Esse livro mexeu comigo. Com toda a sua fantasia, investigação criminal, cenas de ação arrebatadoras e um romance fora dos padrões, posso dizer que jamais esquecerei esse universo. Acima de tudo, CASA DE TERRA E SANGUE é um livro sobre perdas e ganhos, sobre o poder da amizade e do amor, sobre a profundidade da depressão e todas as suas características despercebidas. Sobre persistência, superação e evolução.

Bryce Quinlan é uma mestiça — metade humana e metade feérica — que adora a sua vida. Durante o dia trabalha pra uma bruxa poderosa, negociante de antiguidades, vendendo artefatos mágicos ilegais. À noite se diverte com os amigos nas casas noturnas e bares de Lunathion (ou Cidade da Lua Crescente), usufruindo de todos os prazeres disponíveis. Entretanto, numa noite qualquer, após sair de uma boate, Bryce vê o seu mundo desmoronando ao encontrar os rastros de um assassino implacável.

Dois anos depois, com a vida perfeita transformada num verdadeiro inferno, a semifeérica se vê no meio de uma investigação oficial ao lado de um anjo caído de passado brutal e sanguinolento. Hunt Athalar, assassino pessoal dos Arcanjos e conhecido por ser “A Sombra da Morte”, é designado para ser o seu guarda-costas — e colega de trabalho. Athalar não quer ter nada a ver com Bryce, uma vez que a garota é conhecida por ser fútil e superficial, mas sua opinião logo é abalada quando o anjo percebe que há muito mais por baixo da superfície.

Enquanto a dupla revira Lunathion atrás de uma solução para os assassinatos que se reiniciam, ameaças que envolvem a cidade através do submundo e dos continentes em guerra, chegando aos níveis mais obscuros do inferno, se concretizam em demônios milenares que começam a despertar.

Os primeiros capítulos são complicados. O universo de CIDADE DA LUA CRESCENTE envolve uma sociedade composta por feéricos, bruxos, anjos, arcanjos, faunos, metamorfos, duendes, sereias e humanos (além de uma ótima referência ao folclore alemão e escandinavo). A população é dividida em casas e a nossa querida Bryce pertence à que dá nome ao livro. Há uma lista compilando todas elas e identificando as raças pertencentes a cada uma. Isso, unido a um mapa da Cidade da Lua Crescente, contribui pra uma melhor experiência durante a leitura.

Eu, particularmente, senti certa dificuldade em idealizar o cenário, aceitar a possibilidade e imergir na leitura. Mas, poucas páginas depois, quando a familiaridade finalmente ocorreu, a leitura fluiu perfeitamente bem. A escrita de Sarah J. Maas é simples e direta, não faz rodeios e não complica sem necessidade. Ela nos fornece respostas para cada termo apresentado e garante que tudo seja muito bem justificado. Sabemos que o primeiro volume de séries acaba sendo cansativo devido à enxurrada de informações, mas esse não foi o caso aqui. Considerei uma excelente apresentação.

A classificação etária definida em “+18” é essencial, já que a descrição das lutas e homicídios é bem detalhada. Cenas explicitas de sexo, consumo de álcool e drogas ilícitas, além de um vocabulário pincelado de termos de baixo calão, são encontrados em todo o enredo. Isso não empobrece e nem atrapalha a leitura, muito pelo contrário. Traz mais proximidade ao leitor, facilitando a já citada imersão através de cenas cotidianas. Eu, como uma boa pessoa irritada que utiliza de alguns palavrões, me senti fielmente representada.

O enredo é repleto de reviravoltas e cenas de ação muito bem colocadas. Embora contenha várias páginas de investigação, pesquisas, pequenas descobertas — e uma rotina confortável entre os protagonistas —, embate corporal é o que não falta por aqui. Essa alternância no ritmo cardíaco me fez viciar na leitura, em diversos momentos me vi compartilhando dos mesmos sentimentos que os personagens. As cerca de duzentas páginas finais são carregadas de suspense e muita ação, então recomendo um bom copo d’água e algumas pausas na leitura pra assimilar o que foi lido. Sério. É preciso estar atento às informações dadas, um detalhe que passe batido pode alterar totalmente o andamento da coisa.

O desfecho uniu todas as pontas e deixou vários ótimos ganchos para a continuação. A configuração inicial praticamente caiu por terra, de modo que não consigo nem chutar o que acontecerá com qualquer personagem. Bem, só posso dizer que estou ansiosa. Acredito que o próximo volume será ainda melhor, já que as explicações pertinentes ao universo foram devidamente colocadas aqui. A não ser a autora insira novos elementos, tenho todos os motivos do mundo pra achar que a pré-venda deva vir com um colete à prova de balas, porque vai ser tiro pra todo lado.


AUTORA: Sarah J. MAAS
TRADUÇÃO: Adriana FIDALGO
EDITORA: Galera
PUBLICAÇÃO: 2020
PÁGINAS: 896


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