Em 1971, na universidade de Stanford, umas das mais conceituadas dos EUA e do mundo, aconteceu um experimento social que é muito famoso e controverso até os dias de hoje. Um professor de psicologia recrutou alguns de seus alunos para imaginarem que estavam em uma prisão. Divide a turma ao meio: metade seriam os detentos; a outra metade seria os guardas. O objetivo do professor era provar que qualquer pessoa “boa”, se devidamente motivada pelo local onde vive, poderia se tornar sádica e cometer atos violentos. E isso realmente aconteceu com os alunos guardas, que começaram a abusar de forma violenta e sádica de seus colegas “detentos”.

O experimento de Stanford se baseou em outro conhecido como a Experiência de Milgram, devido a ter sido conduzido pelo psicólogo Yeale Stanley Milgram, e aconteceu em 1961, uma década antes. Milgran tinha o objetivo de provar que uma pessoa, por melhor que fosse, poderia cometer atos violentos e criminosos por uma questão de obediência. Sua ideia veio devido aos julgamentos de nazistas acusados de crimes no Tribunal de Nuremberg. Eles alegavam inocência porque estavam apenas cumprindo ordens.

No experimento, 40 voluntários divididos em dois grupos que seriam professores e alunos. Os alunos ficaram em uma sala fechada amarrados a uma cadeira com eletrodos, que variava de 15 volts (um choque leve) a 450 volts (um choque considerado grave), enquanto os professores, em outra sala, faziam testes de memória aos alunos. Quando o aluno errava, o professor aplicava um choque de 15 volts. Junto ao professor ficava um experimentador, que era um ator pago, que repetia frases de estímulo para garantir que o professor e o aluno continuassem. Mais de 60% dos participantes cumpriram as ordens e foram até o nível mais alto de 450 volts. Só depois de concluída a experiência, descobriram que na sala dos alunos não havia ninguém, apenas gravações de gritos.

Entre esses dois experimentos, em 1967, o professor de história Ron Jones, de uma escola secundária dos EUA, se deparou com a incredulidade da maioria de seus alunos sobre a população alemã alegar não saber sobre o extermínio dos judeus nos campos de concentração. Os alunos também não entendiam como uma parcela tão pequena de alemães, principalmente de jovens, que apoiavam Hitler, conseguia ter força sobre a esmagadora maioria da população, que poderia ter se rebelado facilmente e contido os nazistas. Então Jones resolve criar um experimento social que chamou de A Terceira Onda. É com base nesse experimento, que só ficou conhecido vários anos depois, que se baseia o livro A ONDA.

A história modificou alguns nomes e acrescentou alguns detalhes das vidas dos alunos para estabelecer uma prosa que foge do documentário. Nela, o professor se chama Ben Ross. Para demonstrar aos alunos que sociedades democráticas não estão imunes à atração do fascismo, Ross inventa um movimento que chama de A Onda, focado em um discurso de disciplina e comunidade, bastante semelhante às premissas que inspiraram os jovens nazistas.

Atraídos pela ideia de igualdade, os alunos começam a ver A Onda uma solução para problemas como bullying, desatenção e até mesmo o mau rendimento nas aulas. Mas alguns alunos se recusam a se juntar ao movimento, a pressão aumenta, e eles se tornam vítimas da intolerância dos colegas. Logo, muitos mudam de ideia e também se juntam à Onda, com medo de sofrerem represálias caso não o façam. E também começam a cometer atos de intimidação e violência para conseguirem os objetivos perpetuados pelo movimento.

Laurie, uma menina que é editora do jornal estudantil, reconhece a ameaça que o movimento se tornou e começa a lutar contra. Ela é ameaçada pelo colegas que fazem parte da Onda, mas não se deixa intimidar. Ao mesmo tempo, os atos chamam a atenção da diretoria, que até então fechava os olhos para ao experimento de Ross, e exige que ele termine com A Onda. O problema é se ele ainda tem forças para conseguir fazer isso. Por acreditar que não, Laurie busca apoio para ela mesma conseguir para o movimento.

O livro A ONDA segue quase fielmente os acontecimentos reais. O experimento durou cinco dias, uma semana, e foi suficiente para comprovar o que acontece quando um líder carismático, dono de um discurso inflamado, consegue mobilizar pessoas suscetíveis dispostas a fazer qualquer coisa pelo poder. Esse experimento explica muito do que aconteceu atualmente no Brasil, quando um grupo menor de pessoas segue de forma cega um líder notadamente insano. A narrativa não se limita a descrever os acontecimentos, mas dá profundidade a vários personagens, principalmente Rosse e Laurie, além de levantar outros questionamentos comuns nas escolas.

O eventos do experimento de Jones acabaram por se tornar mais conhecidos do que os dois outros do início deste texto, principalmente por sua simplicidade e do resultado assustador. A Terceira Onda foi estudada extensivamente em temor da organização juvenil em gangues e da pressão dos pares. Também existe um filme alemão, de 2008, um musical, de 2010, um documentário do mesmo ano, e, finalmente, uma séria mais atual produzida pela Netflix, NÓS SOMOS A ONDA. Entretanto, a série é apenas levemente baseada no livro A ONDA, e quase tudo é bastante diferente e levado a um patamar superior de dramaticidade e consequências. De qualquer forma é muito bem feita e vale a conferida.


AUTOR: Todd STRASSER
TRADUÇÃO: Paula Di CARVALHO
EDITORA: Galera
PUBLICAÇÃO: 2020
PÁGINAS: 160


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