É estranho pensar que um grão de poeira tenha sentimentos. É estranho pensar assim porque, na maior parte do tempo, não nos damos conta de que somos apenas grãos de poeira no universo. Mais estranho que tudo isso é pensar que esses grãos de poeira sejam capazes de ter um bilhão de sentimentos em tão poucos segundos. E como é difícil ser poeira cósmica ao lado de tantas outras poeiras cósmicas humanas, complexas por si só, e numa complexidade tão particular, que explode qualquer possibilidade de encaixá-las numa definição, um conceito, uma palavra.

PARA RESSIGNIFICAR UM GRANDE AMOR é o segundo livro de João Doederlein, ou como muitos conhecem, @akapoeta. Um dos conceitos mais bonitos que o autor traz, é o de Supernova, um fenômeno astronômico pelo qual as estrelas passam. Nessa página em específico, as ilustrações, em tons que mesclam um rosè ao preto, são belíssimas.

supernova (s.f.) é explosão brilhante de uma estrela de grande massa que já consumiu toda a sua energia. é uma luz que passa a do próprio sol e se intensifica gradualmente até desaparecer. é quando estrelas morrem e o universo inteiro assiste. é o estágio final de um grande amor.

Na mesma linha do LIVRO DOS RESSIGNIFICADOS, o autor traz poemas na forma de definição de dicionário, numa brincadeira antagônica à noção literal que os dicionários apresentam. O livro surge da necessidade de se falar sobre e para alguém que já se amou muito, das dores de deixar partir, o reencontro como momento chave e o que vem depois. É um adeus que dança sobre as páginas, um adeus calmo após o turbilhão de sentimentos que assola o tão temido e quase sempre necessário…fim.

João traz a ideia do fim como uma dualidade entre o quão doloroso e turbulento é o momento em que ocorre a “ruptura” do vínculo, e o quão libertador e calmo pode ser o “depois do fim”. As palavras casam exatamente com coisas que nos deparamos e também as que ouvimos de nossos amigos durante esses momentos. O autor também nos traz a ideia de como nem sempre estamos preparados para viver esse momento e, apesar de todas as adversidades, NÓS SOBREVIVEMOS.

E ainda na linha do conceito de Supernova, fim, reencontro, ressignificar, recomeçar, enfim, nesse ser E não ser, as principais dúvidas e as principais explosões e queimaduras vêm porque, “a areia nos meus olhos é a mesma que acolheu minhas pegadas” (citação extra à música da cantora Sandy), mas não seria realmente sobre isso?

Geralmente não nos decepcionamos com quem não conhecemos ou de alguma forma não tenhamos previamente estabelecido algum tipo de expectativa. E a cada giro do mundo, isso se torna ainda mais chocante, porque, novamente, criamos expectativas onde sabemos que não nascerá novas estrelas, e quando vemos a impossibilidade desses novos seres, esperamos que o mundo pare e retorne para o lugar de onde veio, mas ele não para. Ele continua. Girando e girando. Ele, nele mesmo, como um oroboros, e ele em volta de algo muito maior, que gira em algo muito maior, que sempre cresce. Porque algumas explosões são maiores do que se esperava que fossem, mas são ainda apenas explosões, não o fim do fractal.


AUTOR: João DOEDERLEIN
EDITORA: Paralela
PUBLICAÇÃO: 2021
PÁGINAS: 184


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