A banda britânica Queen é mundialmente conhecida, cultuada, respeitada e admirada. Seu integrante mais icônico, Freddie Mercury, faz parte da cultura pop e pelo menos uma música deles você conhece. E estamos aqui com um filme homenageando esses mestres que inspiram e encantam as pessoas até hoje.

Na trama, temos o jovem Farrokh Bulsara, imigrante africano que, junto com sua família, muda-se para Londres fugindo da perseguição em seu país natal. Já em terras inglesas, o jovem acaba esbarrando com uma banda de faculdade que perdeu o seu vocalista, e dessa união, Farrokh abre espaço para Freddie Mercury, novo vocalista da Smile, que desaparece para dar lugar à banda Queen. Agora, juntos e entrosados, os quatro membros tentam fazer o máximo de shows possíveis e conseguir um contrato com um estúdio para a gravação de um álbum. Depois de muita luta, o primeiro álbum é lançado, o segundo, o terceiro… Mesmo com ótima repercussão e alguns sucessos, ainda faltava uma obra-prima, algo que consolidasse o nome deles para sempre na história da música, e esse sucesso todo veio com Bohemian Rhapsody.

Bohemian Rhapsody é uma canção que já foi utilizada em vários filmes e que, com certeza, você conhece alguns dos clássicos acordes. A música revolucionou a indústria ao ser um grande hit e ter mais de cinco minutos de duração, algo insano para a época. Tem balada, tem solo de guitarra, tem ópera e hard rock, uma música irretocável que consolidou o Queen no mundo.

Trata-se de um filme biográfico com música, não chega a ser um musical, e se você for muito fã da banda e desejar muita fidelidade e realismo, esse filme não é para você. O roteiro se foca exclusivamente em Freddie, deixando os outros integrantes em segundo plano. Freddie era conhecido por ser muito excêntrico e por ter vivido cheio de excessos. Porém, o filme transforma a vida dele em algo mais palpável e amigável para o grande público. Seu grande envolvimento com drogas mal é citado, e sua vida pessoal/sexual é desenvolvida com bastante cautela. Se formos compararmos filmes biográficos sobre músicos, o filme nacional CAZUZA – O TEMPO NÃO PARA e o americano RAY, sobre a vida do pianista e cantor Ray Charles, papel que deu o Oscar para Jamiee Foxx, ganham em disparado na coragem e fidelidade em mostrar as pessoas como elas eram em vida, apresentando todas as suas dores, dificuldades, vícios e o extraordinário talento que cada um tinha. Não é que Bohemian seja ruim, o problema mesmo é a falta de coragem de ir além, e isso pode ser creditado ao estúdio, que queria um filme mais light ou até mesmo os membros da banda que palpitaram sobre o foco do roteiro.

O ápice da história é o “Live Aid“, um importante concerto musical que aconteceu simultaneamente nos Estados Unidos e na Inglaterra nos anos 1980. O objetivo do evento era arrecadar fundos para a Etiópia, país africano que estava sofrendo com a fome. E esse evento é importante para o Queen por vários motivos: o primeiro, era porque o próprio Freddie tinha raízes africanas e queria ajudar sua terra natal; o segundo, era porque a banda passava por problemas internos e esse show poderia ajudar a colocar todos nos eixos. E porque esse evento é tão importante para o filme? Simplesmente porque o show teve menos de meia hora e é um dos melhores shows que a banda já fez na história. Tudo é icônico: figurinos, coreografia e a lista das canções. O filme recria todo esse espetáculo numa sequência arrepiante e emocionante. A escala de filmagem é enorme e a direção mostra de todos os ângulos possíveis esse espetáculo sem precedentes, que agora podemos conferir numa telona, sentindo pelo menos 10% do que o público do show sentiu nesse dia histórico. Impossível não embalar pelas canções que você sabe de cor, como We Are The Champions e We Will Rock You.

O elenco chega a ser assustador se você for conferir a semelhança dos atores com os integrantes originais da banda. Gwilym Lee vive o guitarrista Brian May, tem um desempenho exemplar e consegue passar muito bem um ar paterno e de líder. Ben Hardy já participou da franquia X-MEN e agora encarna Roger Taylor, o baterista. Ele vive o mais juvenil, apaixonado e impulsivo, saindo-se muito bem. Joseph Mazzello já fez muita coisa: JURASSIC PARK, A REDE SOCIAL e a mini serie HBO, THE PACIFIC; e nas horas vagas, ele é um sósia de John Deacon, baixista do Queen. Até mesmo sem caracterização, ele é idêntico ao integrante original e tem o desempenho mais leve e suave do elenco, combinando bem com sua personalidade e papel no grupo. Allen Leech e Aidan Gillen, o Mindinho de GAME OF THRONES, vivem, respectivamente, empresários da banda e se saem muito bem num intenso atrito para saber quem acha que controla mais o grupo.

Por último e mais importante temos Rami Malek, na pele do grande Freddie Mercury. O ator leva um tempo considerável para entrar no personagem, porém quando isso acontece não sobra mais para ninguém. Ele encarna com perfeição simétrica os trejeitos, andar, fala e postura do Freddie, como se fosse uma máquina de xerox viva. E tudo isso fica mais evidente durante as várias sequências musicais onde está se apresentando com a banda. É como se tivéssemos o Freddie de volta um pouco, e, por um pequeno tempo, esquecemos que estamos no cinema. O filme não é uma biografia exclusiva do Freddie e acaba não desenvolvendo muito o momento em que contraiu HIV e nem sua posterior morte, mas o que temos deixa o assunto claro e fica compreensivo para o espectador a limitação de informações. Seu desempenho e dedicação, com certeza, valem prêmios, mas se eles não chegarem, ao olhar para trás, o ator vai poder se orgulhar de ter entregado um desempenho respeitável e digno.

O resultado final é uma experiência sensacional para quem quer se divertir, mesmo que não conheça muito sobre a banda. O básico é apresentado para o espectador, a ressalva fica pela falta de fidelidade e aprofundamento em questões centrais, como a vida conturbada de Freddie. De fato, o filme toca nesse assunto, mas as pinceladas logo somem graças ao roteiro problemático e uma edição frenética demais, que impossibilita o público de se situar em relação ao tempo. O nosso Brasil faz presença em um pequeno arco e é triste que eles não tenham desenvolvido isso com mais detalhes. Para quem não sabe, o Queen foi uma das primeiras bandas internacionais que apostou no Brasil e que esteve no primeiro Rock In Rio, onde o público gigantesco encantou todos os integrantes da banda ao cantar de maneira perfeita todas as músicas. Na cabeça da banda isso era surreal, um público de milhares cantando em inglês sendo que essa nem era sua língua nacional.

Grande parte dos artistas que passam pelo Brasil elogiam o carinho e a energia que os fãs tem com seu ídolo. Isso é um fato, e nos torna únicos em todo o mundo, e assistir BOHEMIAN RHAPSODY é ver toda essa energia e intensidade que nós temos em uma banda. O Queen era apaixonado pelo que faziam, e Freddie controlava o público na palma da mão. Felizmente essa essência está presente no filme. São tantos momentos sensacionais, tanta energia e paixão, que o espectador simplesmente se joga. É mais que um filme, é uma experiência intensa e emocional, corra para os cinemas!


AVALIAÇÃO:


DIREÇÃO: Bryan SINGER
DISTRIBUIÇÃO: Fox
DURAÇÃO: 2 horas e 13 minutos
ELENCO: Rami MALEK, Ben HARDY, Joseph MAZZELLO, Gwilym LEE, Aidan GILLEN, Allen LEECH, Lucy BOYNTON e Mike MYERS