Uma pessoa foi assassinada no Regent’s Park, a polícia não tem pistas. Sherlock Holmes, um adolescente brilhante, desafia a jovem James Moriarty a resolver o crime antes que ele mesmo o faça. Existe uma única regra: devem compartilhar todas as informações que encontrarem. O que começou como um jogo divertido logo se torna assustador. À medida que se aproxima da solução do caso, Mori descobre que o assassinato está conectado ao próprio passado. Agora, a garota está guardando segredos de Sherlock, de sua família e da melhor amiga… E esses segredos podem trazer severas consequências. Para salvar aqueles que ama, Mori está disposta a acabar com tudo com as próprias mãos.

Existem várias e várias obras literárias, cinematográficas e séries de televisão sobre Sherlock Holmes. Muitas são adaptações fidedignas, outras são apenas inspirações. Assim é com LOCK E MORI, que traz uma versão de Sherlock aos dezessete anos de idade nos dias de hoje, com o Google, celulares e toda a modernidade que preenche nosso cotidiano. Mas a originalidade desta versão não reside nele, mas em seu algoz, Professor Moriarty. Na obra, ele não é ele, mas, sim, ela, uma garota da mesma idade de Sherlock que tem o apelido de Mori, bem como Sherlock tem o apelido de Lock. O casal improvável estuda na mesma escola e, devido a uma série de assassinatos em um parque de Londres, acaba se unindo para descobrir quem é o assassino.

O livro é narrado por Mori, que é a personagem principal. Ela mora junto com o pai policial, extremamente violento, abusivo, e tenta proteger os três irmãos menores de surras diárias. Quando ela se envolve com Lock e os misteriosos assassinatos, fica dividida em se abrir para o garoto e revelar todas as torturas a que é submetida, ou manter o silêncio para evitar que ela e os irmãos sejam tirados do pai e separados por uma vida em orfanatos.

Lock apresenta a genialidade e a frieza do futuro detetive, mas com características mais humanas e mais próximas de um adolescente cheio de hormônios. Ele se interessa quase imediatamente por Mori, porque reconhece nela uma inteligência que rivaliza com a sua própria, algo que ele não esperava encontrar, principalmente no meio dos colegas de escola. A relação dos dois é conflituosa, mas ambos se entregam a um romance que, a princípio, parece um pouco desnecessário, ou que só acontece para tentar agradar aquele público jovem que anseia por beijos e conflitos amorosos. Bem, aos poucos, o leitor vai perceber que o romance tem um outro propósito.

Qual o sentimento que se iguala em intensidade ao amor? O sentimento que é o antagonista do amor, da mesma forma que Moriarty é de Sherlock? Sim, claro, o ódio. E que forma mais verídica de criar um ódio mortal se não através do amor? Então, sim, o objetivo da paixão que acontece entre Mori e Lock tem um objetivo muito claro, mas a longo prazo, uma vez que este é o primeiro volume de uma série de três, que já foram publicados lá fora, mas que ainda não têm prazo para chegar aqui.

LOCK E MORI é uma grata surpresa que aconteceu este ano. O mistério em volta dos assassinatos, que afeta diretamente Mori e toda a sua família, é simples e está ao alcance da inteligência de qualquer leitor, ao contrário das histórias originais de Conan Doyle. Toda a trama consegue dar uma prévia de como se constrói um vilão, ou, nesta caso, uma vilã, que não tem objetivos megalomaníacos, mas apenas tenta manter uma vida digna e tranquila para os irmãos, para si mesma, independentemente dos meios que ela precise utilizar para esse fim.

E é exatamente nessa moral de qualquer ato possa ser justificável se tiver como objetivo o bem de alguém, que divide o mocinho do vilão. Sherlock também quer salvar as pessoas ameaçadas na história, mas ele quer que o vilão seja preso, que seja feita justiça dentro das leis do homem, enquanto Mori que fazer justiça dentro das suas próprias leis. Os dois tem um plano, mas é quando o plano de um se sobrepõe ao plano do outro, que começa a rachadura do relacionamento, mesmo que o plano que vence seja para salvar a vida de um deles.

Essa dualidade, essa existência de uma área cinza na moral de Mori, não cria uma antipatia, pelo contrário, é totalmente compreensível existir uma aproximação e uma compreensão do leitor pela situação que Mori vive e a forma como ela encontra para ficar a salvo, bem como seus irmãos. Aí cabe ao leitor decidir se os fins justificam os meios, ou se uma pessoa, para se manter dentro dos padrões estabelecidos pela sociedade, precisa continuar a viver pelo medo, pela vergonha, sem esperanças de dias melhores. E se um amor consegue sobreviver a tudo isso.

Se você gosta de uma aventura inteligente, de um romance juvenil que tem tudo para dar errado, mas que, mesmo assim, é cheio de momentos fofos e, por isso mesmo, causa um aperto no coração, de um mistério passível de solução por mentes normais, de personagens secundários cheios de referências e donos de atitudes que apoiam de forma convincente os principais, enfim, de um livro bem construído e que dá um prazer enorme ao término da leitura, não deixe de ler LOCK E MORI. É daqueles livros que não se pode deixar fora da estante.


AVALIAÇÃO:


AUTORA: Heather Petty
TRADUÇÃO: Regiane Winarski
EDITORA: Galera
PUBLICAÇÃO: 2017
PÁGINAS: 256


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