca no filme está no local, onde ela está nos dias de hoje, trancada num armário sagrado, que recebe bênçãos de um padre semanalmente. Tudo isso para manter o mal contido, porque a boneca atrai espíritos, ela dá força a outras entidades que estão ao redor, não é só ela que se manifesta, ela vem com um esquadrão pesado. É usando esse contexto com muita competência que o filme apresenta seu problema para o espectador resolver: uma das meninas, a curiosa, abre o armário e tudo começa a dar errado. É interessante perceber que a motivação da menina no começo parecia algo muito vazio, mas conforme o filme anda, suas atitudes são justificadas e todo o seu significado é muito bom e coerente.

Ao despertar vários dos espíritos, o roteiro apresenta diversas entidades diferentes e é uma mais interessante do que a outra. As principais envolvem uma noiva, um remador, um samurai e um lobisomem, as três primeiras são apresentadas com perfeição e com bastante intensidade, as cenas são sensacionais e abrem porta para mais filmes solo de cada um desses demônios, realmente o estúdio não dá ponto sem nó. A sequência envolvendo o lobisomem quebra o clima tenso e vai mais para o lado da fantasia e, em especial, no terceiro ato existe uma sequência que envolve um sugador de almas, essa também deixou a desejar, graficamente ficou forçado, mas felizmente nada disso prejudica o resultado final.

Esteticamente esse é o melhor e mais bonito filme da trilogia da ANNABELLE, pois apresenta um jogo de câmera extraordinário e criativo. Comtemplamos o horror de vários ângulos diferentes, que trazem muito gás para a produção. É com grande felicidade que eu digo que o filme não se sustenta em sustos baratos e tem pouquíssimos jumpscares, aqueles famosos sustos que envolvem uma imagem horripilante casada com uma trilha musical no último volume. O diretor usa grande parte do filme para construir tensão, não temos aqui uma sequência de sustos gratuitos, temos é uma atmosfera que constrói primeiro o desconforto, para depois nos assustar com o terceiro e excelente ato final, que leva o filme para um novo patamar. Trilha sonora, figurino, direção de arte e fotografia, tudo bonito e bem feito, realmente eles capricharam.

A babá é vivida pela atriz Madison Iseman, que tem um desenvolvimento legal, consegue ter presença em cena e finaliza seu trabalho com muita competência. Quem dá vida à amiga bisbilhoteira é a atriz Katie Sarife, outra que tem muita presença, olhar marcante e muito carisma. A amizade delas é muito palpável e real, dá vontade de ser amigo(a) delas também.

No final temos um excelente filme que veio para calar a boca de muita gente. Tem duas sequências geniais que fazem o ingresso valer cada centavo gasto. A primeira envolve um surto de uma das meninas dentro da sala das relíquias, vista de vários ângulos, a cena é extremamente asfixiante. A segunda é extraordinária, faz uso da luz para mostrar o que realmente existe dentro dessa boneca, o mal tão temido que reside dentro da Annabelle. Sequência de puro talento e maestria criativa. Interessante, bonito, bem dirigido, bom elenco, assustador e também emocionante. ANNABELLLE 3 é bom demais, a única coisa muito ruim é o subtítulo nacional, “De Volta para Casa”, como assim gente? A boneca nunca esteve lá antes, se você encontrar um sentido para esse título, por favor me conte, depois de conferir esse filmaço nos cinemas, corra!


AVALIAÇAO:


DIREÇAO: Gary DAUBERMAN
DISTRIBUIÇAO: Warner Bros.
DURAÇAO: 1 hora e 46 minutos
ELENCO: Mckenna GRACE, Madison ISEMAN, Katie SARIFE, Vera FARMIGA e Patrick WILSON