Neste mundo novo, só restaram os adolescentes e a sobrevivência da humanidade está em suas mãos. Imagine uma Nova York em que animais selvagens vivem soltos no Central Park, a Grand Central Station virou um enorme mercado e há gangues inimigas por toda a parte. É nesse cenário que vivem Jeff e Donna, dois jovens sobreviventes da propagação de um vírus que dizimou toda a humanidade, menos os adolescentes. Forçados a deixar para trás a segurança de sua tribo para encontrar pistas que possam trazer respostas sobre o que aconteceu, Jeff, Donna e mais três amigos terão de desbravar um mundo totalmente novo. Enquanto isso, Jeff tenta criar coragem para se declarar para Donna, e a garota luta para entender seus próprios sentimentos – afinal, conforme os dias passam, a adolescência vai ficando para trás e a Doença está cada vez mais próxima.

MUNDO NOVO

Jefferson e Wash são irmãos e lideram uma tribo de garotos que vive isolada no que restou de um parque em Nova York. No começo do livro, Wash completa 18 anos e morre, vítima do vírus que eliminou todas as pessoas com mais de 18 e menos de 12 anos. Com isso, Jefferson assume a responsabilidade de comandar o grupo.

Donna é a garota por quem Jefferson é apaixonado desde a infância. Ela não sabe disso e também não entende muito bem o que sente por ele, principalmente por causa da forma como todos vivem.

Crânio é o mais inteligente da tribo. Ele descobre uma pista sobre como criar uma vacina para o vírus, mas as informações estão em uma revista que pode ser encontrada na biblioteca da cidade. Jefferson e Crânio decidem se arriscar, deixando o parque para atravessar a cidade, passando por territórios de outras tribos, em busca da verdade.

Peter e Minifu se juntam a eles na jornada. Peter é o confidente de Donna, enquanto Minifu, uma garotinha esperta, é apaixonada por Crânio.

Carregando tudo o que conseguem, eles pegam uma picape velha e partem para uma jornada cheia de perigos, com tiroteios, perseguições, ataques de diferentes inimigos e mortes pelo caminho. No meio de tudo isso, Donna precisa aceitar o que sente por Jefferson, enquanto ele precisa encontrar a confiança necessária para manter seus amigos vivos.

A história de “Mundo Novo” é narrada em primeira pessoa, com capítulos alternados entre Jefferson e Donna. Jefferson é mais sério e focado, sempre tentando tomar as decisões certas. Já Donna é cheia de contrastes, com humor e sarcasmo, deixando seus capítulos ainda mais envolventes.

Chris Weitz conseguiu criar personagens cativantes, com personalidades fortes e realistas para a idade que têm. Eles enfrentam dúvidas, medos, paixões e desejos comuns, enquanto também precisam lidar com situações de perigo e tomar decisões difíceis, que nem mesmo adultos experientes gostariam de enfrentar.

A forma como os jovens se organizam em tribos lembra muito o que já acontece nas escolas. Tudo faz sentido, inclusive os erros que cometem. O autor não deixa de mostrar detalhes que seriam inevitáveis em uma sociedade formada apenas por adolescentes, como a dominação sobre as garotas e os mais jovens.

Alguns dos lugares por onde Jefferson e seu grupo passam são assustadores, assim como as formas que alguns jovens encontraram para sobreviver. Apesar disso, todos ainda carregam um traço de inocência, mesmo que quase apagado pela crueldade e pela dureza da vida que precisam enfrentar até completarem 18 anos.

A certeza de que têm pouco tempo torna compreensíveis muitas das decisões que tomam. Afinal, por que se preocupar em ser bom, justo ou honesto se não haverá tempo para arrependimentos, nem maturidade para entender o próprio papel no que restou da sociedade?

O contraste entre Jefferson e Donna, tão diferentes em pensamentos e atitudes, faz com que o casal conquiste o leitor desde o começo. E Jefferson protagoniza um dos momentos que melhor representa a força da adolescência em meio ao caos, quando encontra uma inimiga e resolve o conflito de um jeito inesperado, capaz de arrancar um sorriso de qualquer um.

Mundo Novo” é uma distopia, mas se destaca por retratar os jovens como eles realmente são. Aqui, não há heróis invencíveis, cheios de planos e certezas. São apenas adolescentes, cometendo erros por imaturidade e lutando para sobreviver tempo suficiente para finalmente se tornarem adultos.

NOVA ORDEM

A estrutura da narrativa continua a mesma, com capítulos alternados entre Jefferson e Donna, além de alguns focados em personagens secundários. Após os acontecimentos do primeiro livro, todos são levados para um porta-aviões americano, onde algumas respostas sobre o que aconteceu com o mundo finalmente aparecem.

Mas, quando parece que as coisas podem melhorar, eles logo percebem que não é bem assim.

O grupo acaba se separando: Jefferson e os outros retornam a Nova York para tentar levar a cura aos jovens e encontrar um artefato importante, enquanto Donna é enviada para Londres.

A história então se divide entre esses dois cenários, mas a parte de Jefferson acaba repetindo muito do que já foi visto no primeiro livro. Não apenas pelo reencontro com os mesmos personagens, mas também por situações que se repetem, incluindo o retorno de alguém cuja volta não é bem explicada.

A parte de Donna é o que realmente mantém o livro interessante. Ela se envolve em uma trama cheia de mistério, traições e manipulações, e precisa enfrentar tudo isso sozinha. A cada nova situação, o leitor acompanha com tensão como ela conseguirá sair dos problemas quase sem ajuda e, mais importante, como fará para reencontrar Jefferson e os outros amigos.

Mesmo assim, essa parte mais envolvente não é o suficiente para sustentar uma história que começou de forma tão promissora. A sensação que fica é que o autor está prolongando os acontecimentos apenas para levar a trama até o terceiro livro. E, de fato, o segundo livro de uma trilogia costuma ser o mais difícil de construir, já que precisa conectar a introdução do primeiro com o desfecho do terceiro.

NOVA ERA

Donna e Jefferson sempre foram os protagonistas da história. Tudo gira em torno deles, mesmo quando não são eles que resolvem os problemas diretamente. Além disso, são o casal romântico, algo que fica claro desde o primeiro livro. Como a narrativa é em primeira pessoa e alterna entre diferentes personagens, fica evidente pelos pensamentos dos dois que nunca desistiram um do outro. Por isso, a tentativa de criar um triângulo amoroso com outro casal secundário acaba funcionando mais como distração do que como um risco real de separação.

Esse ponto atrapalha um pouco a leitura de “Nova Era“. Quando Donna reencontra Jefferson após a separação forçada em “Nova Ordem“, o foco poderia estar nos desafios práticos da busca pelos ativadores das bombas nucleares. No entanto, o autor dedica quase metade da história a um dilema amoroso que, na prática, nunca esteve em perigo. Isso prejudica um pouco o ritmo da ação, mas não a ponto de comprometer a história. Dessa vez, a ação é mais envolvente e menos confusa do que em “Nova Ordem“, o que é um ponto positivo e garante que esse último volume não decepcione.

Embora os capítulos de Donna e Jefferson sejam menos frequentes, já que outros personagens também precisam ter seus arcos resolvidos, quase todos são relevantes, interessantes e ajudam a fechar a trama. O desfecho segue a fórmula clássica de heróis contra um vilão, incluindo o sacrifício de alguém para salvar o dia, mas é empolgante e faz o leitor virar as páginas rapidamente.

No geral, o resultado da trilogia é positivo, embora fique a sensação de que poderia ter sido ainda melhor. Ainda assim, é impossível negar a originalidade da história, que foge do padrão de muitos livros repetitivos e sem criatividade. E isso fica claro pela saudade que fica ao perceber que as aventuras de Donna e Jefferson chegaram ao fim.


AVALIAÇÃO:


AUTOR: Chris Weitz
TRADUÇÃO: Álvaro Hattnher
EDITORA: Seguinte
PUBLICAÇÃO: 2014, 2015 e 2016
PÁGINAS: 328, 272 e 216
COMPRE: Mundo Novo, Nova Ordem e Nova Era