Minha doença é tão rara quanto famosa. Basicamente, sou alérgica ao mundo. Qualquer coisa pode desencadear uma série de alergias. Não saio de casa. Nunca saí em toda minha vida. As únicas pessoas que já vi foram minha mãe e minha enfermeira, Carla. Eu estava acostumada com minha vida até o dia que ele chegou. Olho pela minha janela para o caminhão de mudança, e então o vejo. Ele é alto, magro e está vestindo preto da cabeça aos pés. Seus olhos são de um azul como o oceano. Ele me pega olhando-o e me encara. Olho de volta. Descubro que seu nome é Olly. Talvez eu não possa prever o futuro, mas posso prever algumas coisas. Por exemplo, estou certa de que vou me apaixonar por Olly. E é quase certo que será um desastre.

Maddy sofre de Imunodeficiência Combinada Grave (IDCG), uma condição que a torna extremamente sensível a diversos agentes externos. Devido a essa condição, ela é obrigada a viver em um ambiente completamente estéril, isento de vírus, bactérias, poeira ou quaisquer outros elementos que possam desencadear uma reação fatal. Em sua companhia, conta com a presença constante de sua mãe e de Carla, que além de enfermeira, atua como conselheira. Seus dias são preenchidos com leituras, filmes e jogos de tabuleiro, permitindo que a vida transcorra de forma tranquila. Aos dezessete anos, Maddy já se encontrava relativamente resignada com sua condição. Contudo, essa resignação é desafiada pela chegada de Olly, um novo vizinho de espírito aventureiro e hiperativo, que tem um gosto peculiar por escalar qualquer superfície que encontre.

TUDO E TODAS AS COISAS transcende a definição de um romance juvenil repleto de ternura e otimismo. Esta obra oferece um profundo relato sobre a importância de não nos resignarmos com circunstâncias que comprometem nossa felicidade. Funciona como um vigoroso incentivo, evidenciando que, independentemente da complexidade de um problema, ou quão improvável possa parecer a solução, sempre há uma saída a ser encontrada.

Como é comum em romances, o elemento crucial que determina a qualidade da obra é a verossimilhança do casal principal. Maddy e Olly formam um par harmonioso. A despeito de suas diferenças, ou talvez justamente por causa delas, eles se complementam de maneira ideal. Contudo, um aspecto que merece atenção, embora não seja uma falha dos personagens em si, mas da maneira como foram construídos, é a aparente negligência de Olly em relação à condição de saúde de Maddy.

Ao longo da narrativa, a protagonista adota comportamentos que são, ao mesmo tempo, compreensíveis e repletos de coragem. Ela anseia por experimentar o amor de forma integral: deseja tocar seu amado, viver plenamente ao lado dele. E Olly, evidentemente, compartilha desse desejo. No entanto, ele parece aceitar as decisões de Maddy quase sem resistência. Sob minha ótica, quando se ama alguém verdadeiramente, o bem-estar dessa pessoa é primordial; a última coisa que se quer é vê-la sofrer ou correr riscos mortais, independentemente do quão forte seja o desejo de proximidade física. Esse, em minha opinião, é o único deslize da obra. Contudo, tal ponto não é suficiente para diminuir o prazer da leitura. De modo algum compromete a experiência geral do livro.

A narrativa em primeira pessoa é cativante, equilibrando de maneira excepcional momentos emocionantes e toques de humor. A inclusão de várias páginas que simulam a escrita à mão de Maddy enriquece a experiência de leitura, tornando-a mais dinâmica e fluída, além de conferir um toque de originalidade à obra. Esse detalhe é um diferencial encantador e muito apreciado.

Finalizando, e sem revelar detalhes cruciais, é pertinente abordar o desfecho da história. Ao longo da narrativa, são semeadas pistas que antecipam os acontecimentos futuros, exigindo do leitor atenção para captá-las. Nos capítulos conclusivos, somos confrontados com um drama profundamente emocionante, porém marcado por um certo egoísmo por parte de um personagem secundário. Esta reviravolta se apresenta como uma solução inteligente para o dilema enfrentado por Maddy e Olly, sem parecer artificial ou como um recurso narrativo conveniente. Surpreendentemente, essa situação confere uma nuance mais amável a esse personagem secundário, apesar de suas ações questionáveis não serem necessariamente louváveis.

TUDO E TODAS AS COISAS destaca-se como uma leitura envolvente, mesclando com maestria leveza, emoção, romance e humor. Por essas qualidades, transforma-se em uma obra praticamente essencial. Este livro tem a capacidade de colorir dias nublados e elevar o ânimo de qualquer pessoa. É, sem dúvida, uma recomendação para quem busca uma experiência literária que aqueça o coração. Vale imensamente a pena.

Nota: a edição da imagem consta como da euditora Novo Conceito. Na época, era a editora com os direitos da obra, mas depois passou para a editora Arqueiro.


AVALIAÇÃO:


AUTORA: Nicola Yoon
TRADUÇÃO: Janaína Sena
EDITORA: Arqueiro
PUBLICAÇÃO: 2017
PÁGINAS: 280
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