Todos dizem que Eve tem uma vida boa. Ela tem um emprego estável, uma bela casa, um marido lindo… Tudo parece perfeito, como deveria ser. Mas nem tudo é como Eve gostaria que fosse.
No ano anterior, um escândalo abalou o colégio onde ela leciona matemática. Segundo boatos, um professor, seu antigo mestre e amigo, teve um caso com uma aluna do ensino médio, Addie, e, por causa da polêmica, ele acabou pedindo demissão. Nada ficou devidamente esclarecido, e Eve suspeita que, por trás dessa história toda, exista algo bem mais sombrio.
Addie não é confiável. Ela mente, magoa as pessoas e destroi a vida dos outros. Pelo menos é o que dizem. A questão é que ninguém conhece a verdadeira Addie. A adolescente guarda segredos que podem arruinar sua própria vida. Por isso, fará de tudo para que ninguém os descubra.
“A Professora” tem a mesma essência dos outros livros da autora, como “A Empregada”, “O Segredo da Empregada” (resenha aqui) e “A Empregada Está de Olho” (resenha aqui). A narrativa em primeira pessoa é sempre conduzida pelas protagonistas de forma a nos enganar, e a cada história somos surpreendidos com duas ou três reviravoltas que mudam completamente tudo o que achávamos saber. As motivações e os comportamentos dos personagens ganham novos sentidos, e aquilo que parecia óbvio se transforma em algo inesperado.
Essa forma de contar histórias é o que torna os livros tão cativantes. O leitor acompanha os acontecimentos acreditando ter desvendado o enredo, apenas para descobrir, perto do final, que estava errado. É essa sensação de surpresa, de ser levado por caminhos que não viu chegando, que faz a leitura ser tão deliciosa e impossível de largar.
Em “A Professora”, acompanhamos as histórias de duas personagens principais: Eve e Addie. Eve é professora de matemática e é casada com Nate, um professor de Inglês e Literatura. Os dois trabalham na mesma escola, mas o relacionamento deles está longe de ser perfeito.
Eve tem uma compulsão por sapatos e sempre encontra uma desculpa para comprar mais um par, geralmente caro. É o jeito dela de lidar com a insatisfação no casamento. Nate, embora pareça um marido amoroso, age de forma mecânica, sem naturalidade, e evita qualquer contato físico ou intimidade. No entanto, na escola, Nate é completamente diferente: o professor perfeito, cuidadoso, atencioso e simpático, alguém que todos adoram.
Addie é uma adolescente de 16 anos que enfrentou problemas no ano anterior envolvendo seu professor. Surgiram suspeitas de que ele teria tentado uma aproximação imprópria com Addie, mas ela nega, e nenhuma prova foi encontrada. Mesmo assim, a escola decidiu afastar o professor, e Addie acabou ficando com a reputação de ter se envolvido com ele.
Agora, neste novo e último ano escolar, Addie precisa lidar com a desconfiança de todos ao seu redor, além de sofrer constantemente com o assédio de Kenzie, uma aluna influente na escola, que intimida qualquer pessoa de quem não gosta. E para piorar, Kenzie namora Hudson, o melhor amigo de Addie, que parece ter se afastado dela após o incidente do ano anterior.
No último ano da escola, Addie tem aulas com Eve e Nate. Eve é uma professora que prefere manter uma postura reservada, focando apenas em seu papel como educadora, sem criar vínculos com os alunos. Nate, por outro lado, é o completo oposto: um professor atento ao progresso de cada estudante, sempre disposto a ajudar da melhor forma possível.
Quando percebe que Addie está enfrentando um momento difícil, Nate começa a se aproximar, tentando melhorar seu ânimo e suas notas. No entanto, Eve não enxerga essa aproximação com bons olhos. Ela alerta Nate, dizendo que Addie pode representar um risco para sua carreira, especialmente considerando os acontecimentos do ano anterior.
Na primeira parte da história, que ocupa a maior parte do livro, a autora mantém o leitor em dúvida sobre as intenções reais dos três personagens principais. As questões que surgem são: será que Addie realmente busca se aproximar dos professores com segundas intenções? Nate é de fato tão bondoso quanto parece? E Eve, seria apenas a figura rígida que aparenta ser, com conflitos emocionais e psicológicos que impactam seu casamento, ou há algo mais por trás de sua postura? Na segunda parte, essas perguntas começam a ser respondidas, mas, na terceira parte, novos elementos surgem, mudando algumas percepções.
“A Professora” aborda temas complexos e delicados, como fidelidade, abuso de poder e exploração de vulneráveis com pedofilia e estupro. Apenas com a menção desses tópicos, já é possível imaginar muito sobre os personagens. No entanto, a autora não se aprofunda nesses assuntos; eles servem como elementos para impulsionar a trama, as ações e as consequências dos eventos.
Embora essa abordagem superficial pudesse ser considerada uma falha em outras circunstâncias, não é o caso aqui. A proposta do livro é ser um thriller de suspense intenso, focado em desvendar os erros cometidos, apresentar suas consequências e garantir que os culpados enfrentem punições. Além disso, a narrativa deixa claro, inclusive por meio de diálogos diretos, que esses atos são crimes, destacando que as vítimas nunca têm culpa ou responsabilidade pelo que enfrentam.
Embora os temas não sejam explorados em profundidade, a construção dos personagens e a forma como o abuso é retratado são bem elaboradas. A história mostra como um homem em posição de poder, mais velho, é capaz de manipular mentalmente e emocionalmente adolescentes que estão em uma fase de amadurecimento. Essas jovens, cheias de inseguranças sobre o próprio corpo, emoções confusas e desejos que ainda não entendem, tornam-se vulneráveis a uma figura dominante que oferece a atenção que tanto buscam. É dessa maneira que ele consegue alcançar seus objetivos, muitas vezes sem que a vítima se dê conta do que está acontecendo.
“A Professora”, assim como os outros livros da autora, não é um drama, mas se assemelha a um filme de ação em que o protagonista precisa agir de forma dinâmica e rápida. É importante destacar essa diferença para não gerar expectativas de que o livro foi escrito com o objetivo de explorar profundamente esses temas. Na verdade, eles servem como pano de fundo para construir uma trama de suspense envolvente.
Com essa perspectiva, fica mais fácil apreciar a leitura, que oferece um desfecho surpreendente e bastante satisfatório. Apesar disso, há algumas pequenas reviravoltas que, embora comuns na literatura, poderiam ser mais difíceis de adaptar para um formato cinematográfico. Com isso faço referência à tática que muitos autores usam para usar um mesmo personagem para dois papeis diferentes. Como não “vemos” o personagem e dependemos da descrição da narradora, não é difícil criar esse tipo de surpresa.
“A Professora” mantém o mesmo nível dos outros livros da autora, apresentando uma trama cheia de mistérios que prende a atenção do início ao fim. A história desperta a curiosidade para descobrir quem é o verdadeiro assassino, quem foi a vítima, quais foram os motivos por trás do crime, se haverá justiça e, claro, quais reviravoltas irão mudar completamente a percepção do leitor ao longo da leitura. É uma experiência envolvente e prazerosa, difícil de largar.
AVALIAÇÃO:
AUTORA: Freida McFadden TRADUÇÃO: Carolina Simmer EDITORA: Arqueiro PUBLICAÇÃO: 2024 PÁGINAS: 336 COMPRE: Amazon |