A doida mais amada do cinema está de volta, Harleen Quinzel, ou simplesmente Arlequina para os íntimos. Seu relacionamento com Coringa acabou de vez e no momento ela atravessa a maior fossa de sua vida. Seus dias se resumem a beber, arrumar confusão nas ruas e se lamentar. Agora ela precisa de amigos, um novo projeto de vida e também se esconder, já que meia cidade quer pegar ela. Já adianto que essa jornada será uma loucura, vamos lá?

A nossa Arlequina está ferrada e triste, ela terminou com o Coringa e está decidida a seguir em frente, mas ela precisa fugir de todas as pessoas que sacaneou. Fora isso, ela precisa cumprir o trato que fez com um importante mafioso, encontrar um diamante que no momento está em posse de uma garota fujona. Mas ela não é a única atrás da menina, a cabeça da garota está a prêmio e quem chegar primeiro se torna rico.

Em paralelo temos uma mulher que trabalha como cantora no bar desse mafioso, ela tem um passado estranho que envolve sua mãe, que tinha um poder curioso. A mesma acaba de ser promovida a motorista e capanga desse senhor do crime, mas ela não está nada satisfeita com essa nova função. Some a isso uma detetive, uma mulher mais velha que está cansada de ter seus méritos roubados por homens. Temos também outra garota mascarada que mata homens com uma besta e uma garotinha mão leve, que depois de roubar um pequeno diamante, ao ser pega, ela engole o mesmo no desespero. O que será que une todas elas na mesma narrativa?

O roteiro consegue, com clareza, apresentar todos esses fatos, dá pra entender quem é quem e o motivo para as coisas acontecerem. Mas nada disso vem de maneira organizada. A distribuição de informações no início se apresenta como um problema na narrativa, mas que com o tempo, as escolhas do roteiro se provam bem interessante, pois num filme de loucos, a trama não pode ser normal, né?

E tudo vai e volta, de trás pra frente, e de frente para trás. A cronologia é mais bagunçada que a política brasileira, mas com o tempo o espectador se acostuma. O filme conta com uma narração de Arlequina que está presente em boa parte da produção, ajudando a trama a entrar nos eixos. Todas as personagens tem o seu momento e elas aproveitam o espaço cedido. O único deslize está na construção do vilão, o mafioso conhecido como Máscara Negra. A caracterização do mesmo é bacana e seus trejeitos são bem bolados, mas as suas motivações e seu planinho é bem bobo e não se destaca em nenhum momento.

Tanto o roteiro como a direção, são assumidos por mulheres e isso faz uma diferença no resultado final. A Arlequina é uma vilã forte, uma quase anti-herói, mas a representação da mesma em ESQUADRÃO SUICÍDA se resumia a sequências de extrema sexualização de seu corpo, suas habilidades quase não são trabalhadas. Já em AVES DE RAPINA, o espectador finalmente é apresentado ao poder e à loucura da personagem. Ela protagoniza várias cenas de ação e todas são grandiosas e extraordinárias. A gente está pagando por um filme divertido de ação e é exatamente isso que recebemos, muita porradaria, lutas insanas e bizarras. Isso é ser Arlequina. Na verdade, todas as mulheres protagonizam cenas de ação e não tem uma que esteja ruim.

Na base pode ser, sim, comparado como uma continuação distante de ESQUADRÃO SUICÍDA, mas o filme aqui funciona muito bem sozinho. É um projeto que tem muita comédia, mas é mais alegre do que engraçado. As piadas são pontuais e todas funcionam, o que eleva o filme é o carisma das personagens, principalmente porque tudo gira em torno de Arlequina. Margot Robbie prova mais uma vez que nasceu para viver essa personagem e a atriz nunca esteve tão bem e confiante em cena. Agora que ela tem espaço pra brilhar e marcar seu nome e ela não decepciona.

Outra personagem que merece destaque e a Canário Negro, vivida pela atriz Jurnee Smollett-Bell, que manda muito bem no charme, no mistério e na ação. A mesma é fortíssima e é tudo, menos uma dama para ser salva. O resto do elenco é competente, o mesmo não pode ser dito da atriz Mary Elizabeth Winstead que vive uma personagem com um grande destaque, mas a atriz parece dispersa e não injeta presença em cena.

É um filme feito por mulheres, com mulheres, mas que é para todos. Não fica devendo em nada para os outros filmes do gênero e mesmo sendo um pouquinho pesado, é uma diversão que qualquer um pode aproveitar. É lindo visualmente, os efeitos visuais estão ótimos, a trilha sonora nasceu com vários hits em potencial e a edição faz o filme voar, você nem sente o tempo passar. O que temos no final são um grupo de mulheres fortes que arrebentam a cara de vários homens que realmente mereciam porradas. Um filme que respeita suas personagens, as atrizes e também o público. Aquele tipo de projeto necessário e gostoso que merece todo o sucesso do mundo.


DIREÇÃO: Cathy YAN
DISTRIBUIÇÃO: Warner
DURAÇÃO: 1 hora e 49 minutos
ELENCO: Margot ROBBIE, Jurnee SMOLLETT-BELL, Ewan MCGREGOR, Rosie PEREZ, Mary Elizabeth WINSTEAD