A QUÍMICA QUE HÁ ENTRE NÓS é angustiante do início ao fim. É a própria dualidade entre o belo e o feio, entre o certo e o errado, numa narrativa com citações e referências de filmes que vão desde TITANIC a HARRY POTTER, mescladas com pitadas de discussões LGBT, abordagens científicas, filosóficas e outras em paralelo. A história toda tem uma narrativa fluida, uma metáfora entre os peixes que se complementam, e personagens divertidíssimos, que ajudam a trazer uma leveza à história em meio a tantas emoções.

Grace Town é esquisita. E não é apenas por suas roupas masculinas, seu desleixo e a bengala que usa para andar. Ela também age de modo estranho: não quer se enturmar com ninguém e faz perguntas nada comuns. Mas, por algum motivo inexplicável, Henry Page gosta muito dela. E cada vez mais ele quer estar por perto e viver esse sentimento que não sabe definir. Só que quanto mais próximos eles ficam, mais os segredos de Grace parecem obscuros. Mesmo que pareça um romance fadado ao fracasso, Henry insiste em mergulhar nesse universo misterioso, do qual nunca poderia sair o mesmo. Com o tempo, fica claro para ele que o amor é uma grande confusão, mas uma confusão que ele quer desesperadamente viver.

A QUÍMICA QUE HÁ ENTRE NÓS é uma história que representa bem o que é ser fisgado numa relação conflituosa em que ambos estão presos entre si, mas que na verdade encontram-se apaixonados pela ideia que criaram um do outro. Ao longo de toda a história, percebe-se uma tentativa de Henry para que Grace chegue a uma superação do luto, porém ele tenta construir e guiar essa superação com base na sua própria versão idealizada dela. Há trechos marcantes em todas as partes, que acaba se tornando um retrato do quão fluida é a nossa capacidade de amar diante de uma perda. A autora descreve com bastante lucidez que nem sempre estamos prontos para nos aventurar em uma nova jornada, e que isso pode ser doloroso, ao mesmo tempo que mostra que também pode haver um arco íris após a tempestade. É o próprio Yin-Yang.

E por falar em citações orientais, uma das discussões mais interessantes é a que fazem sobre o kintsugi (que basicamente significa, mais bonito por ter sido quebrado). Ele seria claramente uma das portas para romantizar toda a situação entre Henry e Grace, e isso foi um fator que me trouxe angústia do início ao fim. Isso porque o desenrolar da história dos dois cria um clima pesado, quase que tóxico, em que um “viveram felizes para sempre” muito provavelmente não representaria a realidade. Porém a autora conseguiu incorporar em Grace uma personagem, que mesmo tendo todas as fragilidades devido às suas experiências passadas, foi “sóbria” o suficiente para entender que ela não era a versão idealizada por Henry. Grace aparentava entender que tinha sim sua história e estava tentando enfrentá-la (à sua maneira) e não seria um estalar de dedos ou um conjunto de metáforas que iriam melhorar a forma que ela se sentia com relação à isso, e sim, o seu próprio passo inicial numa tentativa de superar e ressignificar seu passado.

Mas, e então, é uma história de amor ou uma tragédia? É uma história de amor, que mostra quando ele ocorre “com as pessoas certas (talvez) no momento errado (com certeza)”. E sim, não temos um final padrão clichê em que ambos se casaram e viveram felizes para sempre, mas temos um final coerente em que ambos saíram aparentemente mais maduros e dispostos a aprender, sem a necessidade de ofender um ao outro. É uma história que mostra a importância de se estar bem consigo antes de buscar outras relações. Nesse caso então, seria uma narrativa de uma das facetas bastante comum do amor, que foge à ideia do amor romântico e perfeito, e vai de encontro ao amor em sua versão mais nua e crua, com cicatrizes em meio às curvas bonitas.


AUTORA: Krystal SUTHERLAND
TRADUÇÃO: Luisa GEISLER
EDITORA: Alt
PUBLICAÇÃO: 2017
PÁGINAS: 271


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