Cinco alunos entram em detenção na escola e apenas quatro saem com vida. Todos são suspeitos e cada um tem algo a esconder. Numa tarde de segunda-feira, cinco estudantes do colégio Bayview entram na sala de detenção: Bronwyn, a gênia, comprometida a estudar em Yale, nunca quebra as regras. Addy, a bela, a perfeita definição da princesa do baile de primavera. Nate, o criminoso, já em liberdade condicional por tráfico de drogas. Cooper, o atleta, astro do time de beisebol. E Simon, o pária, criador do mais famoso app de fofocas da escola. Só que Simon não consegue ir embora. Antes do fim da detenção, ele está morto. E, de acordo com os investigadores, a sua morte não foi acidental. Na segunda, ele morreu. Mas na terça, planejava postar fofocas bem quentes sobre os companheiros de detenção. O que faz os quatro serem suspeitos do seu assassinato. Ou são eles as vítimas perfeitas de um assassino que continua à solta? Todo mundo tem segredos, certo? O que realmente importa é até onde você iria para proteger os seus.

UM DE NÓS ESTÁ MENTINDO toca em assuntos importantes para jovens em formação de personalidade, caráter e educação. Karen McManus traz bullying, depressão, traição, homofobia, preconceito, abuso, indiferença, superficialidade, pais desajustados, drogas, corrupção, enfim, uma série de tópicos que precisam ser discutidos para que se compreenda como eles podem afetar de forma temporária ou permanente uma criança ou um adolescente.

Entretanto, McManus não evolui nenhum desses tópicos. Todos esses assuntos fazem parte da história, aparecem em um ou outro momento, em alguns muito importantes, mas apenas como força motora para que a narrativa evolua. Ou seja, não existe uma real discussão sobre eles, não existe aquele aprendizado. Eles simplesmente são jogados para, em seguida, serem abandonados. Isso é um problema, uma vez que é deixado para o jovem leitor interpretar o que está lendo e chegar, por ele só, a uma conclusão. A maioria dos jovens que estejam passando por problemas semelhantes, irão apenas se identificar com os problemas, mas não terão um direcionamento para o que seria possível fazer para resolve-los.

A narrativa é feita em primeira pessoa pelos quatro personagens principais: Bronwyn, a menina que usa óculos, é inteligente e estudiosa, que só tira notas altas e é apaixonada pelo mau elemento da sala; Cooper, o atleta, jogador de futebol americano, com um físico que atrai a maioria das garotas; Addy, a menina bonita, rica, que sempre está bem vestida e maquiada, que namora o garoto mais bonito da escola e que vive cercada por outras garotas que só querem aproveitar a influência; e Nate, o mau elemento, o pária, o garoto que tem uma família desajustada, que bebe álcool e vende drogas. Temos, também, Simon, o garoto que morre, que é fofoqueiro e que ganha destaque e temor pelas notícias que solta sobre todos os estudantes do colégio em um aplicativo de celular. Mas dele, não conhecemos qualquer pensamento, além do que os quatro personagens contam. Sim, são todos estereótipos, mas, vamos ser sinceros, isso não chega a ser um problema, já que as escolas são, realmente, cheias desses estereótipos, e eles, de certa forma, representam a maioria dos problemas que os jovens enfrentam nessa idade.

Infelizmente, apesar da diferença de personalidade e comportamento de cada personagem, não existe nada que os diferencie na voz da narrativa. Se não fosse o nome de cada um deles no início de cada capítulo, ficaria difícil para o leitor identificar quem está narrando. Alguns autores utilizam artifícios para conseguirem fazer isso, como uma mudança na linguagem, o uso de hipérboles, gírias, troca da fonte de letra, palavrões, enfim, quaisquer características presentes em quatro jovens tão distintos que facilitassem ao leitor identificar, de forma natural, quem está narrando a história naquele momento. Foi algo de que senti falta.

Quando ao mistério, sobre quem matou Simon, ele é bastante simples de resolver. Inclusive, na metade do livro, é passada uma informação que deixa explícito quem é o assassino. Isso tira um pouco da ansiedade da leitura. A outra metade do livro, o leitor acompanha apenas a solução dos dramas de cada personagem, até que os mesmos consigam descobrir o assassino.

Embora a autora utilize problemas graves para compor sua narrativa sem os desenvolver, ela acerta quando coloca os personagens em interrogatórios da polícia confessando suas falhas, coisas questionáveis que fizeram e que os colocaram na lista de suspeitos do assassinato.  No livro, os motivos são apresentados aos jovens pela polícia de forma independente e sigilosa, e nenhum deles é suficiente para comprovação do crime. Mesmo assim, movidos pela culpa que sentem por esconderem esses motivos, e sem necessidade os revelarem, eles revelam, para resolver e para mostrar um amadurecimento de caráter.

UM DE NÓS ESTÁ MENTINDO não é um bom livro de mistério, mas é um bom livro de drama adolescente, que, por um lado, peca na superficialidade, mas por outro lado, acerta no amadurecimento e na mensagem de que todos erram, mas nem todos reconhecem que erraram. E quando se reconhece, a pessoa ganha paz e cresce no caráter.


AUTORA: Karen M. MCMANUS
TRADUÇÃO: André GORDIRRO
EDITORA: Galera
PUBLICAÇÃO: 2018
PÁGINAS: 384


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