O PERIGO DE UMA HISTÓRIA ÚNICA é uma adaptação de uma palestra ministrada por Chimamanda Ngozi Adichie no TED Talk, em 2009, publicada pela editora Companhia das Letras neste ano de 2019. Atualmente, o vídeo é um dos mais acessados do TED Talk com mais de 18 milhões de visualizações.

Chimamanda nasceu na Nigéria, em 1977, sendo a quinta filha de seis irmãos e cresceu na cidade Nsukka. A autora completou o ensino médio com destaque e estudou medicina e farmácia durante um ano e meio. Aos 19 anos, ela conseguiu uma bolsa de estudos na Universidade Drexel, na Filadélfia, mas acabou se transferindo para a Eastern Connecticut State University, onde se formou em comunicação e ciências políticas. No ano de 2003 defendeu seu mestrado em escrita criativa na Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, e, no mesmo ano, publicou seu primeiro romance, intitulado HIBISCO ROXO. O livro conquistou o público rapidamente e ganhou os prêmios Commonwealth Writers’ Prize e o Husdton/Wright Legacy Award. Nos anos que se seguiram, Adichie escreveu novas obras que foram calorosamente recebidas pela crítica e se tornaram muito populares, como MEIO SOL AMARELO, AMERICANAH, SEJAMOS TODOS FEMINISTAS, PARA EDUCAR CRIANÇAS FEMINISTAS e NO SEU PESCOÇO, todos publicados pela editora Companhia das Letras no Brasil. Várias obras da autora foram premiadas e duas delas adaptadas para o cinema.

O PERIGO DE UMA HISTÓRIA ÚNICA evidencia o quanto as informações que chegam até nós molda nossas opiniões quanto a pessoas e lugares; para evidenciar isso, a autora conta diversas de suas experiências pessoais. Antes de conhecermos a fundo algo, temos opiniões, muitas vezes preconceituosas, baseadas naquilo que ouvimos em algum lugar e acreditamos piamente sem buscar saber mais sobre.

Anos depois, pensei nisso quando saí da Nigéria para fazer faculdade nos Estados Unidos. Eu tinha dezenove anos. Minha colega de quarto ficou chocada comigo. Ela perguntou onde eu tinha aprendido a falar inglês tão bem e ficou confusa quando respondi que a língua oficial da Nigéria era o inglês. Também perguntou se podia ouvir o que chamou de minha ‘música tribal’, e ficou muito decepcionada quando mostrei minha fita da Mariah Carey. Ela também presumiu que eu não sabia como usar um fogão. O que me impressionou foi: ela já sentia pena de mim antes de me conhecer. Sua postura preestabelecida em relação a mim, como africana, era uma espécie de pena condescendente e bem-intencionada. Minha colega de quarto tinha uma história única da África: uma história única de catástrofe. Naquela história única não havia possibilidade de africanos serem parecidos com ela de maneira nenhuma; não havia possibilidade de qualquer sentimento mais complexo que pena; não havia possibilidades de uma conexão entre dois seres humanos iguais.

Outro ponto importante destacado pela autora é que a forma que a história de um país é contada, determina sua história definitiva… Se a descrição for iniciada com fatos tenebrosos, como guerras e acidentes, o lugar ficará conhecido por suas atrocidades e não por seus avanços tecnológicos e alta qualidade de vida. Um país ou uma pessoa são formados por múltiplas histórias, tanto positivas, quanto negativas; então defini-lo por um único ocorrido é ignorar todas as experiências restantes que o formaram, o que é extremamente preconceituoso e inadmissível. A história única rouba a dignidade de uma pessoa!

Há pouco tempo dei uma palestra numa universidade e um aluno me disse que era uma grande pena que os homens nigerianos fossem agressivos como o personagem do pai no seu romance. Eu disse a ele que tinha acabado de ler um livro chamado O psicopata americano e que achava que era uma grande pena que os jovens americanos fossem assassinos em série.

O livro é bem curtinho, pode ser lido em uma hora, tem linguagem de fácil compreensão e aborda um tema interessante e pouco comentado atualmente. Apesar disso, não foi uma leitura que me cativou, achei a obra, como um todo, muito simples (o que é bastante óbvio, considerando ser adaptação de uma palestra), e não acho que tenha conteúdo suficiente para um livro; mas acredito que a leitura é pertinente para estimular o senso crítico do ser humano.


AVALIAÇÃO:


AUTORA: Chimamanda Ngozi ADICHIE
TRADUÇÃO: Julia ROMEU
EDITORA: Companhia das Letras
PUBLICAÇÃO: 2019
PÁGINAS: 64


COMPRAR: Amazon