Programado para estrear no fim de março, MULAN é o novo live action da Disney, que nada mais são do que filmes com atores reais, recontando, mais uma vez, as histórias das clássicas animações do estúdio. Já estava pronto para estrear, mas a pandemia veio e o fechamento dos cinemas fez com que a produção fosse lançado em streaming, e cá estamos com MULAN, sem dúvidas um dos filmes mais esperados do ano, será que a espera valeu a pena? Vamos descobrir.

A China Imperial está sendo atacada e logo o imperador ordena a formação de um exército que vai contar com pelo menos um homem por família. Mulan vem de uma família pequena, e junto com seu pais, ela só tem mais uma irmã. Para as mulheres, a vida se resumia em casar e ter filhos, para assim trazer honra para a sua família. Mas Mulan não parece muito à vontade em seguir essa tradição, a jovem sempre mostrou talento acima da média para a arte da luta, mas isso não lhe servia para nada sendo uma mulher, ou será que serviria? A convocação de guerra do imperador chegou em sua família, e seu pai, debilitado, se prontificou a lutar, mas Mulan sabe que se o seu pai doente for para a guerra, ele não irá voltar. Então resta para Mulan assumir o lugar do seu pai, se fingir de homem e ir para a guerra, com o objetivo de salvar seu pai e também de encontrar o seu lugar no mundo.

A trama base segue bastante o esqueleto da animação clássica de 1998, que juntas se inspiraram numa antiga lenda chinesa da filha que assumiu o lugar do pai numa guerra. A Disney, desde o início, se mostrou com um objetivo claro para essa nova versão de Mulan, agradar acima de tudo o povo chinês, que consiste hoje em dia em um dos maiores mercados mundiais do cinema. Agradar a China é sinônimo de bilheterias astronômicas, e eles fizeram isso, pois a animação clássica não é bem vista pelo povo de lá, que vê com maus olhos algumas representações culturais feitas no filme. Então muita coisa mudou, não temos vários personagens clássicos, não temos o humor e também não temos as músicas, essa nova versão de Mulan não é um musical. Mas quem dera se o único problema do filme fosse ele não ter nada a ver com a animação, quem dera mesmo.

A nova trama insere, desde o inicio, que Mulan é especial, diferente dos outros, quase com poderes. Isso acaba com o desenvolvimento pessoal da personagem que parece chegar na guerra já como um soldado pronto, precisando apenas de ajustes. Na animação, a mensagem central era de que Mulan era uma mulher, porém igualmente capaz de fazer as coisas que qualquer homem poderia fazer. Fazer até mesmo melhor, mas não que ela era a escolhida, alguém com poderes divinos. Ela era alguém que batalhou muito para chegar onde chegou e que não tem medo de fracassar, ela tem muitas dúvidas e receios, essa jornada para a guerra não é nada fácil para o seu emocional.

Outra novidade na trama é que temos uma espécie de vilã, uma bruxa poderosa que se une com os invasores e juntos deles levam o caos para a China. A personagem não é de se jogar fora, mas o espaço dado a ela é muito pequeno e faltou um desenvolvimento melhor. A gente sabe dela apenas o básico do básico, mesmo o filme querendo enfiar goela abaixo no final uma redenção pra lá de caricata que não rola. Como vou me afeiçoar com a personagem, se a coitada quase não tem voz? Ela faz um contraponto bacana com Mulan e juntas entregam boas cenas, mas o trabalho poderia ser muito mais marcante.

Na animação, Mulan não fazia essa jornada sozinha, Mushu, o seu dragão guardião, e o seu grilo da sorte, ajudavam Mulan em tudo e principalmente levantavam o seu moral. Aqui nesse novo filme, Mulan é muito solitária e quase não tem ninguém para se abrir. É difícil comprar o conflito moral que existe na personagem, já que ela não demostra de forma alguma. Mulan parece aprender muito pouco nessa nova versão, ela praticamente sabe de tudo e o seu grande segredo, parece ser apenas um detalhe. A revelação de tudo não tem peso algum e nada tem emoção. Não existe um conflito interno, não existe dor e muito menos um preço a se pagar pela mentira de assumir o manto do seu pai. Tudo não passou de uma grande festa.

Aconteceu com O REI LEÃO e aconteceu aqui também, o filme ficou apressado, sem vida e sem alma. Não existe um momento de contemplação, as grandes sequências que envolvem Mulan na casamenteira, Mulan fugindo de casa e Mulan na guerra tem pouquíssimo impacto e nada emociona o espectador. Talvez uma das cenas mais poderosas da animação, que é Mulan cortando o seu grande e vistoso cabelo para se fingir de homem, foi cortada do filme a troco de nada. Mas custou caro para eles, o espectador fica com cara de paisagem em praticamente todo o filme.

Segundo várias notícias, Mulan já é um dos filmes mais caros da história e o espectador fica a todo o momento se perguntando onde foi parar esses mais de duzentos milhões de dólares que a produção custou. O figurino de fato é muito bem construído, os cenários são bonitinhos e a maquiagem também. Mas o filme não tem sequer uma trilha sonora instrumental de peso e arrepiante, os efeitos visuais não parecem completos, reservando cenas bonitas, alternadas com cenas pobres. Destaque negativo para o ato inicial que acompanha uma jovem Mulan correndo pelos telhados. Cena com efeitos especiais dignos de pena, sem falar da edição que transforma o filme numa bagunça, cheia de cortes bruscos, sem cuidados e transições dignas de novelas com baixo orçamento.

Não dá pra dizer que MULAN é ruim, ele tem um elenco competente e visualmente não é de se jogar fora. Mas a nova trama impressiona pouco e o único momento realmente bom de todo o filme são as cenas de ação. É uma experiência bem diferente da animação e como um filme solo, pode até agradar alguns, mas como um grande fã da animação, esse filme, pra mim, é totalmente descartável. Não dá para perdoar o fato de que o filme não tem as musicas clássicas, o silêncio não passa nada para o espectador. Eu não senti nada, quem sabe você sinta, né? Boa sorte!


DIREÇÃO: Niki CARO
DISTRIBUIÇÃO: Disney
DURAÇÃO: 1 hora e 50 minutos
ELENCO: Liu YIFEI, JET LI, Rosalind CHAO