Recentemente, aconteceu um daqueles episódios que atraem discussões, a famosa treta. Um autor resolveu tornar público o orçamento de uma booktuber, porque ele achou injusto a moça cobrar para divulgar o livro dele. Já muito se falou sobre isso, e acho que nem tem porquê, uma vez que a revolta dele é tão descabida, tão idiota, tão sem sentido, que não merece nem ser comentada. Eu quero, na verdade, é falar do assunto que é o título deste post, esse, sim, mais sério e importante.
A gigantesca maioria, mas gigantesca mesmo, dos booktubers e blogueiros e donos de Instagrams literários, inclusive esses que você segue e ama ouvir e ler opiniões, esses mesmos, bem famosos e queridos, que exibem produtos, roupas ou coleções de livros de capa dura, e etc., fazem publicidade disfarçada de opinião. E isso, meus caros, é ilegal segundo o Artigo 36, da Seção III, da lei do CDC (Código de Defesa do Consumidor):
A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal.
Tal ato é cabível de multa, tanto à pessoa que faz a propaganda disfarçada, quanto para a empresa que paga por essa propaganda. E isso vale para aquelas fotos no Instagram segurando um livro, um celular, um copo de leite, sorrindo e dizendo nos comentários que é o melhor livro da vida, ou o melhor celular de todos, ou que ama beber leite, mesmo que a pessoa não ache nada disso, afinal ela recebeu para dizer. Vejo isso acontecer muito com livros, afinal é o meio em que navego mais, e sempre leio e vejo várias pessoas dizendo que determinado livro é incrível, espetacular, sem dar qualquer motivo para ele ser assim, afinal não precisa, basta insistir nos adjetivos caso esteja recebendo algo em troca.
Na maioria das vezes, é fácil você identificar quando uma opinião é falsa, quando ela é paga: a pessoa não tem embasamento para explicar o motivo do produto ser bom. Ela usa e abusa de adjetivos, ou então utiliza aquelas explicações clichês, do tipo: escrita fluída, narrativa empolgante, personagens bem construídos, etc. Também existem aqueles casos em que a pessoa até chora no vídeo, dizendo que o livro a destruiu, que a história é linda, que está muito emocionada, e por aí vai. Para qualquer adjetivo, precisa existir uma justificativa para ele existir. Se não há, então desconfie. Qualquer exagero é motivo de desconfiança, ainda mais quando ele não é explicado.
Isso quer dizer que tudo é propaganda? Que tudo é falso? Ou que vídeos e posts desse tipo são errados? Bem, são ilegais e são errados, sim! Mas nem todos são propaganda, nem todos são falsos. Muitos não possuem capacidade para se expressar de forma correta, ou explicar os motivos de terem gostado de algo. A forma como acham que se faz isso, é extrapolando na emoção. E outros, acham que só ganham credibilidade e parcerias ou anunciantes, elogiando tudo o que cai nas mãos. E é nessa dualidade, nessa incerteza, que reside o grande problema, reside o ilegal da história: você não sabe quando é real ou quando é pago. E por isso é obrigatório informar.
A maioria das pessoas que não informa, eu acredito que não seja por desonestidade, mas por inexperiência profissional. Elas acham que precisam disso para convencer seu público. Não é verdade. A partir do momento que você tem um público e quer fazer propaganda de algo, mesmo você informando que é uma propaganda, seu público vai ficar interessado, afinal é você quem está indicando. O benefício disso, é que seu público passa a confiar quando você emite uma opinião, e se ele confia em você, ele vai comprar aquilo que você anuncia.
Mas, como eu disse, a maioria dos influenciadores saiu da puberdade, ou ainda nem saiu, e caiu direito nesse meio de ganhar dinheiro. Não têm idade e nem experiência para gerenciar um negócio ou identificar como se comunicar com seu público sem disfarçar a opinião. Podem conferir que os influenciadores mais velhos, mais experientes, sinalizam quando é uma propaganda. Essa mesma booktuber que teve o orçamento divulgado pelo escritor, ela avisa quando o livro do vídeo é uma publicidade. E isso não diminui em nada sua credibilidade ou a do livro que ela está anunciando.
Outros canais experientes, como o da editora Pipoca e Nanquim, ou Jovem Nerd, por exemplo, fazem o mesmo. Eles avisam sempre nos vídeos quando estão fazendo propaganda. Isso não só os coloca dentro da lei, como também faz com que eles sejam honestos com o público deles. Sim, honestos. Se alguém dá uma opinião sobre um livro, sobre um produto, qualquer um, mas não acredita no que está dizendo, é desonesto, sim, é falso, sim, está enganando seu público, sim. É falta de caráter. E é desnecessário.
Se você tem um blog, um Instagram, um canal no Youtube, e vai falar sobre um livro ou outro produto do qual você recebeu para falar, seja correto, avise que é publicidade. Isso não só é legal, como também demonstra para quem assiste, que o conteúdo que você produz é tão bom, que pagam para você fazer. Não existe nada de ruim em receber dinheiro para anunciar aquilo que você consome e compartilha. É seu trabalho, você merece receber por ele.
Mas isso se aplica apenas a contratos financeiros e não quando você recebe um produto como pagamento. Por exemplo, quando uma editora envia um livro para você resenhar e não tem dinheiro envolvido no processo, apenas o produto em si, ou seja, é uma permuta, você, por lei, não é obrigado a avisar. Mas isso não quer dizer que você precisa colocar uma opinião que não tem sobre o que recebeu. Por moral, por honestidade, não finja gostar do que você não gosta, seja sincero. Não tenha medo de perder parcerias por ser honesto. Você não perde. Sua integridade é mais importante do que qualquer parceria. Ou será que um livro é preço suficiente por sua integridade? Ela vale tão pouco?
Você tem que ter em mente que para se tornar um profissional, como muitos os que existem hoje em dia na Internet, no Youtube, você precisa ser sério no que faz, e não um ator que entrega emoções de acordo com quem paga. Você não representa um personagem, você representa quem você é. Então torne essa pessoa em alguém que vale a pena acreditar. Com isso, você não só estará dentro da lei, como também estará respeitando quem realmente proporciona as coisas que você consegue: seu público!
Você falou tudo, Carl!!
Fico muito feliz quando vejo você trazendo essas discussões ao blog.
Dos canais que sigo que são grandes muitos já passaram a usar o alerta de que é propaganda. Percebemos o cuidado em seguir a lei. Mas infelizmente no âmbito das permutas ainda vejo uma enxurrada de blogueiros, booktubers iniciantes e igs literários “expressando” opiniões tão chulas que levá-los a sério é difícil. Você bem sabe que eu mesmo fui um dos enganados com o livro do Diário de Uma Escrava que não recebia nenhuma resenha negativa – só adjetivos positivos – até você expressar a sua por resenha. Só não deixei o livro num banco da praça porque tinha que enviar para a outra guria do GETTUB. kkk
Que o blog continue sempre a crescer e nunca perder a sua credibilidade. <3
Abraços.
Estava pensando sobre isso estes dias, acompanhando uma breve discussão no facebook por conta disso.rs Divulgação de produtos(no caso, não livros, por um blog que era de livros e acabou não sendo mais de livros, pois o foco se tornou outro).
Mas uma briga besta, um apontando o dedo para o outro, acusações e fiquei ali, lendo os comentários e tentando entender o que havia acontecido de fato(curiosa mode on)
Mas ninguém é obrigado a aceitar isso e de boquinha calada, nem de fazer divulgação gratuita. Então, é preciso apenas um trocinho que anda em falta em muitos de nós: bom senso!
Mais uma vez, o blog abre espaço para uma ampla discussão saudável sobre este assunto, que sim, causa polêmicas!!
Parabéns!!
Beijo
Oi Carl!
Preciso rever então o meu “jeito” de escrever sobre minhas leituras… exatamente algumas dessas palavras que uso…lkkkkk obg pelas dicas!
Mas, como não sou blogueira tento repassar o que achei…a maioria dos livros que li eu curti msm e não é para encher linguiça e nem o saco de ngm que flo bem não, é pq realmente gostei do que li… E cai naquilo né, o que funciona cgm pode não funcionar para o outro … enfim…Eu gostei mto do seu post pois vi uma discussão dessa nas redes sociais dias atrás, não entendi bem o tva acontecendo mas imagino que tenha gerado uma boa polêmica…
Bjs!
Parabéns, Carl! Como sempre, você arrasou, disse tudo!
Concordo com tudo.
Acho errado não sinalizar também, e é como você disse, não é feio ser pago para trabalhar, divulgação, resenhas, etc., ajudam e traz muitas vendas para o autor, é apenas um investimento que ele faz, e quem quer realizar seus sonhos, TEM que investir.
Eu nunca ganhei dinheiro como blogueira, mas sempre sinalizo os livros recebidos de parceria, acho importante.
Agora se alguém critica quem trabalha assim, acho que devemos ignorar, isso é tudo recalque. Desde que você não esteja roubando, não tem o porquê de se envergonhar.