Quem diria que um remake, baseado num livro clássico de 1897, conseguiria conversar tão bem com os dias atuais que estamos vivendo. O HOMEM INVISÍVEL é um dos poucos filmes que conseguiram estrear em 2020 antes do caos do Coronavírus e dos fechamentos dos cinemas. Felizmente deu tempo para ele ser um sucesso de bilheteria e agora ele já está disponível para se assistir online, já adianto que vale muito a pena ser conferido, bora descobrir mais?

O filme acompanha a jornada de uma mulher que vive em um relacionamento abusivo. O cara é rico, charmoso, poderoso e um monstro. Depois de uma fuga pra lá de arriscada, a mulher consegue se livrar desse homem e logo recebe a notícia de que ele aparentemente se suicidou. Os dias se passam e ela tenta recomeçar a sua vida, e tudo parecia ir bem, até que ela começa a sentir uma estranha presença em sua volta, ela se sente vigiada e tudo explode quando ela começa a se sentir tocada. Com a certeza de que de alguma forma seu ex voltou para a atormentá-la, a mulher luta para fazer as pessoas ao seu redor acreditarem nela.

A violência doméstica presente hoje na vida de várias mulheres é algo que o filme trabalha em primeiro plano, fugindo completamente do convencional. A gente sabe que a moça está sofrendo e vivendo um inferno, mas no prelúdio não existem cenas desnecessárias mostrando o início da violência. O roteiro é eficiente o bastante para se iniciar logo numa eletrizante cena de fuga, onde a mulher se prepara para ir embora, enquanto o homem dorme. Só pelo olhar da personagem e o estado emocional que a atriz imprime para a tela, o espectador já entende o perigo e automaticamente se coloca em prontidão para torcer e defender essa personagem que deseja cima de tudo ser livre.

O homem é rico e um gênio da tecnologia e a forma que o mesmo encontra para ficar invisível e atormentar sua antiga companheira é sensacional. Uma solução de roteiro bastante crível, algo que mesmo sendo inacreditável, não foge 100% da nossa realidade. A forma que o homem age é um puro e simples “Gaslighting”, termo em inglês que nomeia uma forma de tortura psicológica em que uma pessoa faz de tudo para a outra parecer louca. Afinal quem vai acreditar na mulher que olha para o nada e diz que tem alguém ali? É uma manipulação que acontece demais na vida real, de outras maneiras, que sempre levam a vítima para o mesmo lugar, o total isolamento onde ninguém está ao seu lado.

No filme, a personagem é mais que apenas seguida e observada, a violência continua, ela sabe, mas não consegue provar para ninguém, levando-a até mesmo para um hospício, onde mais uma vez ela não terá paz. É uma forma muito dolorosa de medo em que a personagem sabe que nunca estará livre, um medo que exemplifica muito bem o dia-a-dia de mulheres que temem seus parceiros violentos. Além de ser um suspense de terror, a trama tem uma mensagem tão forte que logo o filme se torna um dos mais necessários dos últimos tempos. Por ser um grande filme, voltado para o grande público, o projeto acerta em cheio no tom e nunca parece exagerado. Entretém, arrepia, assusta e passa uma mensagem importantíssima.

A estrela do filme é a atriz Elizabeth Moss, a mesma de THE HANDMAID’S TALE, e aqui a atriz prova mais uma vez que é uma das melhores em atividade. O medo está no seu olhar, o trauma a persegue e sua postura mostra muito bem o espírito de uma mulher que só quer ser livre, ser feliz de novo. É muito difícil acompanhar o declínio da personagem através da atriz, que entrega um desempenho exemplar, extremamente acima do nível que geralmente encontramos em filmes desse tipo. O resto do elenco é extremamente competente e completam o filme de maneira magistral, até mesmo o ator que vive o homem invisível, que obviamente aparece pouco ou quase nada, mas acredite, ele consegue ser bom até mesmo invisível.

O único deslize do filme é seu ato final que entrega uma incrível cena de ajuste de contas, uma interessante reviravolta, mas que não encerram a trama. Logo depois do grande clímax, do ápice, o filme esfria, inicia novamente um pequeno arco, esquenta de novo e depois acaba. Essa quebra de energia pesa e mesmo que esse novo arco seja bastante satisfatório, poderia ser inserido melhor dentro do filme.

Mas esse pequeno deslize não atrapalha o longa que, além de tudo isso, consegue ter uma trilha sonora que não cansa de deixar o espectador tenso, cenários belíssimos e efeitos visuais mais que competentes. Um trabalho lindo e completo que quando se inicia, acaba e o espectador nem percebe o tempo passando. Filmaço que merece ser conferido e comentado!


DIREÇÃO: Leigh WHANNELL
DISTRIBUIÇÃO: Universal
DURAÇÃO: 2 horas e 5 minutos
ELENCO: Elizabeth MOSS