O último filme da Fox antes de ser vendida para a Disney, chegou até nós através da Netflix. Adiado desde 2019 devido à péssima recepção em sessões de teste, passou por um longo processo de refilmagens e agora está aqui, a melhor versão que eles conseguiram fazer adaptando o sucesso literário A MULHER NA JANELA. Mal lançou é já é um filme dividido, dá pra achar divertido, porém nada demais; ou dá pra achar bem ruim, eu fico com o segundo grupo, nem o elenco de estrelas salvou esse projeto. Chega mais que eu te falo tudo!

Texto feito sem o conhecimento prévio do livro, então questões como mudanças e fidelidade ao material original, eu não vou poder comentar.

Anna é uma mulher cheia de traumas que trabalha em casa, vive em casa e nunca sai dela. Ela precisa lidar com a agorafobia, um medo mórbido de sair para o mundo. Ela toma remédios, bebe bastante e usa boa parte do seu tempo para espiar as janelas dos vizinhos. Ela basicamente montou uma rotina que parece manter seu humor estável. Porém as coisas saem da normalidade, quando uma nova família se muda para a casa em frente à sua, carne nova para ser espiada. Logo eles se apresentam para Anna, que de cara nota coisas bem peculiares, como o humor da mãe, o comportamento retraído do filho, e o pai explosivo. E numa noite que parecia normal, Anna abre a janela e presencia um assassinato na casa da frente. Mas ao chamar as autoridades, ninguém acredita na mesma, e até mesmo a família nega tudo mostrando que ninguém foi morto. Mas se todos estão vivos, quem morreu? Anna realmente viu isso ou está imaginando coisas?

Uma trama que parece bem simples, uma mulher com o emocional fragilizado viu algo e ninguém acredita nela, nem mesmo o espectador, porque tem algo errado nessa história. O grande problema do roteiro é apresentar possíveis desenvolvimentos e nunca trabalhá-los de maneira correta ou simplesmente de qualquer maneira. Começando pela agorafobia que a personagem desenvolveu, é algo apenas pincelado na trama, pouquíssimo explicado e se o espectador não tiver conhecimento prévio, vamos ficar sem entender nada. O que ficou parecendo é que o filme poderia substituir essa fobia por qualquer outra que não faria diferença no texto.

Agora a própria coisa que é prometida no seu título é deixada de lado rapidamente. O ato de ficar espiando a casa das pessoas é pouquíssimo explorado no filme, que se preocupa mais em tentar ser um suspense comum. O diferencial dessa trama estava na inspiração a filmes clássicos, em especial no grandioso JANELA INDISCRETA, de Alfred Hitchcock, onde também tinha um personagem que fazia o ato de espiar a casa dos outros em algo grandioso. Aqui nada disso tem peso, tem umas três cenas dela espiando e em todo resto do filme é ela surtando, bebendo ou berrando. Outra coisa que o filme abre mão e não trabalha, é no fato de que a personagem ouve vozes e fala sozinha, novamente eles pincelam isso como se não fosse importante: olha espectador, ela conversa com alguém sozinha, mas deixa isso pra lá. É tanta ponta solta e coisa mal resolvida, que se você parar para pensar nos detalhes, a experiência de assistir pode ser bem cansativa.

E como tudo isso deu tão errado? Na direção temos Joe Wright, especialista em grandes dramas, como ORGULHO E PRECONCEITO e DESEJO E REPARAÇÃO. O filme até é bem filmado e tem seu valor numa pequena construção de tensão, mas depois tudo se desequilibra. O ato final deveria ser estudado em escolas de cinema em uma aula para ensinar o que não se deve fazer. O roteiro monta seu mistério, lembrando, sem desenvolver nenhum personagem, apresenta alguns suspeitos e motivações, para depois ele se achar muito inteligente e apostar numa grande virada de chave, aquela pessoa que você nunca imaginava está por trás de tudo. O final, pelo que fiquei sabendo, é igual ao do livro, porém novamente sem o seu desenvolvimento. Então o que temos? São motivações que caem do céu, quase nada faz sentido e fica por isso mesmo, temos o nosso culpado e pronto. E acredite se quiser, pode piorar, a cereja do bolo vem com um confronto entre a protagonista e o culpado, usando e abusando de uma sequência de luta pior do que a gente vê nos memes das piores novelas mexicanas, aposto que nem uma cena como essa seria aceita em uma A USURPADORA da vida. É empurra, empurra, garfo de jardim na cara de um, tentativa de afogamento numa poça de chuva e um desfecho que no filme é ridículo.

Nem o grande elenco salva a produção: a protagonista é vivida por Amy Adams, diva dos dramas e imperatriz das farofas. Aqui é visivel ver que ela está tentando entregar o melhor, mas os diálogos são fracos, as cenas esquisitas e o que dão para a atriz trabalhar é muito amador. O filme ainda desperdiça talentos enormes, rebaixando os mesmos a figurações de luxo, alguns dos atores desperdiçados são os premiados Gary Oldman e Julianne Moore.

O resultado final é um filme imemorável, mal feito, problemático e tão bagunçado que a gente nem consegue sentir se daria de fato para construir uma narrativa bacana. Não é uma tortura assistir até o final, mas é muito decepcionante ver tantos talentos em meio a esse caos.


DIREÇÃO: Joe WRIGHT
DISTRIBUIÇÃO: Netflix
DURAÇÃO: 1 hora e 40 minutos
ELENCO: Amy ADAMS, Gary OLDMAN, Julianne MOORE