O livro O MENINO NA PONTE é uma ficção-científica que se passa no mesmo ambiente de A MENINA QUE TINHA DONS. É uma história sobre cientistas e militares que iniciam uma jornada a bordo do Rosalind Franklin em busca da cura para um fungo, o Ophiocordyceps unilateralis, que se difundiu pelo mundo, criando um novo modo de vida, em que os não infectados tentam de todo modo se proteger para não acabarem como zumbis.

Uma característica muito interessante é que o autor tenta sempre trazer os aspéctos científicos com uma lógica que realmente parece bem “possível” de acontecer. As justificativas sobre como o fungo se comporta, os efeitos que causa no corpo, as medidas que conseguiram para ter um mínimo de controle, todos são cientificamente, na medida do possível, coerentes. A tripulação do Rosalind Franklin é dividida basicamente em dois grupos, mas que sempre atuam em conjunto: os cientistas e a parte de defesa e controle. Eles possuem dois comandantes, um civil e outro militar, que nem sempre estão em acordo sobre as decisões tomadas. Além deles, há Stephen Greaves, um jovem que foi resgatado pela epidemiologista Samrina Khan em um ataque e, desde então, também faz parte da tripulação.

É complicado definir Greaves como o único personagem principal, primeiro porque é uma história com uma quantidade limitada de personagens além da tripulação. O segundo motivo é que os capítulos, sempre narrados em terceira pessoa, variam o foco a depender do momento, permitindo que se costure a história de uma forma mais compreensível. Ainda assim, Greaves se mostra como uma das maiores promessas na busca pela cura para o fungo, primeiro por ter desenvolvido um gel bloqueador que permite uma espécie de camuflagem, e segundo por sua percepção “fora da caixa” sobre o problema.

A questão é que o resto da tripulação não enxerga esse potencial em Greaves. Na realidade, acabam tomando-o até mesmo como atraso. Isso complica, não só em suas pesquisas, mas em como contar para os outros sobre seus avanços, já que são realizados de forma extraoficial. Essas situações nos fazem ter aquela ansiedade em chegar nos trechos que ele é o foco, porque são os trechos em que as descobertas realmente acontecem, mas também nos deixam com certa angustia para saber como ele enfrentará o problema.

Acredito que quem ler O MENINO NA PONTE no momento atual, ou até mesmo depois de 2020, correlacionará a história do livro com a pandemia que estamos passando. Isso pode ser bom ou ruim, a depender do leitor, pois para alguns pode ser um momento de reflexão (mais abstrata) sobre o que temos vivenciado. Por outro lado, também pode ser motivo de ansiedade para algumas pessoas, então é muito importante avaliar se você está em busca de distração da realidade ou de tentativa de compreensão sobre ela.

Eu demorei um pouco mais para ler O MENINO NA PONTE, devido a um ou outro detalhe mais científico, que me tomava alguns instantes para reflexão, mas no geral a história é bastante instigante. Os capítulos não são curtinhos, mas também não são muito extensos, e o famoso “só mais um capítulo” me acompanhou durante toda a leitura. Os livros de ficção científica não são minha primeira escolha, mas confesso que me apaixonei por esse.


AUTORA: M. R. CAREY
TRADUÇÃO: Edmundo BARREIROS
EDITORA: Fábrica231
PUBLICAÇÃO: 2020
PÁGINAS: 384


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