Louisa Ditton não tem para onde ir. Estamos no século XIX. Sozinha e com medo, Louisa acaba de escapar do terrível internato inglês onde repressão e castigos dolorosos eram a principal lição. Assim, quando encontra uma idosa que lhe oferece emprego em uma hospedagem, Louisa acha que finalmente está segura. Logo que chega à Casa Coldthistle, entretanto, a jovem nota algo estranho. O misterioso proprietário do lugar – o sr. Morningside – proporciona a seus hóspedes não um simples lugar para dormir, mas o temido descanso eterno. Numa espécie de tribunal sombrio, o sr. Morningside e a criadagem executam sua justiça obscura àqueles que vivem impunes, e Louisa será obrigada a fazer parte desse grupo de impiedosos justiceiros. Diante disso, a jovem começa a temer pela vida de Lee. Ele não é como os demais hóspedes: carismático e gentil, o rapaz desperta nela o ímpeto de salvá-lo do julgamento iminente. Porém, nessa casa de mentiras e putrefação, como Louisa poderá saber quem carrega a verdade?

Quando li ASYLUM (resenha, aqui), uma das coisas que me incomodou na leitura, foi a falta de personalidade, talvez de experiência, da autora na construção de seus personagens e na contextualização de sua narrativa. No segundo livro, SCARLETS (resenha, aqui), já notei uma melhora significativa em todos os âmbitos.

Em CASA DAS FÚRIAS, parece que encontrei uma outra autora, tamanha a diferença de escrita em relação aos outros livros. Não só os personagens são todos bem construídos, interessantes, com um passado, um presente e um futuro que despertam curiosidade, mas também a narrativa é empolgante, criativa, com acontecimentos que surpreendem e provocam sustos, o que é essencial para uma obra de terror.

A narrativa em primeira pessoa, feita por Louise, a personagem principal, conquista já nas primeiras páginas, quando ela descreve sua fuga e sua vida nas ruas do século XIX. Tudo o que se segue, após conhecer a velha estranha e ser convidada para trabalhar na hospedaria, trás uma sensação de novidade. Em um primeiro momento, quando descobrimos os segredos que existem na casa que oferece hospedagem para pessoas terríveis, e onde essas mesmas pessoas encontram seu fim de vida, achamos que Louise está enfrentando demônios sem coração, mas a autora foge do estereótipo e mostra que alguns atos, aparentemente cruéis, podem ter um significado mais nobre e justo.

Isso foi o que mais surpreendeu em CASA DAS FÚRIAS. O fato de que o inimigo que pensamos que Louise terá que enfrentar, pode ser um bem diferente daquele que imaginávamos. E algumas das coisas que ela tem contato, realmente metem medo. Isso, sem contar com a descrição de cenas que não economizam no gore, mas sem serem repetitivas ou exageradas. Tudo na obra está na medida certa.

Uma outra coisa que me agradou, foi a atenção da autora aos detalhes, não só dos monstros, mas de todos os personagens e da casa onde eles vivem e trabalham. Vale um destaque para uma das personagens secundárias, que causa uma certa estranheza quando ela é descrita por Louise pela primeira vez, não pela aparência, que é normal, mas por algumas outras informações que o leitor descobre, surpreso, mais para a frente.

Como CASA DAS FÚRIAS é o primeiro volume de uma série, algumas coisas ficam pela metade, e outras já antecipam o cenário onde irá se desenrolar o segundo volume, e contra o que Louise terá que lidar. Espero, sinceramente, que a qualidade da história se mantenha. E caso isso se concretize, será uma das melhores séries de terror e fantasia da atualidade.


AUTORA: Madeleine ROUX
TRADUÇÃO: Guilherme MIRANDA
EDITORA: Plataforma21
PUBLICAÇÃO: 2017
PÁGINAS: 350


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