Dawn Schiff é uma pessoa estranha. Ou ao menos é o que pensam todos os funcionários da Vixed, a empresa de suplementos alimentares onde Dawn trabalha como contadora. Ela não consegue entender ironia, parece nunca saber a coisa certa a dizer, não tem nenhum amigo e seu dia é perfeitamente cronometrado ― ela se senta à mesa às 8h45, vai ao banheiro às 10h15, almoça às 11h45, vai uma segunda vez ao banheiro às 14h30 e encerra o dia às 17h.

Por isso, quando Dawn não aparece no escritório certa manhã, sua colega de trabalho Natalie Farrell, uma mulher linda e carismática, a melhor vendedora da Vixed por cinco anos consecutivos, fica surpresa. E essa surpresa se transforma em horror depois que ela atende uma ligação anônima e perturbadora na mesa de Dawn…

Isso muda tudo. Ao que parece, Dawn não era só uma pessoa esquisita e sem traquejo social: ela foi alvo de algo terrível causado por alguém próximo. E agora Natalie está irremediavelmente ligada à contadora quando se vê presa em um jogo de gato e rato que a leva a se perguntar: quem é a verdadeira vítima nessa história? Mas uma coisa é certa: alguém odiava Dawn Schiff. O suficiente para matá-la.

A Contadora” segue a fórmula característica da autora, que consiste em criar situações e personagens cujos papeis se invertem ao longo da história, geralmente a partir da metade do livro. No entanto, nesta nova obra, há algumas novidades. Natalie, a protagonista, assume o papel de narradora principal da história. Se você já leu outros livros da autora, provavelmente sabe que, após a metade do enredo, a narrativa costuma ser assumida por outro personagem, oferecendo uma nova perspectiva sobre os acontecimentos apresentados até então. Desde o início, porém, fica claro que o que Natalie narra pode não refletir exatamente a realidade dos fatos.

A autora utiliza uma abordagem simples para contrastar a narrativa de Natalie com a realidade: surgem suspeitas de que Dawn pode ter morrido, e a polícia inicia uma investigação para entender o motivo de seu desaparecimento. Durante os depoimentos de outras pessoas que trabalham na Vixed, fica evidente que o que elas relatam não corresponde ao que Natalie narra. Isso inclui sua relação com Dawn, sua maneira de lidar com os clientes, seu comportamento com seu chefe e suas interações com os colegas. Basicamente, quase tudo o que Natalie conta é questionado pelas declarações de outras pessoas à polícia. No entanto, Natalie é convincente, e suas ações, que acompanhamos ao longo da história, não confirmam o que os outros dizem. Importante notar que a autora não oculta nem altera o que Natalie faz ou diz; tudo acontece exatamente como é narrado por ela. Então, a grande pergunta permanece: o que está realmente acontecendo?

Da mesma forma, Dawn também não parece ser exatamente o que aparenta. Apesar de estar desaparecida, alguns capítulos são compostos por e-mails que ela enviava ao chefe, a Natalie e a uma outra personagem, que parece ser sua amiga e com quem ela desabafava. No entanto, com o tempo, algo começa a soar estranho nessas trocas de mensagens, especialmente nas conversas com a amiga de Dawn. Algumas respostas não parecem fazer muito sentido, enquanto outras soam superficiais e apressadas.

Natalie é construída de forma bastante engenhosa. Durante a leitura, é muito fácil formar uma imagem clara da personagem; acredito que todos os leitores já encontraram alguém parecido em algum momento da vida, seja no trabalho ou em lojas de shopping. Eu não consegui sentir empatia por ela, mas também não senti antipatia. Há uma certa vontade de torcer para que ela seja inocente, embora isso se torne mais difícil de acreditar à medida que a história avança. No entanto, para quem conhece a autora, fica claro que Natalie provavelmente não é a culpada pelo desaparecimento da colega. Seria algo óbvio demais, e se há uma coisa que não existe nesses livros, é obviedade.

Ao longo de “A Contadora”, a história prende o leitor em uma teia de dúvidas e reviravoltas. Cada nova informação coloca em questão o que parecia certo, e a diferença entre o que é verdade e o que é manipulação se torna cada vez mais difícil de enxergar. Natalie, com sua personalidade complexa, e Dawn, com seus e-mails enigmáticos, deixam o leitor sempre desconfiado e curioso sobre o que realmente aconteceu.

No fim, “A Contadora” não é apenas sobre o desaparecimento de alguém, mas sobre como percebemos as pessoas e como diferentes versões de uma mesma história podem mudar tudo. A autora consegue manter o suspense até o último momento, deixando claro que, neste livro, nada é simples ou previsível. E por isso, sou fã dessa autora e consumo seus livros em sequência. É muito divertido!


AVALIAÇÃO:


AUTORA: Freida McFadden
TRADUÇÃO: Irinêo Netto
EDITORA: Record
PUBLICAÇÃO: 2024
PÁGINAS: 308
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