EM UM BAIRRO DE NOVA YORK

Os musicais estão de volta e 2021 pode ser o ano do resgate desse importante gênero que muitos amam e vários odeiam. A bola da vez se chama EM UM BAIRRO DE NOVA YORK, adaptação de uma famosa peça da Broadway, do mesmo criador do mega sucesso HAMILTON (resenha aqui). O plano de fundo é um pitoresco bairro latino no coração da maior metrópole do mundo e vamos acompanhar o dia a dia de seus moradores, que são cheios de sonhos e metas para alcançar.

O espectador tem vários personagens para acompanhar, mas quem nos guia é Usnavi, um jovem que é dono do seu próprio comércio. Ele mora com a sua avó e economiza cada centavo que ganha, pois a vida é dura e seu maior sonho e ir para um lugar melhor, talvez a sua terra natal, mas a insegurança e o medo o fazem agir com muita cautela. Junto dele temos os seus amigos e sonhos individuais que se misturam com essa calorosa vizinhança que não perde o sorriso do rosto nem nas maiores dificuldades.

A trama é uma daquelas com muitos personagens, sonhos individuais e afetos que acabam se unindo em algum ponto da história. Um musical na sua essência com diversas músicas sobre os mais variados temas, como por exemplo o que você faria se ganhasse na loteria. Tal cena em especial é um dos pontos altos do filme, que acontece num grande parque aquático, efeitos visuais mirabolantes e uma centena de personagens dançando na maior sincronia possível. O filme também aborda várias inseguranças individuais, desde medo de ir para o desconhecido, abandono de um sonho ou até mesmo ir contra desejos da família. Uma identificação entre o personagem e o espectador pode acontecer nos momentos mais singelos e simples, pois cada uma das canções tem alma, não temos coisas gratuitas aqui.

A produção tem quase duas horas e meia de duração e a experiência, mesmo sendo leve e agradável, acaba pesando um pouco, pois nem todos os conflitos têm a mesma força, com discrepâncias grandes entre um e outro, fica difícil não fazer uma comparação mental. Outra coisa que joga contra o filme é a repetição, quase sempre os momentos musicais reúnem um grande elenco dançando na rua e o sentimento de repetição fica muito presente. O filme aposta pouco nos momentos individuais e pessoais, acaba que quando o filme fala de tudo ao mesmo tempo, talvez no final não estamos falando de nada.

Mas mesmo assim a produção é muito bonita visualmente e o ar urbano não sai do filme. Tudo é muito real e passível a identificação, pois a trama quase nunca vai para o lúdico. As canções quase sempre são animadas e contagiantes, com um refrão que fica na cabeça apos a exibição. Todas as coreografias são excelentes e sincronizadas com perfeição, o ensaio deve ter sido intenso e no final valeu muito a pena.

E para os fãs de HAMILTON, o filme reserva alguns “easter eggs” divertidos que se encaixam super bem nessa nova atmosfera. O elenco é majoritariamente latino e todos são muito talentosos, porém faltou uma maior representatividade negra e LGBT+, tais ausências fazem falta na produção.

No final o que temos é um filme leve e divertido, poderia ser menor e mais criativo, levando o filme para o ápice com todas as possibilidades que o cinema oferece. Preferiram apostar num terreno simples e seguro, que tá longe de ser ruim. Indicação certa para quem curte o gênero, da pra passar o tempo e se encantar com a energia desse bairro e seus habitantes.

Direção: Jon.M Chu
Distribuição: Warner
Duração: 2h23

DIREÇÃO: Jon M. CHU
DISTRIBUIÇÃO: Warner
DURAÇÃO: 2 horas e 23 minutos