Depois de algumas semanas, a segunda parte do filme O INFERNO DE GABRIEL já está disponível. Dessa vez o relacionamento do casal será testado, será que eles querem a mesma coisa e estão dispostos a perdoar um ao outro? Vamos descobrir.

Trata-se da crítica da segunda parte do filme, que terá três no total, logo o texto pode conter spoilers da parte um, cuja análise você pode ler aqui.

O filme se inicia exatamente de onde o anterior terminou, com Julia indo embora depois de ser tratada com rispidez por Gabriel, que não se lembra de nada da noite anterior. Nessa tal noite, ele ficou totalmente embriagado e Julia teve que o socorrer. Durante esse meio tempo, ele se mostra uma pessoa extremamente carinhosa e meiga, fazendo Julia se lembrar daquele rapaz problemático que ela conheceu num pomar de maças. Mas na manha seguinte, ele não se lembra de nada e, ainda por cima, grita com a moça, dizendo que eles não podem ter nada, pois isso bota em risco a posição dele na faculdade. Só que dessa vez, Julia rebate e não deixa barato, e depois dessa reprimida, Gabriel se lembra da noite e, para ele, só resta agora tentar conquistar a moça mais uma vez. Mas será que ela ainda quer? Será que ele merece a companhia da jovem?

A trama segue Julia tentando voltar a viver sem Gabriel, porém agora a moça não aguenta tudo calada e chega até ao ponto de eles brigarem na frente de todos. Tudo nas entrelinhas, mas para qualquer um que prestar a atenção, os sinais estão presentes. Essa segunda parte sofre bastante com essa estranha divisão, onde serão três filmes de duas horas para adaptar apenas o primeiro livro dessa trilogia. A história levada para as telas não é tão densa ao ponto de necessitar de uma divisão dessas, era melhor ter desenvolvido uma serie de TV, o formato seria bem apropriado, já que o objetivo aqui é ser o mais fiel o possível ao livro original. Mas como o projeto é vendido como um filme, vamos tratar ele como um filme.

O roteiro é o mesmo usado na primeira parte, a divisão se faz a partir da edição e isso fica claro porque o filme não tem uma estrutura de início, meio e fim. Ele não consegue existir sozinho, ter pelo menos um pouco de independência, ele necessita e copia exatamente tudo que tinha na primeira parte. Até mesmo a abertura do filme é a mesma, dando mais uma vez a sensação de que O INFERNO DE GABRIEL deveria ter sido adaptado como série e não como filme. A direção continua pecando na inércia, as cenas são praticamente iguais, os personagens estão sentados, conversando, comendo ou apenas pensando. E isso se repete durante toda a projeção, pouquíssimos cenários são usados e a geografia do filme é muito esquisita, tudo parece acontecer no mesmo lugar.

O roteiro não é eficaz ao trabalhar esse rompimento de relação dos personagens, no começo eles estão separados e precisam viver o tempo que tem sozinhos, mas esse período é curto demais e a reconciliação acontece quase que de imediato. Em seguida temos uma intensa lavação de roupa suja com um jogando na cara do outro coisas que lhe incomodam, isso até é interessante e enriquece o personagem, mas ver só isso durante quase duas horas é bem difícil. Os personagens coadjuvantes não têm espaço e quase não aparecem, diferente do primeiro filme, que usava muito bem todo o elenco de apoio para criar uma narrativa coesa que mexe com muitas pessoas.

Os protagonistas continuam dominando bem seus personagens. Julia, vivida pela atriz Melanie Zanetti, consegue sair mais da zona de conforto e deixa de ser apenas uma mosca morta. Agora ela trabalha melhor seus sentimentos, ela o confronta e principalmente confronta Gabriel, em especial numa aula na frente de todos, de longe a melhor cena do longa. Já Giulio Berruti, na pele de Gabriel, ainda continua esnobe, ranzinza e desagradável. Aqui ele está uns dez porcento menos nojento, agora que segredos do seu passado começam a vir à toma. Ainda não da pra passar pano pra ele, mas pelo menos o seu personagem está começando a deixar de ser unidimensional.

Tecnicamente o filme pedia uma edição melhor para ministrar o ritmo com mais agilidade e faltou também uma trilha sonora para conduzir as emoções. São diversas as cenas em que o silêncio constrangedor paira, faltou visão e faltou originalidade. A trama avança bem pouco e novamente parece que tudo está sendo guardado para essa terceira parte que promete demais, ela talvez salve esse projeto, mas como experiencia individual, essa segunda parte precisava de mais corpo e conteúdo.

A terceira parte está programada para o final de 2020, provavelmente em novembro, sem data oficial até agora. Mas ela irá sair, junto com mais dois longas que irão adaptar os outros dois livros dessa trilogia. Tanto a parte um e a dois estão disponíveis no Passionflix, uma plataforma de streaming online americana, onde é possível assinar sem ter cartão de credito internacional, a partir do PayPal e os conteúdos tem legendas em português brasileiro.


DIREÇÃO: Tosca MUSK
DISTRIBUIÇÃO: Passionflix
DURAÇÃO: 1 hora e 45 minutos
ELENCO: Giulio BERRUTI, Melanie ZANETTI