Sabe quando vamos ler um livro que tenta trazer debates importantes, mas fica apenas em detalhes superficiais e não gera, de fato, uma problematização e solução do que se propõe? Definitivamente este livro não é MOXIE. MOXIE traz tudo o que as mulheres precisam: engajamento e empoderamento de uma forma muito leve e divertida. A história não foge ao clássico: adolescentes no ensino médio vivendo os “perrengues” dessa etapa de vida. Porém não fica presa a isso e é, inclusive, um dos pontos que me chamou a atenção. Se você deveria ler? Pra ontem!!!!!!

Vivian Carter está cansada. Cansada da direção da escola, que nunca acha que os jogadores do time de futebol estão errados. Cansada das regras de vestuário machistas, do assédio nos corredores e dos comentários babacas dos caras durante a aula. Mas, acima de tudo, Viv está cansada de sempre seguir as regras. A mãe de Viv era dura na queda, integrante das Riot Grrrls nos anos 90. Inspirada por essas histórias, Viv pega uma página do passado da mãe e cria um fanzine feminista que distribui anonimamente para as colegas da escola. É só um jeito de desabafar, mas as garotas reagem. Logo Viv está fazendo amizade com meninas com quem nunca imaginou se relacionar. E então ela percebe que o que começou não é nada menos que uma revolução feminista no colégio.

Vivian, uma aluna como outra qualquer, lança um jornal na escola. Ela não era popular, mas também não sofria com isso porque tinha um círculo de amigos que a deixava confortável (o que já é ótimo porque estamos todos exaustos das histórias em que o principal problema é o protagonista não estar no grupo dos populares né?). Pois é, então, primeiro ponto positivo está na mão e vamos lá! Poderia ser só mais um folheto que circulava, dentre os outros milhares na escola. Mas não, aquele jornal carregava um valor e importância imensa do ponto de vista social e do ponto de vista pessoal, porque representava um passo contra o silêncio que, há muito tempo, não apenas ela vinha guardando. Na verdade, Vivian estava farta de ser apenas mais uma pessoa incomodada com as atitudes machistas dos colegas, que quase nunca sofriam retaliações. Então, de forma anônima, ela inicia esse movimento de empoderamento feminino, inspirada no que ela encontra nas caixas de recordação dos tempos de juventude de uma de suas maiores inspirações feministas: nada mais, nada menos, do que sua mãe.

Apesar de trazer os debates de forma leve e jovem, vemos a preocupação da personagem em fazer com que as ideias e propostas que surgem promovam mudanças reais. E é interessante ver o nascimento desse lado feminista em Vivian, porque, no começo, essas ideias que ela tinha são questionadas quanto ao seu impacto efetivo. E a história mostra realmente esse processo de construção, carregado de vezes que Vivian acerta muito no conceito, mas também as situações em que cometemos os famosos exageros de quem está começando a entender um universo completamente diferente. Essa naturalidade em trazer que nem sempre estaremos certos, apesar de termos, sim, as melhores intenções, é muito importante porque nos mostra que não precisamos ser invencíveis no que nos propomos a fazer, mas precisamos estar apoiados em pessoas que nos ajudem a guiar essas ideias e projetos. E é fundamental, porque reafirma que o caminho nunca será perfeito e sem obstáculos, mas que vale a pena, apesar deles, e que há sempre um propósito muito maior a frente.

Esse movimento começa com coisas simples, como desenhos na mão para simbolizar o combate ao machismo claro, que Vivian e as colegas presenciam diariamente. E então surge o questionamento: e daí? Vamos apenas parar por aqui? E é emocionante ver surgir das conversas banais as ideias que irão revolucionar e, efetivamente, dar forma e engrandecer um movimento IN-CRÍ-VEL e muito essencial dentro das escolas: MOXIE.

Outro aspecto muitíssimo bem trabalhado no livro é a sororidade (de modo geral, o fato de uma mulher estar ali pela outra), porque a protagonista começa ainda muito crua em como agir, como pensar, como de fato melhorar o lugar em que vive. Isso muda à medida que outras meninas entram na história e realmente começam a construir essa imagem de “que ambiente eu quero que este espaço seja?” ou “ele vai mesmo me representar?” e passam a realmente protagonizar essas mudanças. Isso é, em boa parte, porque o movimento não tem uma líder e, assim, elas constroem esse grupo de forma bastante horizontal. Isso é ótimo,  vemos que cada um de nós pode agregar um aspecto muito particular ao feminismo. Além disso, apesar de ser um movimento de mulheres, MOXIE não as coloca em um grupo único com necessidades fixas. Prova disso é que algumas precisavam ter mais o direito de ser ouvidas, outras de não serem criticadas quanto ao modo de se vestir, outras sobre situações mais complicadas como a violência sexual.

A obra virou filme na Netflix, inclusive corram lá para conferir também! É um livro incrível e que vai deixar todo mundo que já passou pela fase de realmente começar a falar sobre questões importantes da vida das mulheres com saudade (dos erros e dos acertos, acredite não tem como não se identificar). E pra quem tá começando agora, é um jeitinho muito gostoso de começar a viver esse mundo IMPORTANTÍSSIMO em que mulheres falam e são realmente ouvidas. E quem sabe surjam mais MOXIE’s nas escolas por aí?


AUTOR: Jennifer MATHIEU
TRADUÇÃO: Ana GUADALUPE
EDITORA: Verus
PUBLICAÇÃO: 2018
PÁGINAS: 287


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