Para alguns, a tecnologia é o prenúncio do fim do mundo. Para outros, é apenas o começo de uma nova era. Renomado escritor de ficção científica, autor dos best-sellers Matéria escura e Recursão, Blake Crouch convidou grandes nomes da literatura contemporânea para traçar histórias audaciosas que mergulham nos desdobramentos que os avanços tecnológicos acarretam à humanidade.
De potência criativa memorável, os contos desta coletânea se pautam em temas diversos, como inteligência artificial, colonização de outros planetas, engenharia genética e programação, para nos fazer encarar o que há de mais brutal e profundamente humano em nós e em nossa sociedade. Imersos em tamanhos medos, paixões, sonhos e ambições, vem à tona a complexidade de se estabelecer limites e de realizar escolhas diante da busca pelo futuro que desejamos.
Em “Summer Frost”, Crouch traz uma trama marcante que desafia nossa noção de humanidade enquanto assistimos à obsessão de uma programadora de videogames por uma de suas personagens.Riley é uma desenvolvedora e descobre que uma parte do código de um jogo evoluiu para uma inteligência artificial. Fascinada, Riley isola a personagem do jogo, uma jovem chamada Max, que não era jogável, em uma espécie de ilha na nuvem, e inicia a transferência de dados de todo o conhecimento da humanidade em pequenos lotes, para poder acompanhar o que acontece. Aos poucos, Max vai além do que se esperava, cria uma personalidade, vontades, pensamentos, e algo muito semelhante a sentimentos. Riley começa a se apaixonar por Max. Mas Max chega em um patamar de consciência que ultrapassa a compreensão e mesmo os limites da emoção. Nesse ponto, o ser humano não é mais necessário e até mesmo o amor de Riley pode ser dispensável.
“Pele de emergência”, de N. K. Jemisin, explora a missão de um soldado em visita a uma Terra abandonada. Uma viagem potencialmente sem volta, mas pelos motivos mais inesperados. Para mim, foi o conto mais fraco, uma vez que se descobre de antemão que o final será o previsto e nada poderá ser mudado. Há uma tentativa de criar uma surpresa ao final, mas realmente não acontece. Na verdade, toda a narrativa é confusa e acaba dispersando a atenção.
Em “Arca”, Veronica Roth mostra o poder das lembranças, que, quando coletadas e reunidas, são capazes de revelar o passado e também ajudam a construir o futuro. A narrativa descreve os últimos dias do ser humano na terra. Os personagens rumam para o fim sem qualquer chance de salvação. Antes que o fatídico momento chegue, são as lembranças o único alento que encontram. É um conto triste, sem esperanças, que demonstra como somos seres finitos, como o universo, tão cheio de vida, inevitavelmente morre em algum momento.
Amor Towles surpreende em “Você chegou ao seu destino” ao mergulhar na manipulação genética quando um casal se vê diante da possibilidade de decidir a trajetória de seu futuro bebê. A apresentação das três possíveis vidas do filho que ainda não foi gerado, são apresentadas para Sam, o pai. A empresa exibe três pequenos filmes, produzidos com atores para ilustrarem como seria a vida dessas crianças, do nascimento até os cinquenta anos. Três destinos que possuem pontos em comum, mas que terminam de maneiras bem diferentes, com consequências boas e outras nem tanto. É um conto que nos faz pensar sobre como a vida pode não ser totalmente aleatória, que muitas coisas podem estar definidas assim que nascemos.
“A última conversa”, de Paul Tremblay, é uma narrativa repleta de suspense que nos faz questionar os limites da consciência e de nossa identidade. No conto, o personagem principal fica sem nome a maior parte do tempo. Ele acorda sem memória e sem noção do espaço ou do tempo. Aos poucos, uma mulher começa a ajudá-lo a compreender o que aconteceu e quem ele é. Essa descoberta chega a ser terrível, bem como as ações que essa mulher fez. É um conto forte, um dos melhores do livro, que demonstra como a solidão pode ser terrível, e como uma pessoa pode fazer qualquer coisa mudar sua situação.
Já “Randomizando”, de Andy Weir, fecha a obra com uma história eletrizante envolvendo cassinos, hackers e computação quântica. É o conto mais simples e mais descompromissado. É uma aventura ágil, com algumas reviravoltas, que brincam com o leitor.
Eu não sou fã de contos, mas preciso confessar que FORWARD é uma coletânea de ficção-científica muito bem conduzida, com histórias curtas bem construídas, que entusiasmam e fazem pensar. Fazem pensar bastante! E isso é o que uma ficção-científica de qualidade consegue fazer.
AUTORES: Blake Crouch, N. K. Jemisin, Veronica Roth, Amor Towles, Paul Tremblay e Andy Weir
TRADUÇÃO: Braulio Tavares
EDITORA: Intrínseca
PUBLICAÇÃO: 2021
PÁGINAS: 304
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