Aos 35 anos, Nora Seed é uma mulher cheia de talentos e poucas conquistas. Arrependida das escolhas que fez no passado, ela vive se perguntando o que poderia ter acontecido caso tivesse vivido de maneira diferente. Após ser demitida, seu gato ser atropelado, sem um relacionamento afetivo, os pais falecidos, longe da melhor amiga, com uma relação conturbada com o irmão, Nora vê pouco sentido em sua existência e decide colocar um ponto final em tudo.

Mas enquanto está entre a vida e a morte, Nora vai parar em um lugar impossível de existir, uma biblioteca parada no tempo, exatamente à meia-noite, onde as prateleiras guardam infinitos livros, cada um deles, uma vida diferente baseada em diferentes escolhas que Nora poderia ter feito. A bibliotecária desse lugar, oferece uma oportunidade para Nora: escolher um livro e tentar essa nova vida. Se não for a vida que ela deseja, ela pode retornar à biblioteca e tentar um livro diferente. Se for uma vida em que ela se sente feliz, então ela poderá ficar e assumir a nova realidade.

Só que para cada livro, para cada escolha diferente, Nora descobre consequências diferentes. Algumas piores para ela, outras melhores. Algumas piores para as pessoas que fazem parte de sua vida, outras melhores. Nessa jornada, Nora tem a chance de compreender a real importância dos arrependimentos, que cada ação nossa, reverbera numa consequência, para nós e para os outros. E que nem sempre precisamos acertar nas escolhas, mas saber viver com elas e aproveitar ao máximo aquilo que elas nos proporcionam.

A BIBLIOTECA DA MEIA-NOITE é uma história de possibilidades. É difícil o leitor não criar uma empatia com Nora, porque todos nós, em maior quantidade ou menor quantidade, temos nossas doses de arrependimentos. A narrativa é recheada de metáforas, como quando Nora pega o único livro que tem uma capa de cor diferente, o livro dos arrependimentos. Ele é grosso, pesado. Os capítulos começam curtos, com poucos arrependimentos, e conforme eles avançam, um capítulo para cada ano de vida, eles se tornam mais extensos, com mais páginas, com mais arrependimentos.

E nossa vida é cheia desses capítulos, que na maioria das vezes, vão aumentando, porque a maioria de nós, não consegue resolver esses arrependimentos. E se não são resolvidos, eles ficam para sempre em nossas memórias, naquele canto da consciência que sempre se pergunta o que seria de nós se tivéssemos feito algo de forma diferente, se pudéssemos voltar ao passado e tomar um rumo diferente, fazer algo diferente. Não temos respostas para isso, porque a vida não é um jogo onde podemos recomeçar as fases.

É sobre essa impossibilidade que A BIBLIOTECA DA MEIA-NOITE deseja conversar. Nora tem a chance de testemunhar como sua vida seria com escolhas diferentes. Ela descobre que não existe vida perfeita, não existe felicidade plena, porque nada é pleno. Mas existe, sim, possibilidades, existem momentos felizes, momentos de realização, momentos que conseguem superar todos os que não foram assim tão bons. Nós damos muita importância para nossos erros, quando deveríamos nos preocupar em reconhecê-los, em aprender com eles, e abrir mão daquilo que não conseguimos.

Conforme Nora descobre que suas escolhas erradas, se tivessem sido certas, em algum outro momento, ela voltaria a errar, Nora compreende que a vida é exatamente isso, um conjunto de acertos e erros, que nós somos o resultado de tudo o que é bom e mau. O importante é saber viver com isso, é ter consciência de que enquanto estivermos vivos, podemos tentar e tentar e tentar, até que inevitavelmente, em algum momento, iremos acertar. A dor que sentimos nesse processo, é a dor do conhecimento, da sabedoria.

Nora é uma personagem que nos representa, enquanto a bibliotecária, que usa a aparência da sra. Elm, uma mulher já de idade que realmente foi bibliotecária no colégio de Nora, na infância, representa nossa consciência, nossa sabedoria para encontrar novos caminhos. As conversas das duas são cheias de significado, de duplos sentidos, e são a parte do livro que esclarecem as páginas anteriores, quando Nora experimentou alguma outra versão de sua vida.

A BIBLIOTECA DA MEIA-NOITE é um livro magnífico, profundo, que tem a forte mensagem de que não existem caminhos sem saída, que todos nós temos alternativas, por mais que pensemos que não. Se você está deprimido, se acha que sua vida nunca vai melhorar, que não tem amigos, que seus pais não compreendem você, qualquer que seja o problema, acredite, existe uma saída onde você está vivo e pode encontrar alguma felicidade. Tenha calma, procure ajuda, profissional ou não, não desista, porque a vida é isso, um leque gigante de oportunidades, em um mundo lotado de pessoas, e em algum lugar, tenha a certeza de que existe alguém que pode ajudar você e te mostrar uma saída, assim como a sra. Elm fez com Nora. Acredite, procure, não desista!


AUTOR: Matt HAIG
TRADUÇÃO: Adriana FIDALGO
EDITORA: Bertrand
PUBLICAÇÃO: 308
PÁGINAS: 2021


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