O ano é 1714 e o local é uma vila no interior da França. Addie LaRue sempre conseguiu se livrar dos compromissos, principalmente dos homens que desejavam ter algo com ela, graças a pedidos que realizava para os deuses. Mas desde que fizesse os pedidos de dia. Jamais deveria fazer após o pôr do sol. Aos 23 anos, ela considera que é velha demais para se casar e se sente segura. Até que surge um viúvo que convence os pais de Addie a permitir o enlace. Ela fica desesperada. Volta a pedir ajuda aos deuses, mas nada acontece. Como última chance, no dia de seu casamento, ela faz seu pedido de noite. E é ouvida.

Addie desenhava o rosto de um homem em um caderno. Ele não existia, era a combinação das melhores partes dos rapazes que conhecera. Naquela noite, quando faz o pedido, aparece alguém das sombras com a aparência do homem de seu desenho. Ele oferece um pacto. A alma de Addie em troca de sua liberdade, dela ser livre para viver onde quiser e pelo tempo que quiser. Addie aceita. Mas o resultado não foi o que ela esperava. Todos esquecem quem ela é, até mesmo sua família. E quando alguém a conhece, assim que a perde de vista, esquece quem é. Addie não consegue mais dizer o nome, ou escrever, ou qualquer coisa que marque sua presença. Ela não pode morrer, viverá enquanto não entregar sua alma. E durante esse tempo, nunca será lembrada.

Durante mais de 300 anos, Addie sobrevive dessa forma. Sem ter nada seu, sem ter companhia, uma mulher solitária que rodeia o mundo. Até que um dia, um homem que ela encontra dentro de uma livraria em Nova York, se lembra dela. E tudo muda. Agora Addie precisa descobrir o motivo e também como, finalmente, poderá se livrar desse pacto.

A VIDA INVISÍVEL DE ADDIE LARUE é uma fantasia que pega vários elementos conhecidos de obras famosas, como HIGHLANDER e ENTREVISTA COM O VAMPIRO. Não há seres sombrios ou guerreiros na história, com exceção do tal deus que faz o pacto com Addie, mas existe a dor de se viver por tantos séculos e de perder tudo e todos pelo caminho, tendo sempre que recomeçar e renovar os sentimentos, sem nunca esquecer o que se vivenciou.

A narrativa é em terceira pessoa e os capítulos são alternados com os eventos do passado e os eventos do presente. No passado, acompanhamos tudo o que aconteceu desde 1714 até 2014. E no presente, seguimos em 2014, quando Addie conhece Henry, o tal homem na livraria que não se esquece dela depois que ela sai de sua vista. Obviamente, existe um motivo para essa diferença para todas as outras pessoas do planeta, o pacto é infalível. E Addie não demora para descobrir.

Embora seja uma fantasia com toda a liberdade que proporciona o gênero, a autora mantém alguns pontos bem próximos da realidade, principalmente no passado de Addie. A forma como a personagem precisa sobreviver em uma época quando mulheres eram proibidas até de ler, se aproxima do que podemos acreditar que seria real. A vantagem de Addie, se é que se pode chamar de vantagem, é que ela pode roubar, que ao virar a esquina, não se lembram dela. Mas não pode pagar por uma hospedagem ou conseguir um emprego, porque no dia seguinte, ninguém se lembraria quem ela é. Nessa corda bamba, aos poucos, Addie encontra seu equilíbrio.

A narrativa do passado tem outro ponto forte, que é a presença constante de Luc, a tal criatura da noite. Ele sempre aparece no aniversário do pacto, algumas vezes em anos seguidos, outras vezes com o intervalo de décadas. Mas o dia e o mês são constantes. Addie dá um nome para ele, Luc. E após mais de 200 anos de convívio, mesmo sem ser contínuo, nasce uma relação entre eles. Luc sempre com a pergunta de se Addie desiste e entrega sua alma. Ela sempre nega e ganha mais determinação para contrariá-lo.

Os capítulos sobre o presente são interessantes, mas não na mesma proporção. Henry é um personagem interessante, mas ao mesmo tempo sem muita personalidade. Ele esconde uma informação importante, o motivo de conseguir se lembrar de Addie, mas a forma como ele consegue essa particularidade, é um pouco decepcionante e meio que ruma contra uma empatia pelo personagem.

A única coisa que senti falta na história, é uma diversidade maior de eventos do passado. Afinal, Addie foi testemunha de 300 anos de história, várias guerras, revoluções, e no entanto, tudo isso passa à margem, é apenas mencionado, e a maioria dos eventos, são os momentos em que Addie conversa com Luc. Acho que a autora poderia ter transformado a história em algo mais dinâmico, com mais aventura, mais emoção, e ao mesmo tempo, ter dado a chance de Addie virar uma mulher forte pelo que ela viveu, e não apenas alguém que fica à espera do dia certo do ano para confrontar Luc, e nesses intervalos, caminha de um lado para o outro na mesma cidade.

A VIDA INVISÍVEL DE ADDIE LARUE é um livro interessante pela relação dos dois personagens principais, Addie e Luc. Pode parecer que nasce um triângulo amoroso entre Henry e eles, mas isso não acontece, porque apesar de todos os sentimentos que Addie tem sobre Luc, o maior deles, o ódio, sempre fica acima. E Luc não é aquele personagem que parece mau, mas no fundo tem um bom coração. Ele é um ser das trevas e mantém sua natureza maléfica por todo o tempo. E é contando com isso que Addie planeja vencer.


AUTORA: V.E. SCHWAB
TRADUÇÃO: Flávia de LAVOR
EDITORA: Galera
PUBLICAÇÃO: 2021
PÁGINAS: 504


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