Consegue imaginar viver uma vida onde você perde as memórias na mesma rapidez que as vive? Em A ÚNICA MEMÓRIA DE FLORA BANKS, acompanhamos uma desventura que não é novidade no mundo literário e no cinema. Mas um toque especial presente no livro, fará a experiência ser extremamente única. Bora mergulhar nessa trama?

Flora é uma menina de dezessete anos, inglesa, que sofre de um distúrbio cerebral, onde a mesma não consegue reter informações recentes. Ela aprende, fala ou experimenta algo e logo em seguida esquece tudo. Porém, as coisas mudam quando ao ir numa festa e beijar um menino, Flora não perde essa memória, ela se lembra do beijo, se lembra da sensação e de quem a beijou. O nome do menino é Drake, atual namorado de Paige, única amiga que Flora tem; e ao contar isso para Paige, Flora não entende o porquê de sua amiga receber a informação tão negativamente. Os dias se passam e Flora ainda lembra do beijo, mas suas expectativas vão por água abaixo porque Drake está indo embora, o menino partiu para o Polo Norte, com o intuito de estudar satélites no gelo. Quem também está indo embora são os pais superprotetores de Flora, os mesmos partem para a França para cuidar de Jacob, irmão mais velho de Flora que está muito doente. Para os pais de Flora, ela vai ficar em casa com Paige, cuidando da mesma, porém as meninas não estão mais se falando, logo Flora vai ficar em casa sozinha pela primeira vez.

E Flora ainda lembra do beijo, a menina se agarra a essa memória com uma força surreal, acreditando até seu último fio de cabelo que ama Drake e que precisa encontrá-lo, pois um novo beijo vai libertar Flora da prisão do esquecimento. E não demora muito para Flora partir sozinha para o Polo Norte, com o intuito de encontrar seu grande amor, que convidou a mesma para visitá-lo depois de ficarem uns dias trocando e-mails. E é com essa trama que a autora Emliy Barr consegue enlouquecer o pobre leitor que tiver esse livro em mãos.

A trama é apresentada com rapidez, começa na bendita festa onde ocorre o beijo, em seguida o leitor passa a conhecer quem é essa menina chamada Flora. A partir dos seus pensamentos, entendemos a sua deficiência e como ela vive. Flora precisa sempre andar com um caderno onde tem sua história de vida, ela precisa ler ele todos os dias, para entender quem é onde está. Ela precisa sempre anotar as coisas em pequenos papéis para não esquecer de nada; e junto com tudo isso, ela ainda tem uma pequena tatuagem no braço que diz “seja corajosa”, palavras que a motivam todos os dias. A protagonista é doce e gentil, uma alma que precisa de cuidados e espaço. Porém o leitor é jogado numa intensa trama que, inicialmente, só nos mostra negligência atrás de negligência com uma pessoa que precisa muito de ajuda.

É muito difícil se conectar com a trama. pois assim como Flora precisa sempre redescobrir as coisas que acabou de viver, a narrativa instala a mesma sensação no leitor, que vê a história se desenvolver como um círculo que sempre começa e termina no mesmo lugar. Ao mesmo tempo em que isso é irritante, com o tempo se prova o grande trunfo do livro, pois o leitor, assim como Flora, se sente desorientado, sempre precisando lembrar o que está fazendo. No começo seguimos o dia-a-dia de Flora sozinha em casa, totalmente negligenciada, e depois temos que seguir a coitada num surto chamado Drake.

A viagem para o Polo Norte é uma agonia, pois sabemos que não vai acabar bem e que tudo pode e provavelmente dará errado. Então ler os pensamentos de Flora sobre como está feliz por conseguir ir nesta viagem e em como ela está perto do seu grande amor é uma tortura sem fim. Flora é uma personagem gentil e meiga, a sensação de que algo ruim pode acontecer com a mesma é horrível. Toda pessoa estranha que se aproxima dela é uma possível ameaça e o pior é que ninguém da sua família sabe onde Flora está. Então mesmo que essa trama pareça simples e convencional, o sentimento que ela passa é muito forte e incômodo, você só quer que tudo pare, que alguém interfira e salve a menina, que qualquer um faça algo ou que tudo acabe.

Durante a viagem fica visível o quanto Flora evoluiu, conseguindo de fato chegar em seu destino e fazer novas amizades. Mas nada é o que parece e a grande virada na trama vem com muita emoção. Na hora das revelações, a autora constrói um desfecho interessante e real. Tudo ali poderia acontecer com qualquer um de nós. Até mesmo personagens pequenos recebem destaque na conclusão, que no início parece ser trágica, mas que abre caminho para um novo começo.

No fim nós temos um livro que parece inofensivo, mas que se prova impactante, pois os desafios a cada novo capítulo, instigam o leitor a ir com Flora até o fim. Para mim, a ficha que diz se eu gostei ou não, só caiu no final. Porém só de relembrar o quão foi incômodo e desesperador, ler sobre essa menina indefesa jogada ao mundo, eu tive a certeza de que A ÚNICA MEMÓRIA DE FLORA BANKS é uma obra que me fisgou e vai fisgar a todos, pois não sentir compaixão por Flora é impossível.


AUTORA: Emily BARR
TRADUÇÃO: Débora ISIDORO
EDITORA: Verus
PUBLICAÇÃO: 2020
PÁGINAS: 280


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